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Fraturando o lócus entre labor e fé: narração feminina e representação do sertão em dois romances brasileiros contemporâneos

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Orientador

Santini, Juliana

Coorientador

Costa e Silva, Natali Fabiana da

Pós-graduação

Estudos Literários - FCLAR

Curso de graduação

Título da Revista

ISSN da Revista

Título de Volume

Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Tipo

Tese de doutorado

Direito de acesso

Acesso abertoAcesso Aberto

Resumo

Resumo (português)

A presente tese promove uma leitura decolonial das vozes femininas autodiegéticas em dois romances brasileiros contemporâneos que representam o sertão: Corpo desfeito, de Jarid Arraes (2022) e Torto arado, de Itamar Vieira Junior (2019). O objetivo central é analisar a construção da voz narrativa, destacando de que modo o discurso das narradoras articula estratégias de resistência diante das múltiplas formas de violência que incidem sobre seus corpos no contexto sertanejo, com atenção especial às práticas religiosas e às experiências laborais. A abordagem analítico-interpretativa apoia-se, sobretudo, em categorias da teoria narratológica de Gérard Genette (1972/2017) e no conceito de lócus fraturado, formulado por María Lugones (2014) no horizonte de um feminismo decolonial. Além disso, integram-se ao percurso teórico contribuições de pensadores cujas epistemologias contra-hegemônicas possibilitam a reavaliação crítica de visões forjadas sob a ótica moderna e eurocêntrica. O processo investigativo delineou-se a partir de inquietações despertadas pela leitura crítica de estudos literários que identificam uma tendência recorrente na estrutura de um conjunto emblemático de romances brasileiros: narradores masculinos que contam histórias em que personagens femininas centrais são vítimas de violência e não têm direito à voz na narrativa. Em face disso, buscou-se demonstrar como as obras de Arraes e Vieira Junior apontam para um giro dessa tendência, isto é, como tais narrativas desestabilizam aquele padrão arquitetado em parte da ficção literária brasileira, ao proporem o acesso a vozes femininas que narram sua condição de opressão e sua postura de agência, sendo esta correspondente à transição do silenciamento e da pura condenação para a perspectiva da enunciação. As análises evidenciam que ambos os romances compartilham um conjunto de traços estruturais e temáticos relevantes, entre os quais se destacam: o agenciamento de narradoras negras; a ambientação no sertão nordestino e suas implicações na constituição subjetiva e na atuação das personagens; a crítica à permanência do passado colonial no presente, sobretudo por meio da reiteração de estruturas ligadas à escravidão; a reflexão sobre práticas religiosas e experiências laborais; e a ressignificação tanto do feminino quanto do sertão, concebidos como elementos emblemáticos de resistência e reinvenção. A fé e o labor configuram-se, nesse contexto, como os principais eixos estruturantes da tese, ambos articulados à forma como essas experiências são elaboradas e tensionadas por meio das vozes autodiegéticas. A análise final conduziu à formulação de uma aliança simbólica entre o feminino e o sertão, evidenciando como essas duas instâncias são simultaneamente ressemantizadas, em um movimento que desconstrói os paradigmas tradicionais, inaugurando novas possibilidades de representação.

Resumo (inglês)

This thesis offers a decolonial reading of autodiegetic female voices in two contemporary Brazilian novels that represent the Sertão: Corpo desfeito by Jarid Arraes (2022) and Torto arado by Itamar Vieira Junior (2019). The central objective is to examine the construction of the narrative voice, focusing on how these narrators articulate strategies of resistance in the face of multiple forms of violence that affect their bodies within the context of the Sertão, with particular emphasis on religious practices and labor experiences. The analytical-interpretative approach is primarily grounded in categories from Gérard Genette’s narratological theory (1972/2017) and in the concept of fractured locus, formulated by María Lugones (2014) within the horizon of a decolonial feminism. Additionally, the theoretical framework incorporates contributions from thinkers whose counter-hegemonic epistemologies offer critical reassessments of perspectives shaped by modern Eurocentric paradigms. The investigative process emerged from concerns raised by literary criticism regarding a recurring trend in the structure of canonical Brazilian novels: male narrators recounting stories in which central female characters are victims of violence and are denied narrative voice. In response, this study seeks to demonstrate how Arraes's and Vieira Junior's novels represent a turning point in this pattern by granting narrative agency to female voices that not only recount their experiences of oppression but also articulate resistance. The analyses show that both novels share significant structural and thematic features, including: the agency of Black female narrators; the setting in the northeastern Brazilian Sertão and its implications for the characters’ subject formation and narrative action; a critical stance toward the persistence of colonial legacies, particularly through the repetition of structures linked to slavery; a reflective approach to religious practices and labor experiences; and the redefinition of both femininity and the Sertão as symbolic spaces of resistance and reinvention. Faith and labor emerge as the main structuring axes of the thesis, closely tied to how these experiences are elaborated and contested through autodiegetic narration. The final analysis led to the formulation of a symbolic alliance between the feminine and the Sertão, revealing how both are simultaneously redefined in a movement that destabilizes hegemonic paradigms and reimagines the possibilities of representation.

