Morte e vida palestina: a reorientação tática do colonialismo israelense na Faixa de Gaza

Carregando...
Imagem de Miniatura

Data

2023-10-16

Título da Revista

ISSN da Revista

Título de Volume

Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Resumo

Em agosto de 2005, pela primeira vez o Estado israelense retirou seus assentamentos de um território palestino que estava militarmente ocupado desde 1967: a Faixa de Gaza. Desde então, Israel alega não ter mais qualquer responsabilidade por aquele espaço e sua população, com a justificativa de que não existe mais ocupação militar em Gaza. Contudo, longe de se “desengajar” de Gaza, Israel passou a exercer uma espécie de dominação por controle remoto, na qual as redes de infraestrutura se tornaram o principal mecanismo de controle sobre a vida e a morte dos palestinos da região. Essa dominação é exercida não apenas pelo controle sobre as fronteiras de Gaza, mas principalmente pela implementação de políticas de “de-desenvolvimento econômico” e isolamento socioespacial. Esta tese tem como objetivo analisar tais políticas, a fim de responder às seguintes perguntas: como e por que o Estado de Israel reorientou a sua tática de dominação colonial em Gaza? Argumentamos que o desengajamento foi uma reorientação tática das formas de dominação colonial, que se materializa no funcionamento das policies de mobilidade, de controle da infraestrutura econômica e de recursos. Nesse processo, há uma articulação fundamental entre a politics colonial, entendida em termos de ideologia e grande estratégia, cujo objetivo é conquistar a maior quantidade de terra com o menor número de nativos possível, e as policies, compreendidas em termos de táticas e políticas públicas, que são informadas pela politics e dão sentido ao projeto de colonialismo por povoamento israelense da Palestina. Uma genealogia do de-desenvolvimento econômico e do isolamento socioespacial da Faixa de Gaza revela que, pelo menos desde os anos 1980, ela se tornou uma grande ameaça demográfica para o estabelecimento de um Estado israelense com maioria judaica. O desengajamento seria uma forma de resolver essa equação demográfica, que estava desfavorável aos israelenses, ao mesmo tempo em que se manteria o controle sobre o espaço, a população e os recursos de Gaza, agora de forma “remota”. Os impactos da implementação de tais policies são vivenciados cotidianamente pelos palestinos de Gaza, os quais são impossibilitados de desenvolver a sua própria vida socioeconômica em um ambiente cujos recursos são escassos, e constantemente colocados em um limbo entre vida e morte, por conta da violência infraestrutural que enfrentam. Neste cenário, a vida em Gaza, narrada por seus próprios habitantes, se assemelha mais a uma “morte lenta” do que propriamente uma vida digna.
For the first time, in August 2005, the Israeli State withdrew its settlements from a Palestinian territory that had been under military occupation since 1967: the Gaza Strip. Since then, Israel claims it no longer has any responsibility for that space and its population, with the justification that there is no longer a military occupation in Gaza. However, far from “disengaging” from Gaza, Israel began to exercise a type of domination by remote control, in which infrastructure networks became the main mechanism of control over the life and death of Palestinians in the region. This domination is exercised not only through control over Gaza’s borders, but mainly through the implementation of “economic de-development” and policies of socio-spatial isolation. This thesis aims to analyze such policies in order to answer the following questions: how and why did the State of Israel reorient its tactics of colonial domination in Gaza? We argue that disengagement was a tactical reorientation of forms of colonial domination, which materializes in the functioning of mobility policies, control of economic infrastructure and resources. In this process, there is a fundamental articulation between colonial politics, understood in terms of ideology and grand strategy, whose objective is to conquer the greatest amount of land with the smallest number of natives possible, and the policies, understood in terms of tactics and public policies, which by its turn are informed by politics and give meaning to the project of Israeli settler colonisation of Palestine. A genealogy of the economic de-development and socio-spatial isolation of the Gaza Strip reveals that, at least since the 1980s, it has become a major demographic threat to the establishment of an Israeli state with a Jewish majority. Disengagement would be a way to resolve this demographic equation, which was unfavorable to the Israelis, while maintaining control over the space, population, and resources of Gaza, now operating “remotely”. The impacts of implementing such policies are daily experienced by Gazans, who are unable to develop their own socioeconomic life in an environment where resources are scarce. Gazans are also constantly placed in a limbo between life and death, due to the infrastructural violence they face. In this scenario, life in Gaza, narrated by its own inhabitants, resembles more a “slow death” than a dignified life.
En agosto de 2005, por primera vez el Estado de Israel retiró sus asentamientos de un territorio palestino ocupado militarmente desde 1967: la Franja de Gaza. Desde entonces, Israel afirma que ya no tiene ninguna responsabilidad sobre ese espacio y su población, con la justificación de que ya no hay ocupación militar en Gaza. Sin embargo, lejos de “desconectarse” de Gaza, Israel comenzó a ejercer una especie de dominación por control remoto, en la que las redes de infraestructura se convirtieron en el principal mecanismo de control sobre la vida y la muerte de los palestinos en la región. Esta dominación se ejerce no sólo a través del control sobre las fronteras de Gaza, sino principalmente a través de la implementación de políticas de “des-desarrollo económico” y aislamiento socioespacial. Esta tesis pretende analizar dichas políticas para responder a las siguientes preguntas: ¿cómo y por qué el Estado de Israel reorientó sus tácticas de dominación colonial en Gaza? Sostenemos que la desconexión fue una reorientación táctica de las formas de dominación colonial, que se materializa en el funcionamiento de las policies de movilidad, el control de la infraestructura económica y los recursos. En este proceso, hay una articulación fundamental entre la politics colonial, entendida en términos de ideología y gran estrategia, cuyo objetivo es conquistar la mayor cantidad de tierra con el menor número posible de nativos, y las policies, entendidas en términos de táctica y política pública, que por su vez están informadas por la politics y dan significado al proyecto de colonialismo por poblamiento israelí en Palestina. Una genealogía del des-desarrollo económico y el aislamiento socioespacial de la Franja de Gaza revela que, al menos desde la década de 1980, se ha convertido en una importante amenaza demográfica para el establecimiento de un Estado israelí con mayoría judía. La retirada sería una forma de resolver esta ecuación demográfica, que era desfavorable para los israelíes, manteniendo al mismo tiempo el control sobre el espacio, la población y los recursos de Gaza, ahora de forma “remota”. Los impactos de la implementación de tales políticas los experimentan diariamente los palestinos de Gaza, quienes no pueden desarrollar su propia vida socioeconómica en un entorno donde los recursos son escasos y se encuentran constantemente en un limbo entre la vida y la muerte debido a la violencia infraestructural que enfrentan. En este escenario, la vida en Gaza, narrada por sus propios habitantes, se parece más a una “muerte lenta” que a una vida digna.

Descrição

Palavras-chave

Colonialismo, Faixa de Gaza, Israel, Morte, Violência, Settler colonialism, Gaza Strip, Israel, Death, Violence, Colonialismo, Franja de Gaza, Israel, Muerte, Violencia

Como citar

SANTOS, Isabela Agostinelli dos. Morte e vida palestina : a reorientação tática do colonialismo israelense na Faixa de Gaza. Orientador: Reginaldo Mattar Nasser. 2023. 314 f. Tese (Doutorado em Relações Internacionais) – UNESP/UNICAMP/PUC-SP, Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas, 2023.