Pornografia e psicanálise: ensaios sobre o pornô na cultura do espetáculo

Abstract

Os estranhamentos e as resistências que os avanços tecnológicos já causaram no campo das nossas relações interpessoais, ao que tudo indica, estão ficando no passado, já não sendo possível encontrá-los com tanta facilidade atualmente. Com a chegada da pandemia do vírus SARS-CoV-2, as pessoas que já estavam acostumadas a navegar pelo mundo virtual aumentaram a quantidade de tempo em frente às telas. Foi exatamente o que também aconteceu com os espectadores de vídeos pornográficos. O número de visitantes nos websites que armazenam e reproduzem esses materiais cresceu muito desde o início do isolamento social. Neste trabalho, de base psicanalítica, tomo como objeto de estudo o campo das relações entre o espectador e a pornografia online, questionando os lugares que ela poderia ocupar na vida daqueles que costumam assisti-la, assim como suas possíveis funções nos processos atuais de subjetivação. Para que tal objetivo fosse alcançado, esta pesquisa foi composta por três principais elementos: 1) as conversas com os espectadores; 2) um levantamento da história da pornografia no Brasil, assim como a análise das transformações que essas produções sofreram com o tempo e suas atuais características mais acentuadas; 3) uma leitura crítica sobre o contexto social e político que enfrentamos atualmente. Entre as discussões realizadas, conta-se com a experiência corporal nas relações mediadas pela internet; os imperativos ao gozo e à transgressão; as modalidades do saber sobre si que os discursos midiáticos podem proporcionar e a diminuição das capacidades de fantasmar e erotizar do sujeito contemporâneo, marcado por angústias primitivas. Durante esse trajeto foi possível concluir que as discussões sobre uma produção amplamente difundida em nossa cultura, tal como a pornografia, abrem vias ainda pouco exploradas no campo das pesquisas psicanalíticas. Com o horizonte apontando para a continuidade desenfreada da evolução tecnológica e sabendo da importância da sexualidade não apenas no desenvolvimento subjetivo, mas também para as modalidades de controle social, o pornô se destaca como um objeto privilegiado e complexo.

The strangeness and resistance that the advances of technologies on the field of our interpersonal relations have already caused, it seems, are getting in the past and today we can not find them so easily. With the arrival of the SARS-Cov 2 pandemic, people who were already used to navigating the virtual world increased the amount of time in front of the screens. This is exactly what also happened to viewers of pornographic videos. The number of visitors to websites that store and reproduce these materials has grown greatly since the beginning of social isolation. In this psychoanalytic-based work, I take as object of study the field of relations between the viewer and online pornography, questioning the places she could occupy in the lives of those who tend to watch it, as well as its possible functions in the current processes of subjectivation. In order to achieve this goal, this research was composed of three main elements: 1) conversations with viewers; 2) a survey of the history of pornography in Brazil, as well as the analysis of the transformations that these productions have undergone with time and its more accentuated current characteristics; 3) a critical reading on the social and political context that we face today. Discussions include: body experience in Internet-mediated relationships; the imperatives of enjoyment and transgression; the modalities of knowledge about oneself that media discourses can provide and; the reduction of the contemporary subject's ability to phantasm and eroticize, marked by primitive anguish. During this journey it was possible to conclude that the discussions about a production widely disseminated in our culture, such as pornography, open paths that are still little explored in the field of psychoanalytic research. With the horizon pointing to the unbridled continuity of technological evolution and knowing the importance of sexuality not only in subjective development, but also for social control modalities, porn stands out as a privileged and complex object.