Imprensa, história e memória no Brasil: representações de um passado presente

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Data

2021-09-24

Autores

Esteves, Gabriel Papa Ribeiro [UNESP]

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Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

Esta pesquisa busca compreender a relação entre a mídia impressa, a sociedade brasileira e a memória histórica do golpe de 1964 e do regime autoritário que dele se sucedeu, uma ditadura civil-militar, para captar como têm sido elaboradas representações históricas deste passado (recente e latente) no espaço público da grande imprensa de massas nacional. O passado em questão deixou marcas, consequências e continuidades profundas nesta sociedade. Escolhemos pesquisar a cobertura feita pelo jornal Folha de S. Paulo, pelo fato de ser um meio de comunicação influente na articulação de discussões públicas no país e por ter uma circulação diária nacional significativa, desde a época do golpe de 1964 até mais de 50 anos depois, e ter um grande alcance de suas ideias e ideais na sociedade. Visamos analisar, comparativamente, amostragens dos editoriais das edições da Folha de S. Paulo que trataram a ditadura e o golpe de 1964 dentre 1993 (ano em que se confirmou por plebiscito o sistema presidencialista no Brasil após a promulgação da constituição cidadã em 1988) e 2014 - período cujo periódico estava totalmente digitalizado à época desta pesquisa - para tentar esclarecer quais narrativas tem sido elaboradas e difundidas continuamente, no espaço público das mídias impressas acerca de um tema tão controverso no período de redemocratização brasileira. Nossa hipótese é de que, nos anos que se seguiram após a reabertura política e a promulgação da Constituição de 1988, a Folha de S. Paulo reproduziu representações em suas narrativas e enquadramentos que trataram a derrubada do governo legítimo de João Goulart de maneira ambígua e tratou o golpe de 1964 e a ditadura civil-militar como processos distintos, representando-os como um passado encerrado, sem elaborar um esclarecimento crítico acerca de suas inflexões e relações institucionais com a ditadura no presente e sem caracterizá-los majoritariamente como continuidades da história patriarcal, autoritária e aristocrática brasileira, mas sim como uma exceção, na medida em que seguiu esquecendo seu papel de apoio ao regime ditatorial para se representar como o jornal da democracia, relacionando historicamente as esquerdas políticas ao autoritarismo, à corrupção e ao radicalismo, enquanto atuava institucionalmente em sua linha editorial de acordo com interesses que tendem a estar relacionados às forças de centro-direita ao passo que seus enquadramentos se pautam em alinhamento discursivo de cunho ideológico e econômico que tende a contrapor o liberalismo ao nacional-desenvolvimentismo, tomando lado em defesa do (neo)liberalismo, ao mesmo tempo em que aciona interpretações contra as forças políticas e sociais de centro-esquerda.
This research seeks to understand the relationship between print media, Brazilian society and the historical memory of the 1964 coup and the authoritarian regime that followed, a civilmilitary dictatorship, to capture how historical representations of this past latent) in the public space of the great national mass media. The past in question left marks, consequences and deep continuities in this society. We chose to research the coverage made by the Folha de S. Paulo newspaper, because it is an influential means of communication in the articulation of public discussions in the country and for having a significant national daily circulation, from the time of the 1964 coup to more than 50 years later, and also a great reach of his ideas and ideals in the society. We aimed to analyze, comparatively, samplings of the editorials of the Folha de S. Paulo editions that dealt with the dictatorship and the 1964 coup of 1993 (year in which the presidentialist system in Brazil was confirmed by plebiscite after the promulgation of the citizens' constitution in 1988) and 2014 - a period whose journal was fully digitized at the time of this research - to try to clarify which narratives have been elaborated and disseminated continuously, in the public space of print media about a subject so controversial in the period of Brazilian redemocratization. We start from the hypothesis that during this period, the discourses reproduced by the newspaper, despite criticism of the coup and dictatorship, justified this moment as something that came to avoid worse, legitimizing a relativist narrative regarding the regime and its controversy and controversies that , once justified, become possible in the face of crises, since they are already continually and systematically justified in the daily life of the public sphere, producing, in common sense, the conviction that, under exceptional conditions, dictatorships are necessary, which in practice maintains the democratic state of law under constant threat.

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Palavras-chave

Poder, Mídia, Memória, Ditadura, História do Brasil, Imprensa, Power, Media, Memory, Dictatorship, History of Brazil, Democracy

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