A educação sexual na constituição da cidadania global como projeto de transição: ensaio a partir das Epistemologias do Sul
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Data
2019-08-30
Orientador
Maia, Ana Cláudia Bortolozzi
Coorientador
Pós-graduação
Educação Escolar - FCLAR
Curso de graduação
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Tipo
Tese de doutorado
Direito de acesso
Acesso aberto
Resumo
Resumo (português)
A confecção desta tese originou-se em questionamentos levantados ao redor de uma nova perspectiva educacional assumida pela Organização das Nações Unidas para a Educação e a Ciência (UNESCO) a partir do ano 2012. Trata-se da Educação para a Cidadania Global (ECG), abordagem consonante com a Declaração Universal dos Direitos Humanos construída a partir de pesquisas e discussões empreendidas por educadores de todo o mundo e que chama a atenção por carregar o desafio de alargar a concepção de cidadania à escala global por via da educação. Apesar da ECG surgir associada à evocação dos sentimentos de pertencimento e responsabilidade à Terra e à humanidade, percebe-se os riscos da submissão algo previsível da nova perspectiva ao escopo da educação na modernidade que – sob influência colonialista e iluminista – produziu historicamente a universalização da civilização Ocidental. Para encaminhar o problema, construiu-se a investigação em torno da seguinte pergunta: há algum potencial emancipatório na Educação para a Cidadania Global e, caso haja, como pode ser melhor aproveitado? A análise mais detida da questão despertou para a hipótese da presença de um potencial genuíno para a emancipação no cerne do conteúdo proposto por essa nova abordagem, emerso das particularidades do atual momento histórico de transição civilizacional. Contra a ortodoxia dominante, optou-se demonstrar a tese por via da construção de um ensaio teórico balizado pela forma ensaística segundo as descrições de Theodor Adorno e Max Bense. A fim de torná-la mais clara e exequível, dividiu-se a redação em duas partes, que objetivam responder adequadamente aos dois momentos da pergunta central. A primeira parte procura demonstrar como a ECG pode inscrever-se em um projeto de transição civilizacional, configurando-se como uma proposta emancipatória para o século XXI. Para isto, valemo-nos principalmente das reflexões de Jürgen Habermas, que explicita a condição paradoxal da modernidade; do raciocínio de Boaventura de Sousa Santos que – por via das Epistemologias do Sul – aborda as desigualdades abissais entre o Norte e o Sul globais; e da obra de Paul Raskin, que lança luz sobre o significado da Grande Transição e sugere a construção de um Movimento pela Cidadania Global (MCG). À essa altura, conclui-se que à ECG cabe a tarefa da construção de um MCG inspirado pelas Epistemologias do Sul. A segunda parte do ensaio busca oferecer um aporte à Educação para a Cidadania Global, tecendo considerações sobre a importância da educação sexual em um projeto de transição contra- hegemônico. Defende-se o potencial libertador da educação sexual no enfrentamento da biopolítica moderna, contribuindo para a reapropriação dos corpos biológicos aos contextos das formas-de-vida ontologicamente estruturadas. Ao longo dessa parte, valemo-nos das concepções de Martin Heidegger, Simone De Beauvoir e Giorgio Agamben para apontar as relações entre propriedade, soberania e patriarcado na modernidade, apresentando a educação sexual como campo do pensamento destinado à emancipação da cisão entre vida nua e forma-de-vida presente nas cidadanias nacionais. Conclui-se que uma educação sexual emancipatória pode contribuir significativamente na constituição da cidadania global como projeto contra-hegemônico de transição.
Resumo (inglês)
The making of this thesis started from questionings that came up as the United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) took on a new educational perspective from the year 2012. We are talking about Global Citizenship Education (GCED), an approach consonant to the Universal Declaration of Human Rights which was built from researches and discussions undertaken by educators all around the world and that draws attention for carrying the challenge of widening the concept of citizenship to a global scale through education. Although GCED emerged associated to the evocation of the feeling of belonging to and being responsible for Planet Earth and humankind, the risks of submission are somewhat predictable to the new perspective in the education scope at modern times that – under colonialist and illuminist influence – historically produced the universalization of Global Citizenship. To address the problem, an investigation was built around the following question: is there any emancipatory potential in Global Citizenship Education? And, if there is, how can it be best used? The closer analysis to the question raised the hypothesis of the presence of a genuine potential to emancipation in the core of the content suggested by this new approach, emerging from the particularities of the current historical moment of civilizational transition. Against the dominant orthodoxy, we opted to demonstrate the thesis through the construction of a theoretical rehearsal marked out by the essay as form according to the descriptions of Thedor Adorno and Max Bense. In order to bake it clearer and achievable, the essay was divided in two parts that seek to properly answer the two moments of the core question. The first part seeks to demonstrate how GCED can be inserted in and civilizational transition project, being set up as emancipatory proposal to the XXI century. In order to do that, we primarily used the reflections of Jürgen Habermas, which makes the paradoxical condition of the modernity explicit; the reasoning of Boaventura de Sousa Santos that – through the Epistemologies of the South – approaches the abyssal inequality between the Global North and South; and the work of Paul Raskin, which sheds a light over the significance of the Great Transition and suggests the construction of a Global Citizens Movement (GCM). To this point, it is concluded that the GCED is entitled to the assignment of building a GCM inspired by the Epistemologies of the South. The second part of the essay seeks to offer a contribution to the Global Citizenship Education, weaving considerations over the importance of sex education in a counter-hegemonic transition project. We defend the liberating potential of sex education on the facing of modern biopolitics, contributing to the re-appropriation of biological bodies to the contexts of ontologically structured forms-of-life. Throughout this part, we use the conceptions of Martin Heidegger, Simone De Beauvoir and Giorgio Agamben to point the relations between property, soberany and patriarchy in modernity, presenting sex education as a field of thought destined to emancipate from the scission between naked life and form-of-life in national citizenships. It is concluded that an emancipatory sex education can significantly contribute to the building of a global citizenship as an counter-hegemonic transition project.
Descrição
Idioma
Português