O efeito de cães domésticos no padrão de atividade de pacas e cutias

Abstract

O cão doméstico (Canis familiaris) é uma espécie exótica que já contribuiu para a extinção de 11 espécies de vertebrados ao redor do mundo, e é considerado uma ameaça para cerca de outras 188. O aumento das populações dos cães domésticos têm levado a uma progressão de estudos em busca de informações sobre suas interações com mamíferos selvagens de vida livre. No entanto, no Brasil ainda há poucos estudos focados no impacto dos cães sobre mamíferos silvestres. Pacas e cutias estão entre as espécies afetadas pelos cães domésticos, tanto pela predação direta, como por alterações no comportamento, em função de perseguição. Assim, avaliei se os cães domésticos afetam o horário de atividade de pacas e cutias em diferentes Unidades de Conservação do estado de São Paulo e Rio de Janeiro. Comparei o horário de atividade de pacas e cutias com o de cães domésticos e de outras espécies, por meio de registros de armadilhas fotográficas instaladas no período de 2011 a 2021. Foi usado diferentes abordagens para avaliar como os cães afetam as atividades da paca e cutia: comparando padrões de atividade com estimativas de densidade de kernel, calculando taxas de atração-evitação e a atividade da paca nas fases lunares. Os resultados mostram que pacas e cutias mantiveram seus padrões de atividade típicos para a espécie. E não mostraram evitação em relação aos cães do que predadores naturais ou espécies não predadoras. Além disso, a atividade da paca e cutia não foi significativamente influenciada pela detecção de cães ou predadores naturais, e fatores como abundância de detecção de cães não afetaram a diferença de tempo entre as passagens das espécies após a detecção do cão. As pacas se mostraram mais ativa em luas de menor incidência lunar. Essa falta de resposta pode resultar em altos custos de energia para alterar os padrões de atividade para homeotérmicos; estratégias anti predação eficazes já usadas contra predadores nativos e cães evitando presas espacialmente em vez de temporalmente. Esse estudo é de extrema importância para compreender a ameaça de cães nas Unidades de Conservação bem como em um futuro planejamento de medidas de manejo e conservação para diversas espécies.

The domestic dog (Canis familiaris) is an exotic species that has already contributed to the extinction of 11 vertebrate species worldwide and is considered a threat to about 188 others. The increase in domestic dog populations has led to a growing body of studies seeking information about their interactions with wild free-living mammals. However, in Brazil, there are still few studies focusing on the impact of dogs on wild mammals. Pacas and agoutis are among the species affected by domestic dogs, both by direct predation and by changes in behavior due to persecution. Thus, I assessed whether domestic dogs affect the activity timing of pacas and agoutis in different Conservation Units in the states of São Paulo and Rio de Janeiro. I compared the activity timing of pacas and agoutis with that of domestic dogs and other species using camera trap records collected between 2011 and 2021. Different approaches were used to assess how dogs affect the activity patterns of pacas and agoutis: comparing activity patterns with kernel density estimates, calculating attraction-avoidance rates, and evaluating paca activity across lunar phases. The results show that pacas and agoutis maintained their typical activity patterns for the species and did not show avoidance of dogs compared to natural predators or non-predatory species. Additionally, the activity of pacas and agoutis was not significantly influenced by the detection of dogs or natural predators, and factors such as the abundance of dog detections did not affect the time difference between species’ passages after dog detection. Pacas were more active during phases of the moon with lower lunar illumination. This lack of response may result in high energy costs for altering activity patterns for homeotherms; anti-predation strategies already used against native predators and dogs avoid prey spatially rather than temporally. This study is of great importance for understanding the threat of dogs in Conservation Units as well as for future management and conservation planning for various species