Publicação:
Questões sobre ética e inocência do método

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Data

2024-12-01

Orientador

Coorientador

Pós-graduação

Curso de graduação

Título da Revista

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Editor

Fapesp
Anna blume
Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Tipo

Livro

Direito de acesso

Acesso abertoAcesso Aberto

Resumo

ste é um livro que desacredita nas fronteiras entre conheci-mentos. É escrito por personagens tão diversos quanto devem ser seus leitores — filósofos e antropólogos se misturam a tipos que passam dias a acompanhar células ou imagens do corpo que des-conhecemos como nossas. É um livro de ciências, mas também de humanidades. O tema é simples, embora inquietante: a imaginação sobre a pesquisa não é mais a mesma; há quem diga nas páginas seguintes que princípios éticos do passado precisariam ser revistos. A nova ordem de controle da vida, a biopolítica, exigiria também novas formas de codificar suas questões. Não estou tão segura de tamanha revisão da ética pelo novo governo da vida, mas sigo seus autores na importância de inclinarmos a torre que abriga os pensa-dores da ciência. A torre não é vertical e protegida, inclinou-se não sei bem quando e as forças foram tantas que não me arriscaria a listá-las. Nosso compromisso é agora sobreviver à tontura de quem admira uma paisagem sem horizonte firme em um piso torto que desorganiza estruturas. Objetividade foi criação dos fazedores de ciência do passado, mas ilusão dos seguidores no futuro. Imparcialidade também já foi revista como criação sem corpo, mas nem ela deixou de ser inscrita nos manuais como princípio e virtude dos fazedores de ciência. Não posso exagerar; os seguidores do método científico como único e verdadeiro ainda existem, e são muitos. Mas mesmo a torre deles não é mais vertical — se não se inclinou, como a nossa, ao menos sofre permanentes tremores ou é incomodada pelos gritos dos que vivem na vizinhança. Este é um livro escrito pelos vizinhos dos fazedores de ciência que habitam e acreditam na torre vertical do conhecimento — personagens que entendem a ciência como so-berana, pois produzida por métodos que não aceitam adjetivos. Os habitantes da torre inclinada não desacreditam na ciência, apenas duvidam de sua soberania e seus cercados. O que fazemos então como doutores em ciência sem a objetivi-dade, imparcialidade ou neutralidade do método? Usamos a imagi-nação para produzir conhecimento. Não abdicamos de métodos. Há regras de linguagem e produção do conhecimento, a isso chamamos de técnicas de pesquisa e critérios de validação de nossos resultados. Eles são múltiplos e variados, pois tolo é quem acredita nos cercados dos melhores métodos para todas as formas de imaginação. A varie-dade de métodos é rica para inclinar ainda mais a torre e facilitou a retirada do véu ingênuo que nos fazia acreditar na verdade pela ob-jetividade, imparcialidade ou neutralidade. Com menos pompa, eu ainda falaria em verdade no conhecimento como o uso da imagina-ção combinado ao domínio das regras do jogo. Repito: imaginação e regras do jogo, o que é diferente de iluminação e dogma. As regras do jogo oferecem confiabilidade ao texto, mas não garantem leitura. E o que importa para os escritores não é texto produzido, mas palavra circulada, sentida na solidão de novo pen-samento. Por isso, tão importante quanto confiança nos brinque-dos para o jogo é a imaginação de quem pensa e escreve ciência. É preciso ser confiável, mas também imaginativo. Essas verdades da imaginação e do jogo serão sempre provisórias, algumas delas esque-cidas tão logo pronunciadas, outras admiradas por longo tempo, ao ponto de serem assumidas como dogma. Quanto mais profundas e permanentes, mais merecedoras do título de verdade ganharão nos cercados dos fazedores de ciência. Este livro nos provoca a inclinar torres ou, quem sabe, a destruir alguns cercados; não importa que já habitemos uma torre sem jeito e com pouco conforto, ou mesmo fora de cercados, é preciso se deixar provocar. Os autores nos mos-tram como cultura, epistemologia e moral importam para olharmos a matéria dos fazedores de ciência — a vida e o corpo, e seus regimes de vigilância.A alegoria da torre foi pensada por Virginia Woolf no início do século vinte para explorar as transformações da ficção em lín-gua inglesa (WOOLF, 2014). A torre inclinada seria aquela em que habitavam os escritores depois da primeira guerra mundial, um ter-ritório ainda confortável para o pensamento, mas cujas certezas ha-viam sido provocadas pela mudança da paisagem assistida da cadeira do escritor diante da janela de sua torre. É das torres que olhamos para a vida humana: é desse território que se move a imaginação e as regras do jogo dos fazedores de ciência. Não temos a liberdade dos poetas, personagens singulares que prescindem da torre e das regras, os poucos que vivem a pura imaginação. Somos fazedores de ciên-cia, produtores de conhecimento sobre a vida humana. Os autores deste livro são vozes de torres inclinadas que buscam animar nossa coragem para imaginar.

Descrição

Idioma

Português

Como citar

ALBUQUERQUE, Leila Marrach Basto de; PUTTINI, Rodolfo Franco (org.). Questões sobre ética e inocência do método. São Paulo: Annablume: FAPESP, 2015. E-book (103 p.). ISBN 978-65-5067-062-7.

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