Indígenas na Escola Médica no Brasil: experiências e trajetórias nas universidades federais

Carregando...
Imagem de Miniatura

Data

2021-02-25

Autores

Luna, Willian Fernandes

Título da Revista

ISSN da Revista

Título de Volume

Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

A trajetória do ensino superior no Brasil, em especial, da graduação em medicina, é marcada pela restrição a um grupo privilegiado da população. Nas últimas duas décadas, a partir de reinvindicações do movimento indígena, ações afirmativas foram sendo desenvolvidas para garantir o direito de acesso a essa população, o que possibilitou o ingresso de indígenas em escolas médicas no país. Esta pesquisa teve como objetivo compreender as experiências e trajetórias de indígenas que cursavam a graduação em medicina em universidades federais brasileiras, entre os anos de 2018 a 2020, a partir de suas narrativas. Buscou-se compreender as estratégias que possibilitaram o ingresso nos cursos; analisar as vivências destes estudantes no processo de ingresso e permanência; reconhecer o encontro entre as suas vivências histórico-culturais e os conhecimentos ofertados na graduação; descrever projetos e perspectivas de atuação futura. A pesquisa foi de abordagem qualitativa, com uso de questionário, entrevistas narrativas individuais, rodas de conversa e diário de campo. Identificou-se 43 cursos de medicina com presença de indígenas, realizando-se encontros presenciais em 14 escolas médicas, com participação de 40 estudantes, de 25 diferentes povos indígenas. Realizou-se análise temática de conteúdo, com definição das categorias: acesso e políticas de permanência na universidade; alteridade na escola médica; sofrimento e resiliência; identidade e coletividade; experiências na e para a saúde indígena. Por meio dos encontros presenciais, ficou estampada a multiplicidade de experiências e trajetórias, característica marcante dos universitários indígenas nas instituições. O ingresso nos cursos se deu quase que exclusivamente por ações afirmativas. Percebe-se que a graduação em medicina oferta uma formação baseada na biomedicina e na exclusão de outras racionalidades, dentre estas, as indígenas. A escola médica está composta por um grupo pouco acolhedor aos indígenas, com relações marcadas por posturas de preconceito, intolerância e tutela. Geram-se, assim, sofrimentos e perdas, de modo que tais estudantes buscam elaborar estratégias de resiliência para sobreviver às adversidades e permanecer no curso. A vivência universitária provoca o movimento de se afirmarem enquanto coletivo de povos indígenas e possibilita assumirem o protagonismo em construções possíveis. O curso de medicina não desenvolve aspectos relacionados à saúde indígena, todavia, a presença dos indígenas provoca discussões e possibilidades para o desenvolvimento de atividades relacionadas ao tema. Os indígenas mantêm suas relações com as comunidades de origem e possuem expectativas de atuarem em atividades relacionadas à saúde indígena após a graduação. Uma outra questão a ser destacada é a possibilidade de trazerem contribuições para a necessária transformação da escola médica. Por fim, as experiências e as trajetórias desses estudantes na escola médica revelam construções na direção de seu protagonismo e de possíveis e desejáveis autorias indígenas no sentido acadêmico, científico, político, epistemológico e para as práticas de cuidado em saúde.
The history of higher education and especially of medical training in Brazil is marked by the restriction to privileged groups of the population. In the last two decades, the affirmative actions based on claims made by the indigenous movement were developed to guarantee access rights of this population, allowing Brazilian indigenous people to access medical education. This research aimed to understand the experiences and trajectories of indigenous people who studied medicine at Brazilian federal universities, between 2018 and 2020, based on their narratives. We sought: to understand the strategies that allowed them to get a place in the courses; to analyze their experiences in the admission and permanence process; to understand the encounters between their historical-cultural experiences and the knowledge offered during training; to describe projects and prospects for future action. The research used a qualitative approach, using a questionnaire, individual narrative interviews, conversation rounds and a field diary. The research identified 43 medical courses with presence of indigenous people, conducting face-to-face meetings in 14 medical schools, with the participation of 40 students from 25 different indigenous peoples. Thematic content analysis was carried out, using the following categories: access and permanence policies at the university; otherness in the medical school; suffering and resilience; identity and collectivity; experiences in and for indigenous health. Through face-to-face meetings, a plethora of experiences and trajectories were revealed, a hallmark of indigenous university students in institutions. Admission happened