Plantas medicinais da Mata Atlântica: manejo sustentado e educação ambiental no Vale do Ribeira-SP

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Data

2001

Autores

Di Stasi, Luiz Claudio [UNESP]

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Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

O projeto de extensão e pesquisa que trata o presente texto envolve uma série de atividades voltadas à obtenção e elaboração de estratégias de exploração econômica de recursos florestais aliados à conservação do ecossistema florestal denominado Floresta Tropical Atlântica ou Mata Atlântica. Em adição, o programa foi concebido com o interesse e os objetivos de repasse de dados e resultados obtidos para as comunidades envolvidas, assim como de formar profissionais com capacidade de elaborar e executar projetos de extensão e pesquisa dentro da área de plantas medicinais, manejo sustentado e educação ambiental. A iniciativa deste programa teve origem no ano de 1987, quando inúmeras atividades de pesquisa etnofarmacológica, voltada ao reconhecimento da flora medicinal local, foram iniciadas no extinto Câmpus Avançado da Unesp de Eldorado. Paralelalmente, por necessidade das comunidades locais, iniciaram-se inúmeras atividades de Educação Ambiental junto as escolas da zona rural da região. Após a extinção do antigo Projeto Rondon, as atividades referentes a este programa passaram a ser desenvolvidas no município de Sete Barras, onde além de apoio da Prefeitura local, passamos a atuar juntamente com alguns órgãos oficiais, como Fundação para a Conservação e Produção Florestal/SP, Departamento de Proteção aos Recursos Naturais-SP e Secretaria Estadual do Meio Ambiente-SP e, com organizações não-governamentais como a Associação dos Extratores e Produtores de Plantas Medicinais do Vale do Ribeira e lideranças de comunidades isoladas da região. Com o desenvolvimento de atividades na região, o programa passou a abordar atividades relacionadas aos interesses das comunidades locais, que necessitavam de dados técnicos, que pudessem agregar valor aos produtos comercializados e que permitissem a exploração dos recursos naturais da floresta de forma sustentada. Desta forma, iniciamos um processo de integração com pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina, aliando as atividades de pesquisas etnofarmacológicas, farmacológicas, toxicológicas e fitoquímicas de plantas medicinais com as atividades de manejo sustentado de recursos florestais. A partir de 1995, com o apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e FNMA (Fundo Nacional do Meio Ambiente, Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal), iniciamos um intenso trabalho interdisciplinar voltado ao alcance dos objetivos gerais descritos. Aliando-se os interesses acadêmicos dos grupos conveniados (IBB-UNESP e CCA-UFSC) com os interesses das comunidades, elaboramos um programa de ação envolvendo as seguintes atividades: 1. Seleção de espécies para a realização tanto de estudos fitoquímicos, farmacológicos e toxicológicos (voltados a obtenção de dados que validassem os produtos e aumentassem seu valor no mercado), como para os estudos de manejo sustentado (voltados a elaboração de estratégias de exploração com amnutenção da cobertura vegetal); 2. Programa de Educação Ambiental com professores da rede oficial de ensino da região (voltado para a valorização da cultura tradicional e conscientização da necessidade de conservação do ecossistema); 3. Programa de formação de recursos humanos para atuarem nas áreas relativas ao projeto e, 4. Participação e integração com os órgãos oficiais da região visando a elaboração de políticas de exploração dos recursos naturais. Das 114 espécies catalogadas, por meio de pesquisas de levantamentos etnofarmacológicos, foram selecionadas 9 espécies para a realização de estudos de manejo sustentado, das quais 6 foram incorporadas aos estudos de farmacologia, toxicologia e fitoquímica, que atualmente envolve ainda a pesquisa de mais 7 espécies medicinais da região. As 6 espécies estudadas em ambos aspectos representam importantes produtos de comercialização e fonte de renda para a população local, que necessitam de dados que técnicos que, de um lado, garantam sua exploração de forma sustentada e, de outro, permitam a agregação de valor aos produtos comercializados. A implementação de um programa desta natureza envolveu uma série de etapas, muitas delas intercaladas em determinados momentos. A etapa inicial é representada pela inserção dos pesquisadores na comunidade, tendo em vista o reconhecimento da área de atuação, a identificação das características e necessidades da região e consequente análise das possibilidades de colaboração. Esta etapa, reputamos como a mais difícil, longa e também a mais importante pois dela dependem todas as atividades subsequentes do