Monitoramento dos efeitos da doença periodontal na reprodução: avaliação microbiológica da cavidade bucal e líquido amniótico de ovelhas gestantes

Abstract

A periodontite é uma doença inflamatória que atinge os tecidos de sustentação dos dentes mediada pela presença de microrganismos que resultam em destruição progressiva do ligamento periodontal e osso alveolar, culminando em perda dentária. Em humanos, associações entre bactérias patogênicas periodontais e problemas gestacionais como nascimento prematuro, baixo peso ao nascer e abortos estão bem estabelecidas. Apesar da patogênese das periodontites em ruminantes ser semelhante à observada em humanos, pouco se conhece sobre a correlação entre esta enfermidade e agravos gestacionais. O objetivo deste estudo foi verificar o impacto das doenças periodontais na gestação ovina pela análise clínica e microbiológica da cavidade bucal e líquido amniótico e monitorar alterações hematológicas, placentárias e peso após o parto de ovelhas gestantes e seus respectivos cordeiros. Foram selecionadas dez ovelhas gestantes clinicamente sadias (OGCS) e dez ovelhas gestantes com periodontite (OGP). Foram avaliadas a cavidade oral, microbiota de biofilme dental, líquido amniótico, hemograma e tecido placentário no momento da expulsão fetal para avaliação de presença de alterações inflamatórias. Verificou-se correlação positiva entre sangramento gengival e supuração (ic=0,54), supuração e gengivite marginal (ic=0,34) e gengivite marginal e edema (ic=0,54). Observou-se menor peso no grupo OGP (p=0,013) e seus respectivos cordeiros (p=0,04), quando comparados ao grupo de ovelhas sadias (OGCS). No perfil microbiológico da cavidade bucal, houve diferença significativa entre a ocorrência de bolsas periodontais e a presença de Fusobacterium necrophorum (p= 0,0328), P. asaccharolytica (p=0.0392) e a classe Mollicutes (p= 0,0352). Houve maior incidência do gênero Staphylococcus; (p=0,9107) e o domínio Archaea (p=0,7245) e uma única amostra de P. asaccharolytica (p=0,2685) no líquido amniótico. O grupo OGP apresentou a maior parte de fêmeas com alterações placentárias (70%) dentre elas presença de macrófagos, neutrófilos e plasmócitos, congestão moderada e áreas multifocais de calcificação. A presença de Fusobacterium necrophorum foi estritamente correlacionada aos casos de periodontite, não atingindo os envoltórios fetais.

Periodontitis is an inflammatory disease that affects the tissues that support the teeth. The presence of microorganisms results in progressive destruction of the periodontal ligament and alveolar bone, culminating in tooth loss. In humans, associations between periodontal pathogenic bacteria and gestational problems such as premature birth, low birth weight and abortions are well established. Although the pathogenesis of periodontitis in ruminants is similar to that observed in humans, little is known about the correlation between this disease and pregnancy disorders. The aim of this study was to verify the impact of periodontal diseases on ovine pregnancy by clinical and microbiological analysis of the oral cavity and amniotic fluid and to monitor hematological, placental and weight changes after delivery of pregnant ewes and their respective lambs. Ten clinically healthy pregnant ewes (OGCS) and ten pregnant ewes with periodontitis (OGP) were selected. The oral cavity, dental biofilm microbiota, amniotic fluid, blood count and placental tissue at the time of fetal expulsion were evaluated to assess the presence of inflammatory changes. There was a positive correlation between gingival bleeding and suppuration (ic = 0.54), suppuration and marginal gingivitis (ic = 0.34) and marginal gingivitis and edema (ic = 0.54). Less weight was observed in the OGP group (p = 0.013) and their respective lambs (p = 0.04), when compared to the healthy sheep group (OGCS). In the microbiological profile of the oral cavity, there was a significant difference between the occurrence of periodontal pockets and the presence of Fusobacterium necrophorum (p = 0.0328), P. asaccharolytica (p = 0.0392) and the Mollicutes class (p = 0.0352). There was a higher incidence of the Staphylococcus genus; (p = 0.9107) and the Archaea domain (p = 0.7245) and a single sample of P. asaccharolytica (p = 0.2685) in the amniotic fluid. The OGP group presented the majority of females with placental alterations (70%), among them the presence of macrophages, neutrophils and plasma cells, moderate congestion and multifocal areas of calcification. The presence of Fusobacterium necrophorum was strictly correlated to cases of periodontitis, not reaching the fetal wraps.