State-building, articulações transnacionais e a consolidação norte-americana no Kosovo em perspectiva histórica

Abstract

Nas últimas duas décadas, muito foi produzido a respeito da Guerra do Kosovo em 1999. Especialmente no que tange aos processos contemporâneos de state-building, o Kosovo é um caso amplamente explorado. Frequentemente, a literatura no tema sublinha o caráter jurídico e/ou institucional do tema. Avaliamos, contudo, que há uma dimensão histórica e social da questão do Kosovo que é alvo de menor atenção, e diz respeito tanto aos próprios dilemas da questão estatal na região, quanto às articulações sociais que perpassam este fenômeno. Amparando- nos nas contribuições de abordagens e metodologias da Sociologia Histórica e dos estudos sobre o caso específico do Kosovo, o objetivo da proposta é estudar o avanço do projeto internacional de state-building, jogando luz na ação das grandes potências na região, bem como nas articulações transnacionais entre lideranças políticas e econômicas que, de alguma forma, se envolveram na questão do Kosovo. A pesquisa é guiada pela percepção de que os aparatos burocráticos, de segurança, bem como os poderes políticos e econômicos do Kosovo pós-conflito refletiram a articulação entre as lideranças transnacionais envolvidas no curso das hostilidades durante a década de 1990, bem como no processo de state- building pós-conflito. A questão do Estado do Kosovo não era, necessariamente, uma novidade nos anos 1990. Mas, em seus desdobramentos mais recentes, parece ter sido associada à expansão da ordem liberal na região, como um projeto guiado por lideranças transnacionais, especialmente nos Estados Unidos. Para tanto, os projetos de state-building, sob liderança norte-americana, dependeram do estabelecimento de relações sociais a nível internacional. Assim, no presente trabalho, buscamos inserir as mudanças do contexto e do processo histórico, as relações sociais, bem como os aspectos e interesses materiais dos atores envolvidos no curso das hostilidades no centro da investigação. Afastando-nos das interpretações jurídicas e/ou institucionalistas sobre o tema, avaliamos que, o contexto histórico, as relações sociais e os interesses materiais desempenham um papel central nos processos de state-building na política internacional.

Over the last two decades, much has been produced about the Kosovo War in 1999. Especially with regard to contemporary state-building processes, Kosovo is a widely explored case. The literature on the subject often emphasizes the legal and/or institutional nature of the issue. We believe, however, that there is a historical and social dimension to the Kosovo issue that has received less attention, and that concerns both the dilemmas of the state issue in the region and the social articulations that lies on the foundations of this phenomenon. Drawing on the contributions of approaches and methodologies from Historical Sociology and studies on Kosovo, the aim of the research is to study the progress of the international state-building project, shedding light on the major powers policy in the region, as well as on the transnational articulations between political and economic leaders who were somehow involved in the Kosovo issue. The research is guided by the perception that the bureaucratic and security apparatuses, as well as the political and economic powers of post-conflict Kosovo reflected the transnational articulation between the transnational leaderships involved in the course of hostilities during the 1990s, as well as in the post-conflict state-building process. The question of the state of Kosovo was not necessarily new in the 1990s. But in its most recent developments, it seems to have been associated with the expansion of the liberal order in the region, as a project guided by transnational leaders, especially in the United States. To this end, state-building projects under US leadership depended on the establishment of social relations at an international level. Thus, in this paper, we seek to shed light into the historical context and process, social relations, as well as the material aspects and interests of the actors involved in the course of hostilities at the center of the investigation. Moving away from institutionalist interpretations of the issue, we consider that the historical context, social relations and material interests play a central role in state-building processes in international politics.

Durante las dos últimas décadas, se ha producido mucho sobre la guerra de Kosovo de 1999. Especialmente en lo que respecta a los procesos contemporáneos de state-building, Kosovo es un caso ampliamente explorado. La literatura sobre el tema suele hacer hincapié en la naturaleza jurídica y/o institucional de la cuestión. Creemos, sin embargo, que existe una dimensión histórica y social de la cuestión de Kosovo que ha recibido menos atención, y que se refiere tanto a los dilemas de la cuestión estatal en la región como a las articulaciones sociales que impregnan este fenómeno. A partir de las aportaciones de los enfoques y metodologías de la Sociología Histórica y de los estudios sobre el caso concreto de Kosovo, el objetivo de la propuesta es estudiar la evolución del proyecto internacional de state-building, arrojando luz sobre la actuación de las grandes potencias en la región, así como sobre las articulaciones transnacionales entre los líderes políticos y económicos que de alguna manera se vieron implicados en la cuestión de Kosovo. La investigación se guía por la constatación de que los aparatos burocráticos y de seguridad, así como los poderes político y económico del Kosovo posconflicto, reflejaron la articulación transnacional entre los liderazgos transnacionales implicados en el curso de las hostilidades durante la década de 1990, así como en el proceso de construcción del Estado posconflicto. La cuestión del Estado de Kosovo no era necesariamente nueva en la década de 1990. Pero en su evolución más reciente, parece haberse asociado a la expansión del orden liberal en la región, como proyecto guiado por líderes transnacionales, especialmente en Estados Unidos. Para ello, los proyectos de construcción del Estado bajo el liderazgo estadounidense dependían del establecimiento de relaciones sociales a nivel internacional. Así, en este trabajo, buscamos situar en el centro de la investigación los cambios en el contexto y el proceso histórico, las relaciones sociales, así como los aspectos materiales y los intereses de los actores involucrados en el curso de las hostilidades. Alejándonos de las interpretaciones jurídicas y/o institucionalistas del tema, creemos que el contexto histórico, las relaciones sociales y los intereses materiales desempeñan un papel central en los procesos de construcción del Estado en la política internacional.