Família, consumo de substâncias psicoativas e trabalho: fatores de vulnerabilidade e de proteção

Abstract

O trabalho é atividade essencial para o homem e a percepção das condições, relações e dos benefícios do trabalho são fatores associados à proteção ou vulnerabilidade. O sofrimento decorrente do trabalho pode influenciar e ser influenciado pelo uso nocivo de substâncias psicoativas (SPA) e a violência doméstica. Devido aos impactos amplos e as relações complexas dessas situações, objetivou-se compreender as condições de vida e de trabalho e o uso de substâncias psicoativas em pessoas envolvidas em queixas de violência em uma delegacia do interior do estado de São Paulo. Trata-se de uma pesquisa de abordagem quanti-qualitativa, os dados foram coletados por meio de consulta a boletins de ocorrência, entrevista semiestruturada e aplicação dos instrumentos: Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT), Escala de Suporte Laboral (ESUL) e Inventário sobre o Trabalho e Riscos de Adoecimento (ITRA) para denunciantes e acusados do ato de violência. Obtiveram-se 24 participantes que assinaram o Termo de Consentimento Livre Esclarecido, 19 participaram das entrevistas. Os dados documentais e da pesquisa de campo foram inseridos em programa de análise quantitativa e os qualitativos foram categorizados conforme o conteúdo e compreendidos com o referencial do pensamento sistêmico e complexo. Prevaleceram mulheres adultas, denunciantes, com relacionamento amoroso rompido com a parte acusada e que possuíam histórico de violência pregressa. A metade dos participantes consumiam medicamentos controlados, 26% álcool, vários vincularam o consumo de SPA à violência, à socialização e ao trabalho. 58% eram trabalhadores informais e 25% estavam desempregados ou eram do lar. Grande parte teve avaliações de custos físicos, cognitivos e emocionais do trabalho, insatisfação com benefícios e conflitos decorrentes do trabalho. Diversos fatores influenciam e são influenciados pela violência doméstica. O contexto familiar, o trabalho, a renda e a escolaridade podem vulnerabilizar ou proteger os sujeitos. A compreensão complexa dos fenômenos é uma lacuna de pesquisa e intervenções embasadas devem ser criadas para reduzir as vulnerabilidades e ampliar a proteção.

Work is an essential activity for man and the perception of the conditions, relationships and benefits of work are factors associated with protection or vulnerability. Suffering from work can influence and be influenced by the harmful use of psychoactive substances (PAS) and domestic violence. Due to the broad impacts and the complex relationships of these situations, the objective was to understand the living and working conditions and the use of psychoactive substances in people involved in complaints of violence in a police station in the interior of the state of São Paulo. This is a research with a quantitative-qualitative approach, data were collected through consultation of police reports, semi-structured interviews and application of instruments: Alcohol Use Disorders Identification Test (AUDIT), Labor Support Scale (ESUL) and Inventory on Work and Risks of Illness (ITRA) for whistleblowers and those accused of the act of violence. There were 24 participants who signed the Informed Consent Term, 19 participated in the interviews. Documentary and field research data were entered into a quantitative analysis program and qualitative data were categorized according to content and understood within the framework of systemic and complex thinking. Adult women, whistleblowers, with a broken romantic relationship with the accused party and who had a history of previous violence prevailed. Half of the participants used prescription drugs, 26% alcohol, several linked the consumption of PAS to violence, socialization and work. 58% were informal workers and 25% were unemployed or housewives. Most had assessments of physical, cognitive and emotional costs of work, dissatisfaction with benefits and conflicts arising from work. Several factors influence and are influenced by domestic violence. The family context, work, income and schooling can make the subjects vulnerable or protect them. The complex understanding of the phenomena is a research gap and informed interventions must be created to reduce vulnerabilities and expand protection.