Igreja católica e questão ambiental: a encíclica Laudato Si'

Abstract

O objetivo geral da pesquisa foi avaliar se o discurso contido na encíclica Laudato Si’ rompeu com o discurso tradicional [pré-moderno e moderno (Pré-Francisco)] da igreja católica sobre a relação homem e natureza. Para alcançar este objetivo, foi preciso analisar este discurso religioso à luz do método hermenêutico. Esta análise ficou restrita às seguintes categorias: antropocentrismo, utilitarismo e singularidade humana. Descobriu-se, ao final, que o discurso do Papa Francisco contido na Laudato Si’ não rompe com o discurso tradicional católico [pré-moderno e moderno (Pré-Francisco)], apenas avança, suavizando suas considerações ambientais. Este procedimento ocorreu como expressão de um processo de racionalização religiosa imposto pela realidade e desencadeado no interior da igreja católica. Revelou-se, ainda, que o discurso ambiental constante na encíclica, embora tenha se mostrado insuficiente para romper com o discurso habitual, estimula, por força de suavizações, o estabelecimento de uma nova relação entre o ser humano e o seu meio. Por fim, concluiu-se que o discurso ambiental do Papa Francisco se manteve entrelaçado ao discurso tradicional não apenas por força do preservacionismo católico secular, mas também por força das dificuldades de se encontrar soluções hermenêuticas criativas para ressignificar passagens bíblicas absolutamente antropocêntricas, utilitaristas e de defesa da singularidade humana.

The general objective of the research was evaluate whether the discourse contained in the encyclical Laudato Si’broke with the traditional discourse [pre-modern and modern (pre-Francis)] of the catholic church on the relationship between man and nature. To achieve this goal, it was necessary to analyze this religious discourse in the light of the hermeneutic method. This analysis was restricted to the following categories: anthropocentrism, utilitarianism and human uniqueness. It was found, in the end, that Pope Francis’ discourse contained in Laudato Si’ does not break with the traditional catholic discourse [pre-modern and modern (pre-Francis)], it only advances, softening its environmental considerations. This procedure ocurred as an expression of a process of religious rationalization imposed by reality and unleashed within the catholic church. It was also revealed that the environmental discourse contained in the encyclical, although it proved insuficiente to break with the usual discourse, stimulates, by the force of softening, the establishment of a new relationship between human beings and their environment. Finally, it is concluded that the Pope Francis’ environmental discourse has remained intertwined with the traditional discourse not only due to secular catholic preservationism, but also due to the difficulties of finding creative hermeneutic solutions to ressignify biblical passages that are absolutely anthropocentric, utilitarian and of defense of human uniqueness.