almost exclusively through affirmative actions. It is perceived that the graduation in medicine offers training based on biomedicine and the exclusion of other rationales, among them the indigenous ones. The medical schools encompass a group that is not welcoming to the indigenous people, with relationships marked by attitudes of prejudice, intolerance and guardianship, generating suffering and losses. These drawbacks force them to develop resilience strategies in order to survive adversity and hold on. The university experience provokes the movement to assert themselves as a collective of indigenous peoples making it possible to assume the leading role in possible constructions. The medical courses do not develop aspects related to indigenous health; however, the presence of indigenous people raises discussions and possibilities for the development of activities related to that topic. The indigenous people keep their relations with the communities of origin and have expectations of working in activities related to indigenous health after graduation. Another remarkable issue is the possibility of bringing up contributions to the necessary transformation of the medical school. Finally, the experiences and trajectories of these students in the medical school reveal constructions towards their role as well as possible and desirable indigenous authorship in the academic, scientific, political, epistemological sense, including health care practices.
La trayectoria de la educación superior en Brasil, y especialmente la graduación médica, está marcada por estar restringida a un grupo privilegiado de la población. En las últimas dos décadas, a partir de reclamos del movimiento indígena, se han desarrollado acciones afirmativas para garantizar el derecho de acceso a esta población, permitiendo el ingreso de indígenas a las facultades de medicina del país. Esta investigación tuvo como objetivo entender las experiencias y trayectorias de los pueblos indígenas que estudiaron medicina en las universidades federales brasileñas, entre los años 2018 a 2020, a partir de sus narrativas. Se buscó comprender las estrategias que les permitieron ingresar a los cursos; analizar las experiencias de estos estudiantes en el proceso de admisión y permanencia; reconocer el encuentro entre sus experiencias históricas y culturales y los conocimientos ofrecidos durante la graduación; describir proyectos y perspectivas de acción futura. La investigación utilizó un enfoque cualitativo, utilizando un cuestionario, entrevistas narrativas individuales, círculos de conversación y un diario de campo. Se identificaron 43 cursos de medicina con presencia de pueblos indígenas, con encuentros presenciales que se desarrollaron en 14 facultades de medicina, con la participación de 40 estudiantes, de 25 pueblos indígenas diferentes. Se realizó un análisis de contenido temático, con definición de las categorías: políticas de acceso y permanencia en la universidad; alteridad en la facultad de medicina; sufrimiento y resiliencia; identidad y colectividad; experiencias en y para la salud indígena. A través de encuentros presenciales, hubo una plétora de experiencias y trayectorias, seña de identidad de los estudiantes universitarios indígenas en las instituciones. La admisión a los cursos se realizó casi exclusivamente a través de acciones afirmativas. Se advierte que la graduación en medicina ofrece una formación basada en la biomedicina con exclusión de otras racionalidades, entre ellas las indígenas. Las facultades de medicina están compuestas por colectivos poco acogedores con los indígenas, con relaciones marcadas por actitudes de prejuicio, intolerancia y tutela. Así, se generan sufrimientos y pérdidas, por lo que buscan desarrollar estrategias de resiliencia para sobrevivir y mantenerse en el proceso. La experiencia universitaria provoca al movimiento para afirmarse como colectivo de pueblos indígenas, que le permita asumir el protagonismo en posibles construcciones futuras. El curso de medicina no desarrolla aspectos relacionados con la salud indígena, sin embargo, la presencia de indígenas provoca discusiones y posibilidades para el desarrollo de actividades relacionadas con este tema. Los indígenas mantienen sus relaciones con las comunidades de origen y tienen expectativas de trabajar en actividades relacionadas con salud indígena después de graduados. Finalmente, las experiencias y trayectorias de estos estudiantes en la facultad de medicina revelan construcciones hacia su rol, así como la posible y deseable autoría indígena en el sentido académico, científico, político, epistemológico y para las prácticas de salud.

Descrição

Palavras-chave

Educação de graduação em medicina, População indígena, Ações afirmativas, Saúde das populações indígenas, Narrativa, Ensino superior, Education medical undergraduate, Indigenous population, Public policy, Health of indigenous peoples, Narration, Education, higher, Educación de pregrado en medicina, Población indígena, Política pública, Salud de poblaciones indígenas, , Educación superior

Como citar