Como dizer um acontecimento?: memória e escrita da violência na dramaturgia de mulheres

Abstract

O presente trabalho relata o processo criativo de escrita de uma dramaturgia sobre a memória e a experiência de violência sexual, abordando a escrita a partir das marcas deixadas por um acontecimento. A pesquisa investiga como acontecimentos indizíveis podem ser narrados e como o teatro pode sustentar essas tentativas de representação. O diálogo teórico é estabelecido com autoras como Saidiya Hartman (2020) e Jota Mombaça (2016), que discutem a fabulação crítica e visionária, analisando as dificuldades e dilemas de representar a violência sem perpetuá-la. O foco é compreender como o teatro pode oferecer estratégias para narrar o indizível, reconhecendo que sempre há algo que escapa, e criar novas possibilidades de representação. Para tanto, o trabalho aborda a memória sob a perspectiva psicanalítica a partir de Tania Rivera (2014) e o potencial criativo do documento que revela camadas significativas do acontecimento, conforme abordado por Janaina Leite (2017). Além disso, o trabalho examina obras teatrais contemporâneas brasileiras para discutir abordagens dramatúrgicas recentes sobre a violência sexual.

The present work describes the creative process of writing a dramaturgy based on the memory and experience of sexual violence, focusing on writing as an expression of the marks left by an event. The research investigates how unspeakable events can be narrated and how theater can sustain these attempts of representation. The theoretical dialogue engages with authors such as Saidiya Hartman (2020) and Jota Mombaça (2016), who discuss critical and visionary fabulation, analyzing the challenges and dilemmas of representing violence without perpetuating it. The focus is to understand how theater can provide strategies to narrate the unspeakable, recognizing that there is always something that escapes, and create new possibilities for representation. To this end, the work approaches memory from a psychoanalytic perspective based on Tania Rivera (2014), and the creative potential of documents that reveal significant layers of the event, as discussed by Janaina Leite (2017). The work also examines contemporary Brazilian theatrical works to discuss recent dramaturgical approaches to sexual violence.