A conjugalidade na interface com o câncer de mama

Abstract

O câncer de mama é uma importante questão de saúde pública em nosso país, devido à sua alta taxa de incidência e morbidade, ocupando o segundo tipo de câncer com maior incidência na população feminina e na doença mais temida pelas mulheres. Essa patologia provoca inúmeras modificações em todas as esferas da vida, incluindo o casamento. A conjugalidade exige um investimento contínuo para a construção e a manutenção de um espaço compartilhado entre sujeitos que possuem diferenças, fator que comporta a potencialidade de criação de cada encontro, bem como exige a integração dos desejos e dos projetos pessoais à vida a dois. Essa complexidade é intensificada em uma situação de adoecimento como o câncer de mama, devido às demandas e temores que se impõem. Desse modo, nesta pesquisa nos interessamos em compreender as reverberações do câncer de mama na conjugalidade de mulheres adultas sobreviventes de longo termo, considerando os processos de manutenção e desvinculamento conjugal e seus desdobramentos para o enfrentamento do adoecimento. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, utilizando a técnica de entrevista semiestruturada, a qual foi realizada com 5 mulheres adultas, que já haviam concluído o acompanhamento de cinco anos pós-tratamento. Dessas participantes, 3 permaneceram casadas em todo o processo de enfrentamento do câncer de mama e 2 se separaram. Os resultados apontaram que o modo de organização da díade antes do adoecimento interferiu na manutenção ou não da conjugalidade bem como no enfretamento da doença e do tratamento. A participação do cônjuge demonstrou ser essencial para o enfrentamento dos diversos momentos do adoecimento, e a configuração do Reconhecimento, o Respeito, a Reciprocidade, a Responsabilidade, propostos por A. Eiguer, bem como, o manejo das diferenças se configuraram como elementos essenciais em todo o processo, pois delinearam os redimensionamentos que os casais foram capazes de fazer.

Breast cancer is an important public health issue in our country, due to its high incidence and morbidity rate, occupying the second type of cancer with the highest incidence in the female population and the disease most feared by women. This pathology causes numerous changes in all spheres of life, including marriage. Conjugality requires a continuous investment for the construction and maintenance of a shared space between subjects who have differences, a factor that includes the potential for creation of each encounter, as well as requiring the integration of personal desires and projects into life as a couple. This complexity is intensified in a situation of illness such as breast cancer, due to the demands and fears that are imposed. Thus, in this research we are interested in understanding the reverberations of breast cancer in the conjugality of adult women who are long-term survivors, considering the processes of marital maintenance and disconnection and their consequences for coping with illness. This is a qualitative research, using the semi-structured interview technique, which was carried out with 5 adult women, who had already completed the five-year post-treatment follow-up. Of these participants, 3 remained married throughout the process of coping with breast cancer and 2 separated. The results showed that the way of organizing the dyad before the illness interfered in the maintenance or not of conjugality as well as in coping with the disease and treatment. The participation of the spouse proved to be essential for coping with the various moments of illness, and the configuration of Recognition, Respect, Reciprocity, Responsibility, proposed by A. Eiguer, as well as the management of differences were configured as essential elements throughout the process, as they outlined the resizing that couples were able to do.