Arqueologia literária: fragmentos do passado numa reconstrução do presente em Maryse Condé
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Data
Autores
Supervisor
Falleiros, Flávia Nascimento 

Coorientador
Pós-graduação
Curso de graduação
Título da Revista
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Título de Volume
Editor
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Tipo
Relatório de pós-doc
Direito de acesso
Acesso aberto

Resumo
A presente pesquisa de pós-doutorado teve como principal objetivo analisar as releituras da história na literatura caribenha pós-colonial, a partir de vozes que sempre foram marginalizadas. Para isso, apoiamo-nos na escrita de Maryse Condé (1937-2024), autora de língua francesa guadalupense. Nos seus textos, fragmentos da memória são justapostos para compor uma ficção que dá voz ao que foi silenciado, numa (re)construção do presente por meio de uma busca do passado. O nosso corpus foi constituído por quatro romances: Moi, Tituba sorcière … noire de Salem (1986); Le cœur à rire et à pleurer (2001); Histoire de la femme cannibale (2003) e En attendant la montée des eaux (2010). O regaste da memória, seja ela individual ou coletiva, possibilita compreender o mundo que nos circunda, em toda a sua complexidade e pluralidade. A narrativa condeana retrata as relações entre os povos africanos, a diáspora, a formação identitária das Américas e como essas heranças nos moldam. Essa busca permite uma (re)descoberta de histórias que foram apagadas por um discurso dominante. Como bem o coloca Chamoiseau, a colonização, durante séculos “[...] avait installé une Histoire qui niait nos trajectoires. Elle s’était écrite sur nos silences démentelés” (1997, p. 97). Autores como Condé passam a recuperar documentos, imagens, testemunhos, fragmentos, canções transmitidas oralmente, entre tantos outros registros, afim de restaurar vidas interrompidas, vozes silenciadas por um discurso hegemônico. A recomposição do passado, no presente, constitui um processo de conscientização necessário em nossas sociedades. Assim, abordamos a reescrita da história por vozes que foram historicamente apagadas. Na volta ao passado, passado este que originou a estrutura social contemporânea, podemos refletir acerca da nossa própria identidade. Trata-se de uma escrita fragmentada, de uma identidade que cola os pedaços de um ser que sofreu processos de deslocamentos, de escravidão, de exploração, de assimilação cultural. Os autores se tornam arqueólogos que escavam a memória para colar os pedaços e (re)construir a História. A partir dos romances que compõem o nosso corpus, desmistificamos imagens preconcebidas sobre a colonização, a escravidão, e exploração, o preconceito, a violência de gênero, expondo uma narrativa que retoma eventos históricos fundadores de países que passaram por um processo de colonização. “La pensée postcoloniale est fondée sur une réflexion géopolitique, mais aussi géopoétique” (Combe, 2010, p. 199). Buscamos investigar como essas narrativas carregam, recriam e questionam aspectos ligados à subjetividade a partir de identificações individuais e/ou coletivas que trazem marcas culturais de grupos que são colocados à margem da história dominante. Através de todo esse processo arqueológico, montamos o quebra-cabeça, desvendando histórias, passando assim por um movimento de retomada não somente da nossa história, mas também de compreensão das nossas identidades em construção permanente. Guadalupe, Brasil e outros países das Américas, que sofreram o mesmo tipo de colonização, dialogam e resgatam as suas memórias.
Descrição
Palavras-chave
Literatura Pós-Colonial, Maryse Condé, Fragmentação, Memória, Identidade
Idioma
Português
Citação
VENÂNCIO, Karina Chianca. Arqueologia literária: fragmentos do passado numa reconstrução do presente em Maryse Condé. (Relatório de Pós doutorado). 2025. Universidade Estadual Paulista (Unesp), Instituto de Biociências Letras e Ciências Exatas (Ibilce), São José do Rio Preto, 2025.

