Contribuições à crítica da produção da cultura corporal no capitalismo: por um ensino histórico-crítico brasileiro em Educação Física

Abstract

A tese elaborada defende que a Educação Física escolar deve se orientar pelas relações sociais de produção das objetivações corporais e, para tanto, articula duas proposições. A primeira defende a cultura corporal como um tipo de prática social, inserido no âmbito da prática social mais geral, cuja peculiaridade está no fato de a atividade social de produção das objetivações corporais ter por principal suporte material o próprio corpo humano. A segunda proposição defende que um ensino escolar histórico-crítico brasileiro em Educação Física não pode se limitar a tratar das objetivações da cultura corporal mais desenvolvidas sob a determinação da totalidade capitalista, buscando contemplar também aquelas que se constituem a partir de relações sociais de produção que resistem à superexploração do trabalho e à dominação cultural, o que no contexto da formação social brasileira traduz-se em objetivações culturais de caráter popular, forjadas, sobretudo, no bojo da racialização da luta de classes. Toma-se por objeto de pesquisa mais geral a produção da cultura corporal na totalidade capitalista e busca-se tratar a cultura corporal como uma categoria radicada na ciência da história, tendo por objetivos problematizar, no âmbito da especificidade da Educação Física escolar brasileira, tanto o critério de maior desenvolvimento para seleção de conteúdos, adotado pela Pedagogia Histórico-crítica, como a possível função social revolucionária da cultura corporal popular no capitalismo dependente brasileiro. Apreende-se o esporte de alto rendimento, forma mais desenvolvida em que se expressa a cultura corporal no modo de produção capitalista, como a unidade mínima de análise desta pesquisa. Avalia-se que o critério de maior desenvolvimento não é o único a ser levado em conta no processo de seleção das objetivações corporais a serem contempladas pelo ensino escolar estatal brasileiro em Educação Física; seja porque este critério tende a se debruçar unilateralmente sobre o produto e seu consumo, seja devido a características próprias à formação social brasileira capitalista dependente, em especial a racialização da luta de classes e a superexploração da força de trabalho. Considera-se que a incorporação das objetivações culturais que sintetizam relações de produção de caráter popular a um saber escolar brasileiro radicado na luta de classes pode vir a se configurar em mais um instrumento da classe explorada na luta por hegemonia.

The developed thesis argues that school Physical Education must be guided by the social relations that produce body objectifications and, to this end, articulates two propositions. The first supports body culture as a type of social practice, situated within the broader scope of general social practice, and characterized by the peculiarity that the social activity of producing body objectifications has as its main material support the human body itself. The second proposition asserts that a Brazilian historical-critical approach to school Physical Education cannot be limited to addressing the body culture objectifications most developed under the determination of capitalist totality. It must also encompass those formed through social relations of production that resist the super-exploitation of labor and cultural domination — which, in the context of Brazilian social formation, are expressed in popular cultural objectifications forged, above all, amidst the racialization of class struggle. The broader research object is the production of body culture within capitalist totality, with the aim of treating body culture as a category rooted in the science of history. The research seeks to problematize, within the specificity of Brazilian school Physical Education, both the criterion of higher development for content selection adopted by Historical-Critical Pedagogy and the potential revolutionary social function of popular body culture in Brazilian dependent capitalism. High-performance sport, the most developed form through which body culture is expressed in the capitalist mode of production, is taken as the minimal unit of analysis in this research. It is assessed that the criterion of higher development is not the only one to be considered in the process of selecting body objectifications to be addressed by school Physical Education in the Brazilian public system; either because this criterion tends to focus unilaterally on the product and its consumption, or due to specific traits of Brazilian dependent capitalist social formation — especially the racialization of class struggle and the super-exploitation of labor power. It is considered that the incorporation of cultural objectifications that synthesize popular social relations of production into a school knowledge rooted in the class struggle may serve as an additional tool for the exploited class in its struggle for hegemony.