Sem olhos ao entardecer: reminiscências de uma identidade e o enfrentamento do estigma

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Data

2022-12-08

Orientador

Silva, Nilson Rogério da

Coorientador

Pós-graduação

Educação - FFC

Curso de graduação

Título da Revista

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Título de Volume

Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Tipo

Tese de doutorado

Direito de acesso

Acesso abertoAcesso Aberto

Resumo

Resumo (português)

A descrença acerca das capacidades de pessoas com deficiência é resultante da interpretação negativa da sociedade, ao que o sociólogo Erving Goffman denominou Estigma. Para a teoria goffmaniana, a deficiência significada como um atributo profundamente depreciativo torna o estigmatizado inferior, incapaz e menos humano. Desta forma, aprende a desempenhar na sociedade o papel que lhe cabe e permanece marginalizado como consequência da identidade deteriorada. Nesta perspectiva, o objetivo deste estudo foi identificar e analisar as estratégias de enfrentamento do estigma, a partir da história de vida de uma mulher com cegueira adquirida após sofrer uma brutal agressão. A hipótese é que a pessoa com deficiência pode não se constituir passiva diante da estigmatização, mas construir uma identidade de resistência por meio de estratégias de enfrentamento que contrarie as expectativas da sociedade e legitime a própria humanidade. Utilizamos o método História de Vida composto por diferentes instrumentos além do relato oral. Beatriz, em primeira pessoa, narrou a sua trajetória dentro dos padrões de normalidade e os caminhos percorridos para a construção de nova identidade ou ressignificação sob a perspectiva dos estigmatizados. Para além de mera narrativa, Beatriz participou de todas as fases da pesquisa, desde as tomadas de decisões sobre a construção de sua história até a análise dos dados. De forma pouco habitual em estudos que utilizaram o método História de Vida no Brasil, o protagonismo de Beatriz enquanto participante do estudo e não apenas objeto de pesquisa, demonstrou o crescimento em criticidade, empoderamento e transformação da personagem, assim como da pesquisadora. A análise narrativa compreendeu o modelo omnicompreensivo em que o pesquisador direciona cinco olhares para a história contada, que garantam o respeito, fidedignidade e sensibilidade às suas particularidades. Os resultados revelaram a luta silenciosa e solitária no enfrentamento do estigma e construção da identidade social diferente da imposta pela sociedade. Estrategicamente, a protagonista escolheu a profissão que pode realizar de forma autônoma e que lhe concebeu um novo status, de mulher independente e capaz. Manipulou a tensão deste encontro com pessoas sem deficiência, escondeu a desfiguração para não os afastar, não se retraiu ou confrontou de forma agressiva aqueles que duvidaram das suas capacidades como pressupôs Goffman, antes, preferiu conceder-lhes momentaneamente as respostas sanando curiosidades e demonstrando tudo o que é capaz de realizar. Operou com signos e símbolos demonstrando a importância que tais códigos possuem nas interações humanas e que são esquecidos ou desconhecidos pelas pessoas com cegueira. A escolha estratégica do que poderia realizar sem a visão, a manipulação das informações e tensões, o acobertamento da desfiguração e a adoção dos códigos em interação social permitiram que por meio do trabalho se distanciasse da imagem deteriorada, incapaz, menos humana, aproximando-se daquela capaz de ajudar, realizar, ter independência, autonomia e acima de tudo, humanidade. Consideramos que a transformação de Beatriz nos afeta a todos, os ditos normais, levando-nos à reflexão sobre qual tem sido também o nosso papel no enfrentamento. A história de Beatriz nos conduz a um novo olhar para a sociedade e para a teoria. O leitor encontrará neste estudo, um diálogo com Goffman por meio da protagonista, um método democrático e emancipatório de fazer pesquisa e uma história de resistência à identidade deteriorada no enfrentamento do estigma.

Resumo (inglês)

Disbelief about the capabilities of people with disabilities is the result of society's negative interpretation, which sociologist Erving Goffman called Stigma. For the Goffmanian theory, disability signified as a deeply derogatory attribute makes the stigmatized person inferior, incapable and less human. In this way, they learn to play their role in society and remain marginalized as a result of their deteriorated identity. In this perspective, the objective of this study was to identify and analyze strategies for coping with stigma, based on the life story of a woman with acquired blindness after suffering a brutal aggression. The hypothesis is that the disabled person may not be passive in the face of stigmatization, but build an identity of resistance through coping strategies that go against society's expectations and legitimize humanity itself. We used the Life History method composed of different instruments in addition to the oral report. Beatriz, in the first person, narrated her trajectory within the standards of normality and the paths taken to build a new identity or re-signification from the perspective of the stigmatized. In addition to mere narrative, Beatriz participated in all phases of the research, from decision-making about the construction of her story to data analysis. Unusually in studies that used the History of Life method in Brazil, Beatriz's protagonism as a participant in the study and not just an object of research, demonstrated the growth in criticality, empowerment and transformation of the character, as well as of the researcher. Narrative analysis comprised the omni-comprehensive model in which the researcher directs five looks at the story told, which guarantee respect, reliability and sensitivity to its particularities. The results revealed the silent and solitary struggle in facing the stigma and building a social identity different from that imposed by society. Strategically, the protagonist chose a profession that she could carry out autonomously and which gave her a new status, that of an independent and capable woman. He manipulated the tension of this meeting with people without disabilities, he hid the disfigurement so as not to push them away, he did not withdraw or aggressively confront those who doubted his abilities as Goffman assumed, rather, he preferred to momentarily give them the answers, curing curiosities and demonstrating everything what you are able to accomplish. He operated with signs and symbols demonstrating the importance that such codes have in human interactions and that are forgotten or unknown by people with blindness. The strategic choice of what he could do without sight, the manipulation of information and tensions, the covering up of the disfigurement and the adoption of codes in social interaction allowed him to distance himself through work from the deteriorated, incapable, less human image, approaching the one capable of helping, accomplishing, having independence, autonomy and, above all, humanity. We consider that Beatriz's transformation affects all of us, the so-called normal ones, leading us to reflect on what our role in coping has also been. Beatriz's story leads us to a new look at society and theory. The reader will find in this study, a dialogue with Goffman through the protagonist, a democratic and emancipatory method of doing research and a story of resistance to the deteriorated identity in the face of stigma.

Descrição

Idioma

Português

Como citar

ALVES, Ana Paula Ribeiro. Sem olhos ao entardecer: reminiscências de uma identidade e o enfrentamento do estigma. Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2022.

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