Forjadas para o silêncio : a produção social de sofrimento psíquico entre pesquisadoras em formação

Abstract

A presente investigação se guiou a partir da proposta de identificação e problematização dos processos de subjetivação e produção social de sofrimento psíquico entre mulheres vinculadas a programas de pós-graduação stricto sensu de universidades públicas brasileiras. Para viabilizar esta incursão, elegeu dois instrumentos metodológicos distintos e complementares. No primeiro momento, foi aplicado um questionário online, composto por 79 itens que se dividiam nas seguintes seções: dados pessoais, informações acadêmicas e, com todas as limitações impostas pela ferramenta, aspectos subjetivos. Ao total, foram reunidas 156 respostas de mestrandas e doutorandas. Na segunda etapa do percurso, com o auxílio da técnica História de Vida, seis pós-graduandas, de diferentes áreas do conhecimento e universidades, concederam entrevistas. A coleta remota de informações possibilitou certa diversidade cultural e regional, valorizando a multiplicidade existente no grupo. As epistemologias feministas forneceram a fundamentação teórica necessária. Dentre as autoras citadas na bibliografia de base, se destacam bell hooks (2017), Heleieth Saffioti (2013, 2015), Lélia González (1984, 2016, 2020) e Silvia Federici (2017, 2019, 2021, 2022, 2023). A amostra foi composta, majoritariamente, por mulheres cisgênero, brancas, jovens, heterossexuais, solteiras, sem filhas/os, sudestinas, doutorandas e bolsistas de órgãos federais de fomento à pesquisa. A precarização das universidades públicas e, consequentemente, dos programas de pós-graduação stricto sensu, assim como as múltiplas formas de violência, simbólicas e concretas, se fizeram notar tanto com os questionários quanto com as entrevistas. O baixo retorno financeiro, as altas exigências por produtividade e o assédio moral, em seus variados contornos, foram diretamente relacionados à experimentação de sofrimento psicológico, com a predominância de sintomas ansiosos.

This research is guided by the proposal of identifying the process of subjectivation and social production of psychological distress among women enrolled in stricto sensu graduate programs at Brazilian public universities. To make it, two distinct and complementary methodological instruments were used. At the first stage, an online questionnaire was applied, consisting of 79 items, which were divided into the following sections: personal data, academic information and subjective aspects. In total, 156 responses were collected from master’s and doctoral students. At the second stage, using the Life History technique, six graduate students from different areas of knowledge and universities were interviewed. The remote data collection enabled cultural and regional diversity, valuing the multiplicity within the group. Feminist epistemologies provided the necessary theoretical foundation. Among the authors cited, the following stand out: bell hooks (2017), Heleieth Saffioti (2013, 2015), Lélia González (1984, 2016, 2020) and Silvia Federici (2017, 2019, 2021, 2022, 2023). The sample was composed mainly of cisgender, white, young, heterosexual, single women, without children, from the Southeast, doctoral students and scholarship holders from federal research funding agencies. The precariousness of public universities and, consequently, of stricto sensu postgraduate programs, as well as the multiple forms of symbolic and concrete violence, have been perceived both in the questionnaires and in the interviews. Low financial return, high demands for productivity and moral harassment were directly related to the experience of psychological distress, associated with the predominance of anxiety symptoms.