A medicalização de crianças e adolescentes a partir do diagnóstico de TDAH : uma visão psicanalítica

Abstract

O número de crianças e adolescentes diagnosticados e medicados em decorrência do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é cada vez maior. Investiga-se, neste estudo, as implicações do diagnóstico e tratamento farmacológico do TDAH em crianças e adolescentes, com foco nos impactos na subjetividade em desenvolvimento e nas lacunas de mentalização e simbolização presentes na sintomatologia, além de discutir proposições teóricas e clínicas para o acompanhamento psicanalítico desses casos. Dentre as diferentes pesquisas apresentadas, há um estudo longitudinal de dois jovens adultos, anteriormente diagnosticados com TDAH e medicados na infância, revisitados pela pesquisadora após doze anos de uma primeira entrevista, o que proporciona uma análise rica e ímpar sobre as consequências do diagnóstico e da medicação em seus desenvolvimentos, apontando para a internalização da crença de que o sucesso acadêmico e social dependia da medicação. Complementando essa análise, a tese apresenta uma revisão integrativa da literatura psicanalítica nacional e internacional sobre o TDAH, abordando concepções psicopatológicas, manejo clínico e medicalização; no total, vinte e dois estudos foram analisados. Posteriormente, o protocolo de atendimento organizado pelo Estudo de Prevenção de Frankfurt (Alemanha), de atendimento psicanalítico do TDAH, é considerado como uma proposta pertinente e significativa para a ampliação clínica e a integração da psicanálise em políticas públicas de saúde mental, que possibilitariam o reposicionamento não só com relação ao uso da medicação como também da medicalização do TDAH. A autora propõe uma fundamentação teórica psicanalítica para a compreensão do diagnóstico médico de TDAH e suas possibilidades de manejo na perspectiva das relações de objeto, com foco no desenvolvimento da capacidade de mentalização e simbolização. Os resultados indicam a necessidade de adequações técnicas no manejo clínico do TDAH e destacam a importância de se investigar o lugar que o diagnóstico e o tratamento farmacológico ocupam na vida dos sujeitos, considerando a influência da medicação em suas autopercepções. A perspectiva psicanalítica, por sua vez, oferece uma compreensão mais profunda das dinâmicas subjacentes ao TDAH, ressaltando a importância de abordagens terapêuticas que valorizem a singularidade do sujeito e suas relações precoces. Nesse sentido, uma das contribuições da tese reside em demonstrar como a psicanálise, por meio da investigação dos vínculos e das relações precoces, pode oferecer uma compreensão privilegiada da singularidade de cada sujeito, impactando positivamente o manejo clínico do TDAH. A tese oferece respaldos teóricos e técnicos para o desenvolvimento da capacidade de mentalização e simbolização em pacientes com TDAH, contribuindo para a compreensão das dificuldades relacionadas a essa condição.

The number of children and adolescents diagnosed and medicated for Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder (ADHD) is increasing. This thesis investigates the implications of ADHD diagnosis and pharmacological treatment in children and adolescents, focusing on the impacts on developing subjectivity and the gaps in mentalization and symbolization present in the symptomatology. It also discusses theoretical and clinical propositions for the psychoanalytic follow-up of these cases.Among the different research projects presented, there is a longitudinal study of two young adults, previously diagnosed with ADHD and medicated in childhood, revisited by the researcher after twelve years from an initial interview. This provides a rich and unique analysis of the consequences of diagnosis and medication on their development, pointing to the internalization of the belief that academic and social success depended on medication. Complementing this analysis, the thesis presents an integrative review of national and international psychoanalytic literature on ADHD, addressing psychopathological conceptions, clinical management, and medicalization; in total, twenty-two studies were analyzed.The study examines the care protocol organized by the Frankfurt Prevention Study (Germany) for the psychoanalytic treatment of ADHD. It is considered a relevant and significant proposal for clinical expansion and the integration of psychoanalysis into public mental health policies, which would enable a repositioning not only regarding the use of medication but also the medicalization of ADHD. The author proposes a psychoanalytic theoretical foundation for understanding the medical diagnosis of ADHD and its management possibilities from the perspective of object relations, focusing on developing the capacity for mentalization and symbolization.The results indicate the need for technical adjustments in the clinical management of ADHD and highlight the importance of investigating the place that diagnosis and pharmacological treatment occupy in the lives of subjects, considering the influence of medication on their self-perception. The psychoanalytic perspective, in turn, offers a deeper understanding of the dynamics underlying ADHD, emphasizing the importance of therapeutic approaches that value the singularity of the subject and their early relationships. In this sense, one of the thesis' contributions lies in demonstrating how psychoanalysis, through the investigation of bonds and early relationships, can offer a privileged understanding of the singularity of each subject, positively impacting the clinical management of ADHD. The thesis offers theoretical and technical support for developing mentalization and symbolization capacities in patients with ADHD, contributing to overcoming the difficulties related to this condition.