O saber, o poder e a loucura em Machado, Maupassant e Poe

Abstract

Machado de Assis, Guy de Maupassant e Edgar Allan Poe: três mestres contistas do século XIX. Cada um retratou, à sua maneira, a condição humana. Neste trabalho, comparamos os seguintes contos: O Alienista¸ de Machado de Assis, publicado pela primeira vez em 1881; O Doutor Héraclius Gloss, de Guy de Maupassant, publicado postumamente em 1921, tendo sido escrito por volta de 1875; e, O Sistema do Doutor Alcatrão e do Professor Pena, de Edgar Allan Poe, publicado em 1845. Os três contos abordam a questão da loucura, do poder e da busca pela verdade. Eles representam uma visão irônica do final do século XIX, em que a figura do cientista é levada à loucura pelo seu próprio ego inflamado e pela sua busca desmedida por respostas. Os autores discutem o arbítrio do poder, a validação de uma verdade pela sociedade, o tratamento punitivo dos loucos e o narcisismo que leva as personagens à mais profunda sandice. Nessa análise, também fazemos alguns questionamentos: qual é a verdade? como ela é produzida? qual o funcionamento das engrenagens do poder? Para responder a essas questões, analisamos a construção histórico-social da loucura, o espaço do manicômio e a personagem peculiar do doutor presente nos contos. Trabalhamos também a questão das funções da literatura e da arte; as unidades do conto; a busca pela verdade; a narrativa cíclica; e ainda, como a ironia é constituída nos contos. Para análise e aprofundamento teórico, embasamos nosso trabalho nas obras de Aristóteles, Barthes, Bosi, Candido, Goethe, Sartre, Foucault, Umberto Eco, Goffman, Hutcheon, Muecke, Cassirer, entre outros estudiosos.

Machado de Assis, Guy de Maupassant and Edgar Allan Poe: three master storytellers of the 19th century. Each portrayed, in their own way, the human condition. In this work, we compare the following short stories: The Alienist, by Machado de Assis, published for the first time in 1881; Doctor Héraclius Gloss, by Guy de Maupassant, published posthumously in 1921, having been written around 1875; and The System of Doctor Tarr and Professor Fether, by Edgar Allan Poe, published in 1845. The three short stories address the issue of madness, power, and the search for truth. They represent an ironic vision of the late 19th century, in which the figure of the scientist ends up being driven mad by his own inflamed ego and his inordinate search for answers. The authors discuss the arbitrariness of power, the validation of a truth by society, the punitive treatment of the insane and the narcissism that drives the characters to the deepest folly. We also ask some questions: what is the truth? how is it produced? how do the gears of power work? To answer these questions, we analyzed the historical-social build of madness, the asylum’s space, and the peculiar character of the doctor present in the stories. We also do have analyzed the functions of literature and art; the short story’s units; the search for the truth; the cyclical narrative; and still how irony is constituted in the stories. For theoretical analysis and deepening, we based our work on the works of Aristotle, Barthes, Bosi, Candido, Goethe, Sartre, Foucault, Umberto Eco, Goffman, Hutcheon, Muecke, Cassirer, among other writers

Machado de Assis, Guy de Maupassant et Edgar Allan Poe : trois maîtres conteurs du XIXe siècle. Chacun dépeint, à sa manière, la condition humaine. Dans ce travail, nous comparons les contes : L’Aliéniste de Machado de Assis, publié pour la première fois en 1881 ; Docteur Héraclius Gloss, de Guy de Maupassant, publié à titre posthume en 1921, ayant été écrit vers 1875 ; et, Le système du Docteur Goudron et du Professeur Plume, d'Edgar Allan Poe, publié en 1845. Les trois contes abordent la question de la folie, du pouvoir et de la quête pour de la vérité. Ils représentent une vision ironique de la fin du XIXe siècle, dans laquelle la figure du scientifique finit par être rendue folle par son propre ego enflammé et sa recherche démesurée de réponses. Les auteurs discutent l'arbitraire du pouvoir, la validation d'une vérité par la société, le traitement punitif des aliénés et le narcissisme qui pousse les personnages à la folie la plus profonde. Dans cette analyse, nous posons également quelques questions : qu'est-ce que la vérité ? comment est-elle produite ? comment fonctionnent les engrenages du pouvoir ? Pour répondre à ces questions, nous avons analysé la construction historico-sociale de la folie, l'espace de l'asile et le caractère particulier du docteur présent dans les contes. Nous avons aussi travaillé la question des fonctions de la littérature et de l’art ; les unités du conte ; la quête pour la vérité ; le récit cyclique ; et encore, comment l'ironie se constitue dans les récits. Pour l'analyse théorique et l'approfondissement, nous basons notre travail sur les ouvrages d'Aristote, Barthes, Bosi, Candido, Goethe, Sartre, Foucault, Umberto Eco, Goffman, Hutcheon, Muecke, Cassirer, entre autres chercheurs