Energética alimentar em Rã-manteiga, Leptodactylus latrans (Anura, Leptodactylidae)

Abstract

O tamanho do alimento e a temperatura corpórea são dois fatores que reconhecidamente influenciam a resposta metabólica pós-prandial dos vertebrados ectotérmicos. Leptodactylus latrans é uma espécie generalista que consome desde invertebrados até pequenos vertebrados, de forma que sua dieta é composta por itens de tamanho variável, os quais sempre são ingeridos inteiros. A temperatura corpórea de L. latrans está sujeita a disponibilidade de nichos térmicos adequados nos ambientes onde ocorre, os quais são possivelmente explorados através da termorregulação comportamental. No presente estudo, nós avaliamos os efeitos do tamanho da presa e da temperatura corpórea sobre a resposta metabólica pós-prandial, em indivíduos adultos da rã-manteiga, Leptodactylus latrans (Anura, Leptodactylidae) através da quantificação das taxas de consumo de oxigênio antes e após a alimentação. A resposta metabólica pós-prandial de L. latrans pode ser caracterizada por um rápido aumento nas taxas de consumo de oxigênio logo após a ingestão do alimento, até atingir valores máximos entre 85,93 ± 9,92 e 224,54 ± 26,08 mLO2.kg-1. h-1, dentro de 1-2 dias. Após este pico, houve um retorno paulatino da taxa metabólica aos níveis de jejum entre 3 a 7 dias após a alimentação. De maneira geral, encontramos que a ingestão de presas maiores causa um maior incremento metabólico e aumenta a duração da digestão. Já o incremento da temperatura é acompanhado pela diminuição da duração da digestão às expensas de taxas metabólicas pós-prandiais mais elevadas. Tanto em um caso como no outro, não encontramos indicações de que fatores cardiorrespiratórios pudessem atuar na limitação do tamanho da presa ou na temperatura na qual a digestão pode ocorrer. No entanto, é plausível que outros fatores de cunho ecológico sejam relevantes na consideração dos efeitos do tamanho do alimento e da temperatura na digestão de L. latrans. Em especial, um maior retorno energético absoluto ao se alimentar de presas maiores e a diminuição do tempo de digestão em temperaturas mais elevadas, ambos aspectos documentados em L. latrans, podem representar benefícios ecológicos importantes.

Meal size and body temperature affect markedly the post-prandial metabolic response of ectothermics vertebrates. Leptodactylus latrans is a generalist anuran species feeding on diverse prey itens, from invertebrates to small vertebrates, with considerable size variation and that are always ingested whole. The body temperature of L. latrans is largely dependent of the availability of thermal niches in the environment, which are possibly explored by means of behavioral thermoregulation. In the present study, we investigated the effects of meal size and body temperature on the post-prandial metabolic response of adults of the Neotropical leptodatylid frog, Leptodactylus latrans (Anura, Leptodactylidae) by quantifying the rates of oxygen consumption before and after meal ingestion. The post-prandial metabolic response of L. latrans can be characterized by the rapid increase in the rates of oxygen consumption shortly after meal ingestion, until reach peak between 85,93 ± 9,92 e 224,54 ± 26,08 mLO2.kg-1. h-1, within 1-2 days post-feeding. Thereafter, metabolism gradually return to the pre-feeding values within 3 to 7 days post-feeding. In general, we found that the ingestion of larger meals were followed by greater metabolic increment and by longer digestion duration. Temperature increment caused digestion duration to decrease at the expenses of greater post-prandial metabolic rates. In both cases, we did not found evidences that cardiorespiratory compromises could limit meal size or the temperature in which meal digestion could occur. On the other hand, some ecological considerations seems to be relevant in considering the effects of meal size and body temperature on the digestion of L. latrans. More specifically, the greater gross energetic gain when feeding on larger prey and the shortening of digestion duration at higher temperatures, both observed in L. latrans, are likely to yield substantial ecological advantages.