Educação antirracista e formação inicial de professores de Física: desafios e possibilidades das questões sociocientíficas no contexto do estágio supervisionado

Abstract

Esta pesquisa busca compreender de que maneira a elaboração e o desenvolvimento de Sequências Didáticas de Caráter Sociocientífico pelos licenciandos em Física, na perspectiva da educação antirracista, no contexto da disciplina de Estágio Supervisionado, contribui para a promoção da formação crítica dos futuros professores de Física acerca da temática proposta?. A educação antirracista é um conjunto de práticas e políticas que visam combater o racismo e promover a justiça social. O racismo estrutural consiste em uma estrutura de ações conscientes e inconscientes, que perpetua desigualdades e violências, e é reforçado pelo Estado e seus aparelhos ideológicos, como a escola. Utilizamos como bases teóricas Silvio de Almeida, Kabengele Munanga, Bárbara Pinheiro, Francisco Junior, Ynaê Santos, Louis Althusser, Theodor Adorno e José Contreras para investigar as interelações entre racismo e capitalismo, bem como a educação para emancipação com conceitos da teoria crítica e da formação de professores. A pesquisa foi realizada com estudantes matriculados na disciplina de Estágio Supervisionado de um curso de Licenciatura em Física da UNESP. A disciplina tem como constructo teórico metodológico os Pequenos Grupos de Pesquisa (PGPs) e o Grande Grupo de Pesquisa (GGP). Foram realizados quatro encontros formativos, abordando temas como a história do Brasil, raça e racismo, questões sociocientíficas, planejamento e o Currículo Paulista. Após essas discussões, os licenciandos elaboraram suas sequências didáticas, com o objetivo de desenvolvê-las nas escolas de educação básica. Durante o processo, os estudantes participaram de encontros semanais dos PGPs e GGP, promovendo a troca de experiências e a reflexão sobre os planejamentos. Os dados foram constituídos nos encontros dos PGPs e transcritos na íntegra.A análise dos dados foi realizada por meio da Análise de Conteúdo de Laurence Bardin(2016), utilizando três categorias, com duas dimensões e quatro códigos em cada categoria, totalizando 12 códigos. Os resultados indicam que, apesar da ausência de discussões antirracistas na formação inicial desses licenciados, a elaboração e desenvolvimento das sequências didáticas proporcionaram aos licenciandos a construção de práticas pedagógicas mais reflexivas, críticas e alinhadas à justiça social. A pesquisa também destaca a importância dos PGPs como espaços de conscientização crítica, resistência às pressões do sistema educacional e superação da postura técnica, favorecendo práticas pedagógicas emancipatórias.

This research seeks to understand how the design and development of Didactic Sequences of a Socio-Scientific Character by Physics undergraduates, from the perspective of anti-racist education, in the context of the Supervised Internship discipline, contributes to promoting the critical training of future Physics teachers on the proposed theme? Anti-racist education is a set of practices and policies aimed at combating racism and promoting social justice. Structural racism consists of a structure of conscious and unconscious actions, which perpetuates inequalities and violence, and is reinforced by the state and its ideological apparatuses, such as schools. We used Silvio de Almeida, Kabengele Munanga, Bárbara Pinheiro, Francisco Junior, Ynaê Santos, Louis Althusser, Theodor Adorno and José Contreras as theoretical bases to investigate the interrelations between racism and capitalism, as well as education for emancipation with concepts from critical theory and teacher training. The research was carried out with students enrolled in Supervised Internship on the Physics degree course at UNESP. The discipline's theoretical methodological construct is the Small Research Groups (PGPs) and the Large Research Group (GGP). Four training meetings were held, covering topics such as the history of Brazil, race and racism, socio-scientific issues, planning and the São Paulo Curriculum. After these discussions, the undergraduates prepared their didactic sequences, with the aim of developing them in basic education schools. During the process, the students took part in weekly PGP and GGP meetings, promoting the exchange of experiences and reflection on the plans. The data was analyzed using Laurence Bardin's Content Analysis (2016), using three categories, with two dimensions and four codes in each category, for a total of 12 codes. The results indicate that, despite the absence of anti-racist discussions in the initial training of these graduates, the design and development of the didactic sequences provided the undergraduates with the construction of more reflective, critical pedagogical practices aligned with social justice. The research also highlights the importance of PGPs as spaces for critical awareness, resistance to the pressures of the educational system and overcoming the technical stance, favoring emancipatory pedagogical practices.