Efeito das mudanças climáticas sobre o crescimento vegetativo e desenvolvimento reprodutivo de uma espécie modelo

Abstract

O sexto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC-AR6) em 2021 indica a necessidade de diminuição da emissão dos gases do efeito estufa para evitarmos o aumento da frequência e intensidade de extremos de calor, fortes precipitações e secas agrícolas e ecológicas. O déficit hídrico causa conturbações nas plantas levando a mudanças morfofisiológicas, pois o investimento em uma atividade, poderá levar a alteração conflitantes no investimento em outra, como explica o conceito de demanda conflitante, ou trade-off. Assim, objetivamos investigar se a redução na pluviosidade prevista pelo IPCC-AR6 afeta o desenvolvimento vegetativo e reprodutivo de uma espécie vegetal modelo, a abobrinha italiana (Cucurbita pepo L.), e se existe um mecanismo de demanda conflitante no investimento em ambos desenvolvimentos. Para isso, as plantas foram mantidas em casa de vegetação submetidas a quatro tratamentos: capacidade de campo (T1); pluviosidade local (T2); redução 30% de pluviosidade local (T3) e pluviosidade escassa (T4). Os dois últimos correspondem às condições de seca previstas pelo IPCC-AR6. Quanto ao desenvolvimento vegetativo, T3 e T4 sofreram os mesmos efeitos de diminuição da altura, do número de folhas e lento crescimento foliar em comprimento e largura; enquanto T2 diferiu destes resultados apenas na altura. Quanto ao desenvolvimento reprodutivo, T4 teve a sua produção de flores femininas diminuída, podendo levar a consequências indiretas sobre a produtividade da cultura. Sugerimos que pode haver um mecanismo de resistência ao déficit hídrico, uma vez que T3 não apresentou efeitos negativos da redução de pluviosidade sobre seu desenvolvimento reprodutivo. Ademais, as plantas não apresentam demanda conflitante entre o investimento em desenvolvimento vegetativo e reprodutivo, pois não há correlação em T2 e T3 e há correlação positiva moderada em T4 (altura-flor feminina e número de folhas-número de flores) e T1 (número de folhas-número de flores). Assim, a espécie modelo pode, mesmo em condições de seca, investir simultaneamente no crescimento e na reprodução. Entretanto, a intensificação da seca prevista pelo IPCC levará a maior necessidade hídrica por parte dessa cultura agrícola, aumentando a dificuldade já existente de acesso à água, bem como as consequências do uso excessivo de água para a agricultura serão cada vez mais graves.