Processamento auditivo central em crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista - nível I

Abstract

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um dos transtornos do neurodesenvolvimento mais estudados na atualidade. Sabe-se que indivíduos com diagnóstico do TEA apresentam alterações de linguagem, dificuldade de compreensão de fala em ambientes com estímulos auditivos competitivos, intensidade de voz elevada, desconforto frente a estímulos auditivos ou baixa reatividade a sons e alterações prosódicas na linguagem oral. No entanto, apesar dessas alterações sensoriais altamente recorrentes, há escassez de pesquisas que investiguem as habilidades auditivas nessa população. Objetivo: Investigar o Processamento Auditivo Central (PAC) de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista-Nível I. Método: trata-se de um estudo de coorte transversal e de amostra de conveniência do qual participaram crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista-Nível I realizado por equipe multidisciplinar, conforme os critérios do DSM-5. Inicialmente se aplicaram, para a seleção da amostra, os seguintes procedimentos: história clínica, aplicação da escala ATA e da Escala de Inteligência WASI ou WISC-IV e avaliação audiológica básica. A amostra foi composta por 27 crianças e adolescentes do sexo masculino, destros, na faixa etária de 7 a 14 anos. O Processamento Auditivo Central foi avaliado por meio de avaliação comportamental na qual se aplicou os seguintes testes: Masking Level Difference (MLD), Fala com Ruído (FR), Dicótico de Dissílabos Alternados (SSW em português), Dicótico de Dígitos (TDD), Teste de Padrão de Frequência (TPF); Teste de Logoaudiometria Pediátrica (PSI) e Random Gap Detection Test (RGDT). Todos os resultados foram analisados por meio de análise estatística descritiva e inferencial. Resultados: Todos os participantes eram do sexo masculino, com média de idade de 10,48 anos, QI médio de 94,51 pontos e pontuação média da escala ATA de 31,48. A análise do desempenho das crianças e dos adolescentes com TEA-Nível I na avaliação comportamental do processamento auditivo demonstrou que a variável orelha não influenciou o desempenho nos testes de Fala com Ruído, PSI, TDD e SSW. A comparação entre o desempenho normal ou alterado das crianças e dos adolescentes na avaliação mostrou diferença significante para os testes Dicótico de Dígitos (Etapa de Integração e Separação Binaural) e de Padrão de Frequência-resposta de nomeação. A análise qualitativa da presença ou ausência da tendência de erro no teste Dicótico de Dissílabos Alternados-SSW mostrou diferença significativa para o efeito auditivo alto/baixo, efeito de ordem baixo/alto, efeito tipo A e inversões. De forma complementar, comparou-se o desempenho na avaliação do PAC e as variáveis QI e sensibilidade auditiva e essa análise demonstrou que a variável QI influenciou apenas a presença do efeito de ordem baixo/alto no SSW dos participantes com QI na faixa mais alta (101 a 114); com relação à sensibilidade auditiva se observou diferença significante apenas para o Teste de Padrão de Frequência - resposta de imitação. Conclusão: todas as crianças e adolescentes com TEA- Nível I deste estudo apresentaram desempenho alterado na avaliação comportamental do Processamento Auditivo Central e as alterações observadas sugerem maior comprometimento na aquisição das funções auditivas centrais caracterizadas por déficits de integração das propriedades acústicas verbais e não verbais da fala e área associativa.

Actually, Autism Spectrum Disorder (ASD) is one of the most studied neurodevelopmental disorders. It is known that individuals diagnosed with ASD have language disorders, difficulty understanding speech in environments with competitive auditory stimuli, high voice intensity, discomfort with auditory stimuli or low reactivity to sounds and prosodic alterations in oral language. However, despite these highly recurrent sensory changes, there is a lack of research investigating auditory skills in this population. Aim: to investigate the Central Auditory Processing (CAP) of children and adolescents with Autism Spectrum Disorder-Level I. Method: this is a cross-sectional cohort study with a convenience sample in which children and adolescents diagnosed with ASD participated, carried out by a multidisciplinary team, according to the DSM-5 criteria. Initially, the following procedures were applied for sample selection: clinical history, application of the ATA scale and the WASI or WISC-IV Intelligence Scale and basic audiological assessment. The sample consisted of 27 male children and adolescents, right-handed, aged between 7 and 14 years. The Central Auditory Processing was evaluated through a behavioral assessment in which the following tests were applied: Masking Level Difference (MLD), Speech in Noise (FR), Staggered Spondaic Word, Dichotic Digit Test, Pitch Pattern Sequence Test (PPST); Pediatric Speech Intelligibility (PSI) and Random Gap Detection Test (RGDT). All results were analyzed using descriptive and inferential statistical analysis. Results: All participants were male, with a mean age of 10.48 years, mean IQ of 94.51 points and mean ATA scale score of 31.48. The analysis of the performance of children and adolescents with ASD-Level I in the behavioral assessment of central auditory processing showed that the variable ear did not influence the performance in Speech-in-Noise, PSI, DDT and SSW. The comparison between the normal or altered performance of children and adolescents in the assessment showed a significant difference for the Dichotic Digits (Binaural Integration and Binaural Separation) and Pitch Pattern Sequence when the answer was verbalized. The qualitative analysis of the presence or absence of the error trend in the Dichotic Alternate DisyllablesSSW test showed a significant difference for the high/low auditory effect, low/high order effect, type A effect and inversions. In a complementary way, the performance in the CAP assessment and the IQ and auditory sensitivity variables were compared and this analysis showed that the IQ variable only influenced the presence of the low/high order effect in the SSW of the participants with IQ in the highest range (101 to 114); with regard to auditory sensitivity, a significant difference was observed only for the Frequency Pattern Test - imitation response. Conclusion: all children and adolescents with ASD-Level I in this study presented altered performance in the behavioral assessment of Central Auditory Processing and the observed alterations suggest greater impairment in the acquisition of central auditory functions characterized by deficits in the integration of verbal and non-verbal acoustic properties of speech and associative area.