Compassos e descompassos nucleares: as estratégias de Argentina e Brasil frente à ordem nuclear global e para o relacionamento bilateral (1985-1991)

Abstract

A presente tese é pautada pela análise das estratégias empregadas por Argentina e Brasil que impulsionaram uma lógica cooperativa em matéria nuclear entre 1985 e 1991. Argumentamos que foi formulada uma estratégia compartilhada de coordenação política e busca de soluções próprias frente à ordem nuclear global, o que contrabalanceou descompassos nas estratégias dos dois países em termos de suas relações bilaterais. Com relação ao regime de não proliferação e à ordem nuclear global, Argentina e Brasil construíram uma estratégia comum, de impugnação, baseada na coordenação política. Com relação ao eixo bilateral, existiram diferenças entre os dois países. Por um lado, a Argentina impulsionou o processo de cooperação, adotando uma estratégia que combinava paciência estratégica com pressão por maior grau de institucionalização das relações para contrabalancear incertezas. Por sua vez, o Brasil apresentou uma postura reativa, adotando uma estratégia soberanista que visava preservar as margens de manobra do país. Defendemos que a condução do processo revela os descompassos existentes nas estratégias de Argentina e Brasil, pois no plano bilateral as concepções de cada um dos países indicam uma diferença não só de ênfase ou momento, mas da própria natureza das relações e suas possibilidades. De todo modo, sustentamos que a construção da cooperação bilateral na segunda metade da década de 1980 respondeu a uma estratégia de Argentina e Brasil frente à ordem nuclear global, baseada em um diagnóstico comum acerca da configuração da ordem nuclear e suas implicações para países em desenvolvimento com ambições de avanço tecnológico. Assim, em uma área sensível, que contava com avanços relevantes, mas também com dificuldades crescentes e cumulativas, a perspectiva de fazer frente a uma ordem contrária aos interesses de Argentina e Brasil acabou por suplantar as reticências sobre a cooperação entre competidores históricos. Nossa concepção parte da necessidade de analisar com mais detalhes como o processo de aproximação ocorreu na área nuclear, salientando os atores e as diferentes perspectivas que estavam em pauta no recorte temporal selecionado. Reconstruímos o processo de cooperação a partir, primordialmente, de fontes primárias obtidas em arquivos históricos na Argentina e no Brasil e complementadas com diferentes materiais.

The Ph.D. research aims to analyze the strategies used by Brazil and Argentina that promoted a cooperative logic in the nuclear field between 1985 and 1991. We argue that it was formulated a joint strategy of political coordination and creation of original solutions facing the global nuclear order. It counterbalanced mismatches in the strategies for the bilateral relationship. Regarding the nonproliferation regime and the global nuclear order, Argentina and Brazil built a joint strategy of impugnation based on political coordination. In the bilateral arenas, there were differences in the countries’ strategies. Argentina was the booster of the cooperation process. It adopted a strategy that united strategic patience with pressure to implement a deeper institutionalization level to counterbalance the existence of uncertainties of the relationship. On the other hand, Brazil’s posture was reactive, and it developed a sovereign-based strategy to preserve its room for maneuver in the international arena. We argue that the differences were not only a matter of emphasis or timing, but it indicates a difference in understanding the nature of the bilateral relationship and its possibilities. Furthermore, we sustain that the building of the bilateral cooperation in the second half of the 1980s met the strategy of Argentina and Brazil regarding the global nuclear order. It was based on a similar diagnostic about the configuration of the nuclear order and its implications to developing countries with ambitions of technological advancement. In a sensitive area, marked by relevant advancements and growing difficulties, the perspective of standing up to an unfavorable order outshined the reticence about the cooperative effort between historical competitors. Our understanding is guided by the necessity of analyzing how the rapprochement and confidence-building process happened in the nuclear field, taking into account the actors and the existing perspectives. We rebuild the history of the cooperation process centered on analyzing historical sources obtained in archives in Argentina and Brazil, complemented with other materials.

Esta tesis es guiada por el análisis de las estrategias empleadas por Argentina y Brasil que promovieron una lógica cooperativa en materia nuclear entre 1985 y 1991. Argumentamos que se formuló una estrategia compartida de coordinación política y búsqueda de soluciones originales frente al orden nuclear global, lo que contrabalanceó los desequilibrios en las estrategias de los dos países en cuanto a sus relaciones bilaterales. Con respecto al régimen de no proliferación y al orden nuclear global, Argentina y Brasil construyeron una estrategia de denegación basada en la coordinación política. Pero hubo diferencias en la conducción de las relaciones en el eje bilateral. Por un lado, Argentina impulsó el proceso cooperativo, adoptando una estrategia que combinó paciencia estratégica con realización de presiones por más altos niveles de institucionalización de las relaciones para compensar incertidumbres. A su vez, Brasil presentó una postura reactiva, adoptando una estrategia fundada en la soberanía, con la meta de preservar su margen de acción. Argumentamos que la conducción del proceso revela los desajustes existentes en las estrategias de Argentina y Brasil, ya que las concepciones de cada uno de los países señalan una diferencia no solo en el énfasis o el momento, sino en el propio entendimiento de la naturaleza de las relaciones y sus posibilidades. En todo caso, sostenemos que la construcción de la cooperación bilateral en la segunda mitad de los años ochenta correspondió a una estrategia de Argentina y Brasil con respecto al orden nuclear global, basada en un diagnóstico común de la configuración del orden nuclear y sus implicaciones para los países en desarrollo con ambiciones de avance tecnológico. Así, en un área sensible, marcado por avances relevantes, pero también por dificultades crecientes y acumulativas, la perspectiva de enfrentarse a un orden contrario a los intereses de Argentina y Brasil posibilitó la superación de las reticencias a la cooperación entre competidores históricos. Nuestra investigación parte de la necesidad de analizar con más detalle cómo se llevó a cabo el proceso de aproximación en el área nuclear, enfatizando los actores y las diferentes perspectivas que estaban en la agenda en el marco temporal de la tesis. Reconstruimos el proceso de cooperación a partir, principalmente, de fuentes primarias obtenidas de archivos históricos de Argentina y Brasil y complementadas con diferentes materiales.