Variação histórica e espacial do regime de fogo do Cerrado paulista

Carregando...
Imagem de Miniatura

Data

2021-03-03

Autores

Conciani, Dhemerson Estevão

Título da Revista

ISSN da Revista

Título de Volume

Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

O Cerrado ocupa 25% do território brasileiro, sendo considerado o segundo maior bioma do país, atrás apenas da floresta Amazônica. Nas últimas décadas o Cerrado experimentou um rápido declínio em sua vegetação nativa, sendo substituído principalmente por agricultura e pastagem. Hoje, menos de 8% do Cerrado encontra-se legalmente protegido no Brasil. Considerando o contexto do estado de São Paulo (SP), esta situação é ainda pior e menos de 1% da cobertura original do Cerrado encontra-se protegida. Neste cenário, os poucos remanescentes de vegetação nativa que restaram no estado de SP estão abrigados no interior de Unidades de Conservação (UC). Por sua vez, essas UCs possuem áreas que variam desde 200 hectares (ha) até 9000 ha, sendo consideradas relativamente pequenas quando comparadas à UCs de Cerrado em outros estados do Brasil. Considerando a raridade de áreas protegidas no Cerrado paulista, a conservação efetiva dessas UCs é fundamental para garantir a provisão de serviços ecossistêmicos e a preservação da biodiversidade. Contudo, as atividades desenvolvidas na zonas de amortecimento (ZA), isto é, no entorno imediato dessas UCs, impactam negativamente sobre a conservação, contribuindo para disseminação de espécies invasoras e na ignição de queimas acidentais e criminosas. Buscando contribuir no entendimento dessa dinâmica, nós desenvolvemos um algoritmo, geramos e validamos um produto de áreas queimadas adaptado para o contexto do Cerrado paulista entre 1985 e 2018 (acurácia= 79%, erro de omissão= 16%, erro de comissão= 9%). Através de uma análise combinada entre os padrões de área queimada e as mudanças no uso e cobertura do solo nas últimas três décadas, nós identificamos que o padrão de queimadas no Cerrado paulista pode ser explicado pelo tipo de uso do solo. De um modo geral, o regime de fogo nesta região pode ser caracterizado como antrópico, ocorrendo principalmente em áreas de pastagem e cultivos de cana-de-açúcar. As UCs com cobertura predominantemente florestal não queimaram ou pouco queimaram ao longo da série temporal analisada. Por outro lado, picos de área queimada foram identificados a cada 8-9 anos para as UCs campestres enquanto ciclos de queima a cada 2-3 anos foram identificados nas UCs com densa invasão por gramíneas africanas. Novas estratégias de manejo que deem autonomia e segurança jurídica para os gestores prescreverem queimas controladas precisam ser implementadas no Cerrado paulista, especialmente nas UCs campestres. Por outro lado, as UCs densamente invadidas por gramíneas africanas coincidem com áreas de conflito fundiário e/ou forte pressão urbana. Nesse contexto, é preciso buscar alternativas de restauração para essas áreas e fomentar a inclusão das comunidades locais em um modelo de gestão participativa como forma de mitigar os efeitos das pressões antrópicas e aumentar a efetividade de conservação dessas áreas.
Cerrado cover 25% of the Brazilian territory, being considered the second-largest biome in the country, only behind the Amazon rainforest. In recent decades, the Cerrado has experienced a rapid decline in its native vegetation, being replaced mainly by agriculture and pasture. Recently, less than 8% of the Cerrado is legally protected in Brazil. Considering the context of the state of São Paulo (SP), this situation is even worse and less than 1% of the original Cerrado area is protected. In this scenario, the fewer remnants of native vegetation that currently occurs in the state of SP are sheltered inside Protected Areas (PA). Area of these PAs ranges from 200 hectares (ha) to 9000 ha, being considered relatively small when compared to Cerrado PAs in other Brazilian regions. Considering the rarity and context of PAs in the São Paulo's Cerrado, the effective conservation of these PAs is essential to guarantee the provision of ecosystem services and the biodiversity conservation. However, the activities carried out in the buffer zones (BZ), that is, in the immediate surroundings of these PAs, negatively impact conservation, contributing to the spread of alien species and the ignition of accidental and arson fires. To contribute to the understanding of this dynamic, we developed an algorithm, generated and validated a product of burned areas adapted to the context of the São Paulo's Cerrado between 1985 and 2018 (accuracy = 79%, omission error = 16%, commission error = 9%). Through a combined analysis of burnt area patterns and changes in land use and land cover over the last three decades, we identified that the burned area pattern in the São Paulo's Cerrado can be explained by the type of land use. In general, the fire regime in this region can be considered as anthropogenic, occurring mainly in pasture areas and sugarcane crops. PAs with predominantly forest cover did not burn or burned few times over the analyzed time series. On the other hand, peaks of burned area were identified every 8-9 years within grassland PAs, while burning cycles every 2-3 years were identified in PAs with dense invasion by African grasses. New management strategies that provide autonomy and legal security to PA managers to execute prescribed fires needs to be implemented in São Paulo's Cerrado, mainly in grassland PAs. On the other hand, PAs densely invaded by African grasses coincide with areas of land conflict and/or strong urban pressure. In this context, it's necessary to seek restoration alternatives for these degraded PAs as well encourage the inclusion of local communities in a participative management model as a way to mitigate the effects of human pressures and increase the effectiveness of the São Paulo's Cerrado conservation.

Descrição

Palavras-chave

Ecologia do fogo, Ecologia vegetal, Unidades de conservação, Aprendizagem de máquina, Sensoriamento remoto, Landsat, Fire Ecology, Plant Ecology, Protected areas, Machine learning, Remote sensing

Como citar