Morcegos, ecologia e saúde pública

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Data

2001

Autores

Uieda, Wilson [UNESP]

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Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

Os morcegos são os únicos mamíferos com capacidade de voar. Compreendem a segunda maior ordem de mamíferos (Chiroptera) com cerca de mil espécies distribuídas em todo o mundo. Podem viver em uma diversidade grande de habitats onde utilizam vários tipos de abrigos, como cavernas, fendas de rochas, ocos-de-árvore, folhagem e edificações. Exploram uma grande gama de itens alimentares tais como insetos, outros artrópodos, frutos, partes florais, pequenos vertebrados e sangue de vertebrados endotérmicos. Por causa disso, os morcegos podem trazer vários benefícios à natureza e ao próprio homem, além de alguns prejuízos. De modo geral, os morcegos insetívoros podem controlar populações de insetos em ambientes urbanos e naturais e de alguns insetos-pragas agrícolas. Contudo, quando estes morcegos se abrigam em construções, sua presença pode não ser tolerada pelas pessoas, principalmente quando em grandes concentrações. Além disso, as pessoas costumam reclamar também das fezes acumuladas no chão e/ou no sotão das casas e do "barulho" que os morcegos fazem a noite. Os morcegos nectarívoros e frugívoros são responsáveis pela manutenção das nossas florestas, seja polinizando ou dispersando sementes de diversas plantas tropicais. Por outro lado, em ambientes urbanos e rurais (pomares e outras plantações) esses morcegos podem provocar transtornos à população e certos prejuízos econômicos ao danificar frutos. Plantas de arborização de ruas e praças tem sido freqüentemente utilizados por esses morcegos fitófagos e são comuns as reclamações da população em relação aos "bandos de morcegos" voando ao redor das árvores e em relação à "sujeira" (fezes e bagaços) deixada pelos morcegos nas paredes e chão das casas e outras edificações. Outros tipos de morcegos geralmente não ocorrem em áreas urbanas, estando restrito às áreas rurais e naturais, trazendo pouco ou nenhum malefício ao homem. A única exceção à regra é o morcego vampiro comum Desmodus rotundus, que é encontrado freqüentemente em ambientes rurais e tem sido atualmente também registrado em algumas grandes cidades brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém e Teresina. Cães e, em alguns casos, seres humanos tem sido suas vítimas urbanas. Duas zoonoses tem sido freqüentemente associadas aos morcegos: raiva e histoplasmose. A raiva é uma doença nervosa típica dos mamíferos que afeta o sistema nervoso central e não há cura. Os mamíferos carnivóros estão diretamente relacionados com sua transmissão, principalmente o cão. Entre outros grupos de mamíferos, os morcegos se destacam pela possibilidade de transmissão, principalmente pelo vampiro comum. Contudo, outras espécies tem potencialidades para transmitir principalmente quando indivíduos doentes são manipulados por pessoas não treinadas. Nos Estados Unidos, morcegos insetívoros tem sido associados a ocorrência de raiva humana, uma vez que a raiva canina encontra-se controlada. No Brasil, esse papel é atribuído basicamente a D. rotundus, uma vez que seus ataques ao homem não são raros. A histoplasmose é uma doença causada por fungos que podem crescer sobre as fezes úmidas dos morcegos. É mais freqüente em ambientes cavernícolas, mas também tem sido encontrado em edificacões urbanas. Em face ao exposto acima, nossa atuação na Unesp-Botucatu vem sendo desenvolvida desde 1991 e tem sido implementada da seguinte forma, como abaixo enumerada: 1) Atendimento de reclamações da população leiga, feitas por telefone ou pessoalmente, pedindo orientação para os "problemas" causados por morcegos. Quando o chamado vem de pessoas da região de Botucatu, temos atendido e analisado pessoalmente. Porém, quando o chamado vem de fora a orientação é feita por telefone e, na maior parte das vezes, tem deixado a desejar. Tem sido mais comuns os chamados relatando a presença de morcegos em edificações e nas plantas da arborização urbana. 2) Atendimento de reclamações que relatam agressões de morcegos hematófagos aos animais de criação, principalmente bovinos, equinos e aves. Esse tipo de reclamação tem sido passado diretamente à Casa da Agricultura de Botucatu que possuía uma equipe para atender esse tipo de pedido. Em 1998, essa equipe deixou de existir. Recentemente tomamos conhecimento de que o EDA (Escritório de Defesa Agropecuária, Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento) de Botucatu está executando esse serviço, mas ainda não tivemos oportunidade de acompanhar sua atuação. Acredito na possibilidade de uma atuação conjunta, visando melhor atender a população. 3) Assessoria a Instituições de Saúde Pública nos problemas relacionados aos morcegos, desenvolvida desde 1991. Os morcegos tem sido considerados como o segundo maior transmissor de raiva aos seres humanos no Brasil. Nos últimos anos, diversos casos de raiva em morcegos hematófagos e não-hematófagos tem sido registrados no Estado de São Paulo, principalmente nas regiões de São José do Rio Preto, de Campinas e de São Paulo. Tenho prestado assessoria aos seguintes órgãos: Instituto Pasteur, Gerência de Controle de Zoonoses do Distrito Federal, Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo e Fundação Nacional de Saúde (FNS). Dessa colaboração, tem surgido algumas medidas de ordem prática, como: normas para orientação de técnicos, da população leiga, produção de cartazes, folders, cursos de treinamento de técnicos da saúde e da agricultura e um manual sobre morcegos urbanos e rurais (117 páginas, publicado pela FNS em 1996 e 1998, com tiragem de 11.000 exemplares). Nessa assessoria, também temos orientado pesquisas sobre bio-ecologia, manejo e controle de populações de morcegos, desenvolvidas por técnicos dessas instituições. Nossa atenção atualmente está mais voltada para os casos de ataques de morcegos hematófagos aos seres humanos em ambientes urbanos de grandes cidades e de povoados isolados. 4) Ministrar palestras para adultos e crianças de modo a divulgar a importância dos morcegos para o homem e para a natureza, visando a conservação desses animais. Esta é uma atividade nova, iniciada em 1999 e que deverá ser incentivada. A participação da Unesp nessas atividades tem se restringido a: a) autorizar a participação do docente e seus alunos, mantendo o salário do docente; b) emprestar alguns equipamentos básicos. A maioria desses equipamentos pertence ao próprio docente ou aos alunos. Consideramos que isso é muito pouco para uma instituição do porte da Unesp. A nossa instituição não tem recebido benefícios com as nossas atividades de Extensão, pois os materiais produzidos, com nossa participação, são creditados aos órgãos patrocinadores. A Unesp tem sido citada apenas como nosso endereço profissional e acadêmico. Assim, esperamos que a universidade incremente sua participação, o que, com certeza, deverá melhorar substancialmente essas atividades de extensão, com retorno para a própria instituição. As atividades que gostaríamos de ver incrementadas: 1) Um serviço de atendimento da população com possibilidades de resolver os problemas causados tanto por morcegos hematófagos como por não-hematófagos. 2) Produção de materiais (folhetos, folders, cartazes, adesivos, etc.), custeadas pela iniciativa privada e Unesp, para de divulgação, palestras e cursos, visando a conservação dos morcegos e de sua importância para a saúde pública. Além disso, incentivar a publicação de livros didáticos infantis e técnicos. Todos esses materiais e serviços poderiam ser colocados à disposição da população a um custo acessível e com recursos revertidos para estas atividades. Desse modo, esta prestação de serviço à comunidade poderá ser futuramente auto-suficiente.

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