projeto. É justamente na inter-relação universidade-comunidade que se forma a base para o desenvolvimento das ações conjuntas. Se ocorrem problemas nesta etapa, não há como se chegar a objetivos de interesse comum, talvez se alcance objetivos de uma das partes envolvidas, em geral do pesquisador, mas como atividade de extensão esta não é nossa prioridade e, não deve ser de nenhum projeto de extensão universitária. Considerando-se nossa área de atuação, a realização do levantamento etnofarmacológico na região representou um período de intenso contato com a comunidade, permitindo de um lado, a recuperação de parte do conhecimento tradicional sobre uso de espécies vegetais como medicamento e, de outro o reconhecimento e valorização desta cultura pelos habitantes locais, sendo este um dos principais objetivos do programa de Educação Ambiental. Etapas posteriores caracterizaram-se pela seleção de espécies para os estudos de campo e laboratoriais, a qual representa a tomada dos caminhos seguintes das atividades. Esta etapa foi decisiva na continuidade da boa inter-relação universidade-comunidade e, se a opção de continuidade não contemplasse os interesses locais, não haveria como sustentar por muito tempo a inter-relação. De forma mais específica, aliamos os interesses de ambas as partes nesta etapa e os estudos posteriores permitiram o alcance de vários dos objetivos propostos, com consequente manutenção do padrão de inter-relação estabelecido. De forma geral, ambas etapas citadas também são determinantes ao bom andamento de um programa de extensão, enquanto que as etapas subsequentes, que envolvem os estudos de campo e laboratoriais, representam na verdade, atores coadjuvantes no estabelecimento destas relações. Por outro lado, são estes dados técnicos, laboratoriais ou de campo, que vão garantir a elaboração das estratégias futuras de ação e, permitir o alcance dos objetivos, desde que todos estes dados sejam disponibilizados para os interessados diretos. Obstáculos são muitos e geralmente transponíveis desde que a base de inter-relação seja bem estabelecida. No entanto, adiam o alcance dos objetivos, especialmente aqueles relacionados à obtenção de recursos para execução. Na prática, outros componentes limitam a realização de atividades de extensão, geralmente relacionados à falta de infraestrutura para acesso aos locais de atuação e pequeno reconhecimento da importância das atividades de extensão pela comunidade acadêmica. Considerando-se o local de atuação, limites e obstáculos, muitas vezes são colocados devido aos distintos interesses nas atividades e objetivos a serem alcançados. De um lado os interesses das comunidades e, do outro, das lideranças políticas locais. Geralmente, não são os mesmos, sendo muitas vezes antagônicos. Problemas desta natureza, muitas vezes, tornam-se insolúveis e outras, requerem a tomada de uma posição do pesquisador envolvido, a qual pode, ou comprometer o andamento do trabalho nas comunidades, ou ver dificultada sua atuação devido aos interesses políticos locais. Com as atividades desenvolvidas até o presente momento, inúmeros resultados foram obtidos, muitos dos quais com valor direto para a população local. Destaca-se os importantes resultados obtidos na elaboração de estratégias de manejo sustentado de 9 espécies medicinais, com dados avançados para algumas das prioritárias e que estão sendo intensamente estudados pelos participantes do projeto da UFSC. Em adição, já está em fase adiantada de produção final, um catálogo de plantas medicinais utilizadas no Vale do Ribeira, o qual contem tanto as informações populares como os dados de botânica, farmacologia, toxicologia, fitoquímica e agronômicos disponíveis para cada uma das 114 espécies catalagodas. Várias das espécies selecionadas também estão em fase final de estudos de farmacologia, toxicologia e fitoquímica, destacando-se alguns resultados que comprovam a eficácia de algumas espécies, exploradas comercialmente. Por outro lado, devemos destacar que devido nossa intensa atuação na região, assim como pelas características do projeto, foi possível atuar ativamente na elaboração de minutas de legislação de exploração de recursos naturais de interesse farmacológico, assim como na legislação de controle de acesso aos recursos genéticos florestais do ecossistema Mata Atlântica. Esta colaboração, permitiu que uma portaria e uma resolução fossem recentemente editadas pelo Governo do Estado de São Paulo, fato que representa um avanço no processo de regulamentação do assunto em nosso estado. Finalmente devemos salientar que o programa até o presente permitiu a participação e formação de 16 alunos de graduação e de 5 de prós-graduação, muitos dos quais ainda autando intensamente no projeto e outros dentro da área de alcance do projeto.

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