Taxonomia de ostracodes e considerações paleoambientais da Formação Teresina (Permiano Médio, Bacia do Paraná, Brasil), na região do município de Anhembi, SP

Abstract

Ostracodes são crustáceos microscópicos de carapaça bivalve que crescem por ecdise, sem apresentar linhas de crescimento. O grupo Ostracoda é, dentre os artrópodes, o mais bem representado no registro fóssil, ocorrendo desde o Ordoviciano até o Recente. A classificação taxonômica das espécies fósseis do grupo é baseada na morfologia interna e externa das carapaças, bem como em caracteres como a sobreposição das valvas esquerda e direita, e os contornos em vistas dorsal, ventral e lateral. Este trabalho tem como objetivos principais a análise e identificação das espécies de ostracodes que ocorrem na Formação Teresina da região de Anhembi, SP, a fim de interpretar o paleoambiente deposicional. Foram analisadas 16 amostras provenientes de quatro pontos de um afloramento localizado às margens da rodovia SP-147, a cerca de 700 m da entrada do município, no km 212, sentido Botucatu, SP. O material encontra-se depositado no Laboratório de Paleontologia de Macroinvertebrados (LAPALMA), na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus Bauru. Foram identificadas onze espécies de ostracodes: Velatomorpha rochacamposi, Velatomorpha pseudoaltilis, Velatomorpha sp. cf. V. pseudoaltilis, Velatomorpha sp., Paranacythere sp. nov.?, Carbonita sp. 1, Carbonita sp. 2, Carbonita sp. 3, Paleodarwinula? sp., Cyprididae gen. et sp. indet. 1 e Cyprididae gen. et sp. indet. 2. A concentração fossilífera aqui estudada é diversa, com presença de ostracodes, fragmentos de peixe e carófitas. O gênero Velatomorpha é o mais diverso e abundante, seguido pelo táxon Carbonita. A presença de ostracodes mixohalinos, em acréscimo à preservação abundante de algas carófitas, sugere um paleoambiente deposicional marinho marginal, com influência de água doce. A preservação de espécimes com padrões tafonômicos distintos sugere que o ambiente tenha passado por episódios energéticos, alternando entre alta e baixa energia. Ao analisar as ocorrências fósseis de ostracodes no Permiano Médio–Superior do Grupo Passa Dois, constata-se a possível associação de táxons formando zonas de associação. Dessa forma, propõe-se aqui a existência de duas biozonas principais de ostracodes para as regiões analisadas: Bairdiacypris glennensis e Velatomorpha rochacamposi. Os microfósseis identificados nesta pesquisa se encaixam na segunda biozona.

Ostracods are microscopic crustaceans with bivalve carapaces that grow by ecdysis, without growth lines. The Ostracoda group is the best represented in the fossil record among arthropods, occurring from the Ordovician to the Recent. The systematic paleontology of the group’s fossil species is based on the internal and external morphology of the carapaces, as well as characters such as overlapping of valves, and the contours in dorsal, ventral and lateral views. This work’s main objectives are the analysis and identification of ostracod species that occur in the Teresina Formation in the Anhembi region, State of São Paulo, in order to interpret the depositional paleoenvironment. Sixteen samples from four points of an outcrop located on the banks of the SP-147 highway, approximately 700 m from the entrance to the city, at km 212, towards Botucatu, SP, were analyzed. The material is deposited at Laboratório de Paleontologia de Macroinvertebrados (LAPALMA), at Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus Bauru. Eleven species of ostracods were identified: Velatomorpha rochacamposi, Velatomorpha pseudoaltilis, Velatomorpha sp. cf. V. pseudoaltilis, Velatomorpha sp., Paranacythere sp. nov.?, Carbonita sp. 1, Carbonita sp. 2, Carbonita sp. 3, Paleodarwinula? sp., Cyprididae gen. et sp. indet. 1 e Cyprididae gen. et sp. indet. 2. The fossil concentration studied here is diverse, with the presence of ostracods, fish fragments and charophytes. The genus Velatomorpha is the most diverse and abundant, followed by the taxon Carbonita. The presence of mixohaline ostracods, in addition to the abundant preservation of charophyte algae, suggests a marine marginal depositional paleoenvironment, with freshwater influence. The preservation of specimens with distinct taphonomic patterns suggests that the paleoenvironment had energetic episodes, alternating between high and low energy. When analyzing the fossil occurrences of ostracods in the Middle–Upper Permian of the Passa Dois Group, the possible association of taxa forming association zones is observed. Thus, the existence of two main biozones of ostracods for the regions analyzed is proposed here: Bairdiacypris glennensis and Velatomorpha rochacamposi. The microfossils identified in this research fit into the second biozone.