Conceitos elásticos da ciência dos desastres: contaminados pelo dualismo epistemológico milenar

Abstract

Os conceitos comparados na ciência de desastres se revelam elásticos, ou seja, diferentes descrições conceituais para uma mesma terminologia. Tendo em vista tais constatações de descrições conceituais diversas, mutáveis, contrastantes, reducionistas e binárias, nossa hipótese de pesquisa confirmou nossa proposição inicial de que a epistemologia dualista grega, de origem órfica, helenista e cartesiana, poderia ser uma resposta possível às indagações frente às constatações de elasticidade conceitual. De forma análoga ao movimento de um pêndulo, os conceitos elementares da ciência dos desastres na literatura técnicocientífica, como risk, hazard, vulnerability, resilience e disaster, estariam estruturalmente influenciados por essa epistemologia dualista milenar, especialmente pelos binômios 'objetivismo-construtivismo', 'natureza-cultura' e 'ciências naturais ou sociais', que por sua vez também estão influenciados pelas influências de origem órfica, do grego clássico e/ou helenístico e de derivação cartesiana. Para subsidiar a elaboração da metodologia de abordagem, identificamos na literatura especializada e na história as características do dualismo epistemológico de origem órfica: bifurcação, binarização, polarização, purificação (não fazer mistura), hierarquização (superior/inferior), opressão (aberta ou velada), valoração, simplificação e disjunção, redução. A metodologia de abordagem, juntamente com a metodologia de procedimento (semasiologia e onomasiologia), especialmente nas terminologias da UNDRR, viabilizou testar a validade da hipótese. Os estudos bibliográficos sobre risk, hazard, vulnerability, resilience, disaster e exposure revelaram que os conceitos das ciências dos desastres estão, de fato, influenciados pelo dualismo epistemológico grego órfico milenar, helenístico e cartesiano. Além disso, esses conceitos elementares influenciados exercem influência sobre os demais conceitos.

In the field of disaster science, comparative concepts are found to be elastic, meaning that there are different conceptual descriptions for the same terminology. Given these observations of diverse, mutable, contrasting, reductionist, and binary conceptual descriptions, our research hypothesis confirmed our initial proposition that Greek dualistic epistemology, originating from Orphic, Hellenistic, and Cartesian traditions, could serve as a possible response to the inquiries posed by the findings of conceptual elasticity. Analogous to the motion of a pendulum, the fundamental concepts in disaster science within technical-scientific literature, such as risk, hazard, vulnerability, resilience, and disaster, are structurally influenced by this millennia-old dualistic epistemology, particularly by the binaries of 'objectivismconstructivism,' 'nature-culture,' and 'natural sciences or social sciences,' which, in turn, are also influenced by the origins from Orphic, classical Greek, and/or Hellenistic, and Cartesian derivations. To support the development of the approach methodology, we identified in specialized literature and history the characteristics of the Orphic-origin dualistic epistemology: bifurcation, binarization, polarization, purification (avoiding mixing), hierarchization (superior/inferior), oppression (open or veiled), valuation, simplification, and disjunction, reduction. The approach methodology, in conjunction with the procedural methodology (semasiology and onomasiology), especially within the terminology of UNDRR, enabled us to test the validity of the hypothesis. Bibliographic studies on risk, hazard, vulnerability, resilience, disaster, and exposure revealed that the concepts in the field of disaster science are indeed influenced by the ancient Greek Orphic, Hellenistic, and Cartesian dualistic epistemology. Furthermore, these influenced fundamental concepts exert an influence on other concepts.