Efeito da estimulação táctil sobre o comportamento agressivo e o bem-estar de peixes ornamentais

Abstract

O aumento exponencial da aquicultura mundial tem gerado preocupações e debates sobre o bem-estar dos peixes. Esses animais são criados para o consumo humano e animal, pesquisas científicas e comércio de espécies ornamentais. Desse modo, diversos fatores estressantes no ambiente de criação, como confinamento e interações agressivas não naturais, podem comprometer seu bem-estar. Nesse contexto, o enriquecimento ambiental tem sido testado como uma opção para mitigar os efeitos do ambiente artificial e do manejo sobre o bem-estar de peixes. A estimulação táctil corporal, por exemplo, é um tipo de enriquecimento sensorial, constituído por um estímulo mecânico natural ou artificial aplicado em partes do corpo de um animal, que tem sido explorada como uma forma de promover o bem-estar em vertebrados. Em peixes, esse enriquecimento demonstrou redução do estresse, medo, da agressividade, melhora na performance cognitiva e no desempenho produtivo. No entanto, a eficácia desse método pode variar entre espécies, indicando a necessidade de estudos adicionais. Assim, os objetivos deste estudo visam testar o efeito da estimulação táctil artificial sobre a agressividade e o bem-estar em duas espécies de peixes ornamentais, o acará-bandeira (Pterophyllum scalare) e o peixe Betta (peixe-de-briga-siamês - Betta splendens). O acará-bandeira apresenta hierarquia de dominância estabelecida por interações agressivas, enquanto o betta é conhecido por sua agressividade exacerbada devido ao processo e seleção artificial. Além disso, são duas espécies importantes no comércio de peixes ornamentais. Assim, os animais foram submetidos individualmente à estimulação táctil por meio de um aparato formado por hastes plásticas contendo cerdas de silicone nas laterais, que ficam enfileiradas no centro do aquário e por entre as quais os peixes atravessam, recebendo estimulação táctil. Como controle foi utilizado um aparato semelhante, porém sem cerdas de silicone. Os animais permaneceram nessas condições por 22 dias (N = 20 para cada tratamento, por espécie). A agressividade foi avaliada pela frequência de lutas com o espelho antes e após a ET e, também, pela frequência de lutas entre indivíduos do mesmo tratamento após os 22 dias. Em seguida, os animais foram anestesiados para retirada de sangue (dosagem de cortisol) e eutanasiados para remoção de cérebros para dosagens de monoaminas (serotonina e dopamina) e seus metabólitos (5HIAA e Dopac, respectivamente). As monoaminas foram avaliadas apenas no peixe betta, pois os cérebros dos acarás descongelaram em função de uma queda de energia. Os animais foram medidos e pesados antes e após o experimento para avaliação da taxa de crescimento específica. O aparato foi eficaz, uma vez que a frequência de atravessamentos aumentou e estabilizou ao longo do tempo para as duas espécies. Não houve diferenças significativas no comportamento de agressividade e nem nos parâmetros de crescimento entre os tratamentos com e sem estimulação no peixe betta. Porém, observamos que o cortisol do tratamento com ET foi mais alto. Além disso, encontramos correlações entre as monoaminas cerebrais e o cortisol, os atravessamentos e os comportamentos em ambos os tratamentos. Em contrapartida, a estimulação táctil reduziu a agressividade do acará-bandeira, com efeito evidente sobre os machos, mesmo não havendo diferença nos níveis de cortisol entre os tratamentos. Os animais que passaram pelo tratamento com ET também apresentaram um aumento significativo no crescimento padrão. Portanto, concluímos que a ET não teve efeito sobre a agressividade e o bem-estar do peixe betta, o que pode estar associado à seleção artificial de animais coloridos e agressivos. Em contrapartida encontramos efeitos positivos da ET para o bem-estar de acará bandeira, demonstrando que a ET pode ser utilizada como enriquecimento ambiental para essa espécie. Dessa forma, este estudo demonstra que os efeitos da estimulação táctil sobre peixes ornamentais variam de acordo com a espécie. Assim, contribui para o desenvolvimento de práticas de criação que promovam o bem-estar dos peixes ornamentais, considerando a importância crescente desse setor e a necessidade de garantir o tratamento ético dos animais criados em ambiente artificial.

The exponential increase in global aquaculture has sparked debates about fish welfare. These animals are raised for consumption, scientific research, and the trade of ornamental species. As a result, various stress factors in the farming environment, such as confinement and unnatural aggressive interactions, can compromise their well-being. In this context, environmental enrichment has been tested as an option to mitigate the effects of the artificial environment and handling on fish welfare. Body tactile stimulation is a type of sensory enrichment, a natural or artificial mechanical stimulus applied to parts of an animal's body, and has been explored as a way to promote welfare in vertebrates. In fish, this enrichment has shown to reduce stress, fear, and aggression, and improve cognitive performance and productive efficiency. However, the effectiveness of this method can vary between species, indicating the need for additional studies. Thus, the objectives of this study aim to test the effect of artificial tactile stimulation on aggression and well-being in two species of ornamental fish, the angelfish (Pterophyllum scalare) and the betta fish (siamese fighting fish - Betta splendens). The angelfish exhibits a dominance hierarchy established through aggressive interactions, while the betta is known for its heightened aggression due to artificial selection processes. In this way, the animals were individually subjected to tactile stimulation using an apparatus composed of plastic rods with silicone bristles on the sides, lined up in the center of the aquarium through which the fish pass, receiving tactile stimulation. A similar apparatus without silicone bristles was used as a control. The animals remained in these conditions for 22 days (n = 20 for each treatment, per species). Aggression was evaluated by the frequency of mirror fights before and after tactile stimulation, and also by the frequency of fights between individuals of the same treatment after the 22 days. Then, the animals were anesthetized for blood collection and euthanized for brain removal. They were measured and weighed before and after the experiment to assess specific growth rates. The apparatus was effective, as the frequency of crossings increased over time for both species. There were no significant differences in aggressive behavior or growth parameters between the treatments with and without stimulation in betta fish. However, we observed that cortisol levels were higher in the tactile stimulationtreatment. Additionally, we found correlations between brain monoamines, crossings, and behaviors in both treatments. On the other hand, tactile stimulation reduced aggression in angelfish, even though there was no difference in cortisol levels between treatments. The animals that underwent the tactile stimulation treatment also showed a significant increase in standard growth. Therefore, we concluded that tactile stimulation had no effect on the aggression and growth of betta fish, which may be associated with the artificial selection of colorful and aggressive animals. Conversely, we found positive effects of tactile stimulation for angelfish, demonstrating that tactile stimulation can be used as environmental enrichment for this species. Thus, this study demonstrates that the effects of tactile stimulation on ornamental fish vary according to species. It contributes to the development of farming practices that promote the wellbeing of ornamental fish, considering the growing importance of this sector and the need to ensure the ethical treatment of animals raised in artificial environments.