Resumo (espanhol)

La presente tesis propone una lectura decolonial de las voces femeninas autodiegéticas en dos novelas brasileñas contemporáneas que representan el sertão: Corpo desfeito, de Jarid Arraes (2022), y Torto arado, de Itamar Vieira Junior (2019). El objetivo central es analizar la construcción de la voz narrativa, destacando cómo el discurso de las narradoras articula estrategias de resistencia frente a las múltiples formas de violencia que inciden sobre sus cuerpos en el contexto sertanejo, con especial atención a las prácticas religiosas y a las experiencias laborales. El enfoque analítico-interpretativo se apoya, sobre todo, en categorías de la teoría narratológica de Gérard Genette (1972/2017) y en el concepto de locus fracturado, formulado por María Lugones (2014) en el horizonte de un feminismo decolonial. Asimismo, se integran al recorrido teórico las contribuciones de pensadores cuyas epistemologías contrahegemónicas posibilitan una reevaluación crítica de visiones forjadas bajo la óptica moderna y eurocéntrica. El proceso investigativo se delineó a partir de inquietudes despertadas por la lectura crítica de estudios literarios que identifican una tendencia recurrente en la estructura de un conjunto emblemático de novelas brasileñas: narradores masculinos que cuentan historias en las que personajes femeninos centrales son víctimas de violencia y carecen del derecho a la voz en la narración. Ante ello, se buscó demostrar cómo las obras de Arraes y Vieira Junior apuntan hacia un giro de esa tendencia, es decir, cómo dichas narrativas desestabilizan aquel patrón configurado en parte de la ficción literaria brasileña, al proponer el acceso a voces femeninas que narran tanto su condición de opresión como su postura de agencia, entendida esta como la transición del silenciamiento y la pura condena hacia la perspectiva de la enunciación. Los análisis evidencian que ambas novelas comparten un conjunto de rasgos estructurales y temáticos relevantes, entre los cuales se destacan: el agenciamiento de narradoras negras; la ambientación en el sertão nordestino y sus implicaciones en la constitución subjetiva y en la actuación de los personajes; la crítica a la persistencia del pasado colonial en el presente, sobre todo mediante la reiteración de estructuras ligadas a la esclavitud; la reflexión sobre prácticas religiosas y experiencias laborales; y la resignificación tanto de lo femenino como del sertão, concebidos como elementos emblemáticos de resistencia y reinvención. La fe y el trabajo se configuran, en este contexto, como los principales ejes estructurantes de la tesis, ambos articulados a la forma en que estas experiencias son elaboradas y tensionadas por medio de las voces autodiegéticas. El análisis final condujo a la formulación de una alianza simbólica entre lo femenino y el sertão, evidenciando cómo estas dos instancias son simultáneamente resignificadas, en un movimiento que deconstruye los paradigmas tradicionales e inaugura nuevas posibilidades de representación.

Descrição

Palavras-chave

Itamar Vieira Junior, Jarid Arraes, Narração feminina, Sertão, Religião, Female narration, Labor, Religion, Trabajo

Idioma

Português

Citação

CENEDEZI, M. L. Fraturando o lócus entre labor e fé: narração feminina e representação do sertão em dois romances brasileiros contemporâneos. 2025. 294f. Tese (Doutorado em Estudos Literários) – Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2025.

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