Entre o dito, o não-dito e o possível: significações do silêncio em Todos os nossos ontens, de Natalia Ginzburg

Abstract

A presente pesquisa explora a obra Todos os nossos ontens (2020), de Natalia Ginzburg, sob a ótica dos Estudos Literários, com foco na representação das personagens femininas e na importância das formas do silêncio que as envolve. Pela perspectiva de que a ficção permite uma plenitude de condições por meio de múltiplas personagens (Candido, 2014), a dissertação acentua como o silêncio, em seus diversos contornos, reverbera-se no externo e interno de cada personagem, seja por condições de gênero, pressões sociais da época, adversidades do fascismo na Itália e da Segunda Guerra Mundial, pelos quereres podados ou pelas relações humanas: o silêncio – como incapacidade de comunicação, a solidão, o medo ou a resistência – adquire significações múltiplas, de acordo com as vivências íntimas das personagens, tal qual as tensões sociais mais amplas. Dessarte, a protagonista Anna, que enfrenta uma gravidez na adolescência, é a figura central que exemplifica como o silêncio pode funcionar como uma forma de violência simbólica. Outras personagens, como as mulheres burguesas, operárias, camponesas e governantas, também são condicionadas por profusos modos de silêncio, na composição de um panorama acerca das diversas realidades femininas da época. Portanto, o estudo procura interpretar as razões e implicações desses silêncios, a iluminar questões relevantes ao ambiente doméstico, às relações familiares, à maternidade e à posição das mulheres no que tange às representações e representatividades possíveis. Utiliza-se a metodologia de pesquisa bibliográfica, apoiada nas teorias literárias de Antonio Candido (2014) e Anatol Rosenfeld (2014), teorias sobre o silêncio de Eni Puccinelli Orlandi (2007) e a própria escritora do romance, Natalia Ginzburg (2020), além de teorias feministas de Simone de Beauvoir (2016), Orna Donath (2022) e Elisabeth Badinter (1985). Assim, propõe-se, na dissertação, que o romance traz à tona discussões fundamentais a respeito das condições femininas, significativas no passado e ainda ressoantes no presente.

The present research explores the work Todos os nossos ontens (2020), by Natalia Ginzburg, from the perspective of Literary Studies, focusing on the representation of female characters and the significance of the forms of silence that surround them. From the perspective that fiction allows for a fullness of conditions through multiple characters (Candido, 2014), the dissertation emphasizes how silence, in its various forms, reverberates both externally and internally within each character, whether due to gender conditions, the social pressures of the time, the adversities of fascism in Italy and World War II, suppressed desires, or human relationships: silence – as an inability to communicate, loneliness, fear, or resistance – acquires multiple meanings, according to the intimate experiences of the characters, as well as broader social tensions. Thus, the protagonist Anna, who faces a teenage pregnancy, is the central figure exemplifying how silence can function as a form of symbolic violence. Other characters, such as bourgeois women, workers, peasants, and housekeepers, are also conditioned by various modes of silence, composing a panorama of the diverse feminine realities of the time. Therefore, the study seeks to interpret the reasons and implications of these silences, shedding light on relevant issues regarding the domestic environment, family relationships, motherhood, and the position of women in terms of possible representations and representativity. The research uses a bibliographical methodology, supported by the literary theories of Antonio Candido (2014) and Anatol Rosenfeld (2014), theories about silence from Eni Puccinelli Orlandi (2007), and the novel's own writer, Natalia Ginzburg (2020), as well as feminist theories from Simone de Beauvoir (2016), Orna Donath (2022), and Elisabeth Badinter (1985). Thus, the dissertation proposes that the novel brings to the fore fundamental discussions about the conditions of women, significant in the past and still resonant in the present.