A mulher professora no ensino superior privado: representações sobre a tríade trabalho-gênero-vida pessoal e os impactos na produção de sofrimento psíquico

Abstract

A docência configura-se como uma profissão marcada por elevados níveis de estresse, especialmente entre mulheres, em razão das desigualdades de gênero que atravessam sua trajetória profissional e pessoal. As múltiplas jornadas, que envolvem a conciliação entre trabalho acadêmico, responsabilidades domésticas e familiares, contribuem significativamente para o desenvolvimento de sofrimento psíquico. Este estudo teve como objetivo analisar as representações de professoras universitárias sobre o trabalho, a multijornada e seus impactos na produção de sofrimento psíquico ao longo da carreira docente. A pesquisa foi conduzida por meio de entrevistas qualitativas semi-dirigidas, cujos dados foram analisados com base no referencial metodológico de Minayo, utilizando a análise de conteúdo em abordagem sistemática e reflexiva, articulada à análise temática e ao contexto sociocultural das participantes. As entrevistas foram realizadas com professoras de cursos de graduação de uma universidade privada, permitindo identificar manifestações de sofrimento psíquico associadas à sobrecarga de trabalho e às demandas impostas pelas desigualdades de gênero. Os resultados evidenciaram a relação entre a tríade trabalho-gênero-adoecimento, destacando as conexões entre o exercício da docência, a vida pessoal e a exaustão emocional. A pesquisa revelou ainda a necessidade de ações institucionais que enfrentem o problema de forma estruturada, superando a responsabilização individual das mulheres por condições adversas que são, em sua essência, coletivas e estruturais. O ineditismo da presente Tese reside no aprofundamento das experiências subjetivas das docentes a partir da escuta sensível proporcionada pelas entrevistas em profundidade, o contato íntimo com as professoras, pela necessidade de cultivar um vínculo para as conversas durante a coleta de dados, o que possibilitou um olhar ampliado sobre o sofrimento psíquico na educação superior.

Teaching is characterized as a profession marked by high levels of stress, particularly among women, due to gender inequalities that permeate both their professional and personal trajectories. The multiple roles they are required to perform—balancing academic work with domestic and family responsibilities—significantly contribute to the development of psychological distress. This study aimed to analyze the representations of female university professors regarding their work, multiple workloads, and the impacts on the production of psychological suffering throughout their academic careers. The research was conducted through semi-structured qualitative interviews, and data were analyzed using Minayo’s methodological framework, which employs a systematic and reflective approach to content analysis, combined with thematic analysis and consideration of the participants’ sociocultural contexts. Interviews were conducted with female professors from undergraduate programs at a private university, enabling the identification of signs of psychological distress linked to work overload and the demands arising from gender inequalities. The results revealed the interplay of the triad work-gender-illness, highlighting the connections between teaching, personal life, and emotional exhaustion. The research also underscored the need for institutional actions that address this issue in a structured way, moving beyond the individualization of women's suffering, which is rooted in collective and structural conditions. The originality of this dissertation lies in its in-depth exploration of the subjective experiences of female professors through the sensitive listening enabled by in-depth interviews and the relational bond established during data collection, offering a broadened understanding of psychological suffering in higher education.