Levantamento radiométrico pós-alta do quarto terapêutico de portadores de carcinoma hepático submetidos à radioembolização com lipiodol-131I

Abstract

Introdução: O iodo 131 é o radioisótopo amplamente utilizado como complementação do tratamento do câncer diferenciado da tireoide (CDT), sendo sua biodistribuição e vias de excreção bem conhecidas. Diretrizes de proteção radiológica determinam internação em quarto terapêutico com atividade maior que 50 mCi e alta quando a taxa de dose é menor que 30 µSv/h a dois metros de distância. Após a alta do paciente, um levantamento radiométrico de superfícies nas dependências do quarto terapêutico é realizado à procura de contaminação radioativa. Caso presente, o quarto deverá ser descontaminado, antes de nova internação. É de conhecimento que as principais vias de excreção do iodo 131 são: urina, fezes, suor e saliva, sendo as superfícies de contato relacionadas os locais mais frequentes de contaminação. Quando radioisótopos são ligados a fármacos, formando o complexo radiofármaco, há uma mudança da biodistribuição e excreção, baseado nas características do fármaco, como ocorre no lipiodol-131I. A radioembolização arterial com lipiodol-131I para carcinoma hepatocelular (CHC) é um procedimento inédito no Brasil e pouco conhecimento se tem da sua biodistribuição após injeção e vias de excreção. Não existem trabalhos na literatura relatando os níveis e locais de contaminação do quarto terapêutico após esse procedimento. Objetivos: Identificar os locais e os níveis de contaminação no quarto terapêutico pós procedimento de radioembolização com lipiodol-131I em portadores de carcinoma hepatocelular (CHC) por meio de levantamento radiométrico. Materiais e Métodos: Esse estudo é um desdobramento do Projeto intitulado Resposta objetiva tumoral, perfil de segurança e taxas de sobrevida de pacientes com cirrose e carcinoma hepatocelular de estadiamento intermediário submetidos a radioembolização com 131I-Lipiodol versus quimioembolização arterial, de responsabilidade do Prof. Assoc. Fernando Gomes Romeiro, aprovado por esse CEP, sob parecer 4.705.877, quando foi aplicado o TCLE. Trata-se de um estudo transversal, observacional, descritivo com coleta retrospectiva de relatórios de leitura radiométrica pós-alta do quarto terapêutico de procedimento de radioembolização com lipiodol-131I de portadores de (CHC), tratados no período de dezembro de 2019 a fevereiro de 2022. A monitoração radioativa da superfície foi realizada com o contador Geiger-Müller na unidade de contagens por minuto (cpm). O valor de referência considerado para a radiação de fundo (BG) foi aquele mensurado antes da chegada do paciente ao quarto. Contaminação radioativa foi considerada como valores cinco vezes acima do valor do BG. Foi realizada estatística descritiva das variáveis. Os dados coletados fazem parte de relatórios assistenciais do HC pós-alta. Resultados: Verificou-se que os objetos que apresentaram maior contaminação foram aqueles de uso pessoal do paciente, como roupas, toalhas e vaso sanitário, objetos manuseados pelo paciente como controle remoto e maçanetas não foram contaminados. Conclusão: Os locais de contaminação pós terapia com lipiodol-131I sugerem excreção biológica renal e/ou intestinal, provável contaminação da pele e vestimentas no procedimento da TARE e ausência de excreção pelo suor/superfície das mãos. As contaminações foram de fácil remoção, inferindo que a TARE com lipiodol-131I não pressupõe a adoção de medidas de contenção radiológicas específicas.

Introduction: Iodine 131 is the radioisotope widely used as a complement to the treatment of differentiated thyroid cancer (DTC), and its biodistribution and excretion routes are well known. Radiation protection guidelines determine hospitalization in a therapeutic room with activity greater than 50 mCi and high when the dose rate is less than 30 µSv/h at two meters away. After the patient is discharged, a radiometric survey of surfaces in the therapeutic room is carried out to look for radioactive contamination. If present, the room must be decontaminated before re-hospitalization. It is known that the main routes of excretion of iodine 131 are: urine, feces, sweat and saliva, with related contact surfaces being the most frequent sites of contamination. When radioisotopes are linked to drugs, forming the radiopharmaceutical complex, there is a change in biodistribution and excretion, based on the characteristics of the drug, as occurs in lipiodol-131I. Arterial radioembolization with lipiodol-131I for hepatocellular carcinoma (HCC) is a new procedure in Brazil and little is known about its biodistribution after injection and excretion routes. There are no studies in the literature reporting the levels and locations of contamination in the therapeutic room after this procedure. Objectives: To identify the sites and levels of contamination in the therapeutic room after radioembolization with lipiodol-131I in patients with hepatocellular carcinoma (HCC) by means of a radiometric survey. Materials and Methods: This study is an offshoot of the project entitled Tumor objective response, safety profile and survival rates of patients with cirrhosis and intermediate-stage hepatocellular carcinoma submitted to radioembolization with 131I-lipiodol versus arterial chemoembolization, under responsibility of Prof. Assoc. Fernando Gomes Romeiro, approved by this CEP, under opinion 4.705.877, when the ICF was applied. This is a cross-sectional, observational, descriptive study with retrospective collection of radiometric reading reports after discharge from the therapeutic room of lipiodol-131I radioembolization procedures in HCC patients treated between December 2019 and February 2022. The reading locations are standardized and obtained during patient care. Radioactive monitoring of the surface was carried out using a Geiger-Müller counter in the unit of counts per minute (cpm). The reference value considered for background radiation (BG) was the one measured before the patient arrived in the room. Radioactive contamination was considered to be five times higher than the BG value. Descriptive statistics were carried. The data collected is part of the HC’s post-discharge care reports. Results: It was found that the objects that showed the greatest contamination were those for the patient's personal use, such as clothes, towels and toilet bowls, objects handled by the patient such as remote controls and door handles were not contaminated. Conclusion: The sites of contamination after therapy with lipiodol-131I suggest renal and/or intestinal biological excretion, probable contamination of skin and clothing during the TARE procedure and absence of excretion through sweat/hand surfaces. The contaminations were easy to remove, inferring that TARE with lipiodol-131I does not presuppose the adoption of specific radiological containment measures.