Poéticas de identidade e ancestralidade negra na literatura para crianças e jovens

Abstract

This doctoral thesis aimed to analyze how ancestry, oraliture, memory, corporeality, myths, symbols and African culture, more specifically Bantu and Yoruba, construct a poetics of identity and ancestry in Black-Brazilian literature for children and young people. Understanding that literature can be a space for dialogue with the concepts of identity, ancestry, culture and cultural memory, the research was carried out by reflecting on the production of Afro-Brazilian writers and their respective works: Cidinha da Silva – Os nove pentes d’África (2009), O mar de Manu (2011, 2023) e Kuami (2011); Kiusam de Oliveira – Ọmọ-Obá: histórias de princesas (2009), O mundo no black power de Tayó (2013), O mar que banha a ilha de Goré (2014), O black Power de Akin (2020); Nilma Lino Gomes – Betina (2009); Emicida – Amoras (2018), e Josias Marinho – Benedito (2014). Based on a combination of critical approaches to the analysis of the literary text - philosophical, sociological, anthropological, historical and linguistic - we discussed how writers make a forceful analysis of the community in order to turn towards the black community itself, thus contributing to sustaining less violent and more humanized racial-ethnic relations. The research, therefore, (i) investigated the inclusion of African and black-Brazilian myths, legends and texts in works for children and young people as a “device” operated by literary language to valorize both African and black-Brazilian culture, as well as Afro-descendants; (ii) showed the construction of a poetics of identity and black-Brazilian ancestry in the chosen works, and (iii) revealed how literature and its language contribute to deconstructing prejudiced and racist narratives about black-Brazilian culture, contributing to more respectful and affectionate ethnic-racial relations. In order to fulfill our objectives, we used the considerations of Lélia Gonzales (1983), Ana Mafalda Leite (1988, 2020), Nilma Lino Gomes (2002), Maria Aparecida Bento (2002), Sueli Carneiro (2005), Heloisa Pires Lima (2005), Mãe Stella de Oxóssi (2006), Azoilda Trindade (2006), Kiusam de Oliveira (2008), Nei Lopes (2008) Kabengele Munanga (2009), José Henrique de Freitas Santos (2009), Cuti/Luiz Silva (2010), Conceição Evaristo (2011), Sandre Haydée Petit (2015), Antônio Bispo dos Santos/Nego Bispo (2015), Renato Noguera (2018) Tiganá Santana Neves Santos (2019), Luiz Rufino (2019), Muniz Sodré (2020), Eduardo Oliveira (2021), Katiuscia Ribeiro (2022), Sidnei Nogueira (2022), Luiz Valério Trindade (2022), Adinelson Farias de Souza Filho (2022).

Esta tese de doutorado visou analisar de que modo a ancestralidade, a oralidade, as oralituras, a memória, a corporeidade, os mitos, os símbolos e a cultura de matriz africana, mais especificamente a bantu e a iorubá, constroem uma poética de identidade e de ancestralidade na Literatura Negro-brasileira para crianças e jovens. Por compreender que a literatura pode constituir-se em um espaço de diálogo com os conceitos de identidade, de ancestralidade, de cultura e de memória cultural, a pesquisa foi realizada por meio da reflexão de produção das escritoras e de escritores afrodescendentes e de suas respectivas obras: Cidinha da Silva – Os nove pentes d’África (2009), O mar de Manu (2011, 2023) e Kuami (2011); Kiusam de Oliveira – Ọmọ-Obá: histórias de princesas (2009), O mundo no black power de Tayó (2013), O mar que banha a ilha de Goré (2014), O black Power de Akin (2020); Nilma Lino Gomes – Betina (2009); Emicida – Amoras (2018), e Josias Marinho – Benedito (2014). A partir de uma combinação de abordagens críticas para a análise do texto literário – a filosófica, a sociológica, a antropológica, a histórica, a linguística – discutiu-se de que maneira as escritoras e os escritores fazem uma análise contundente da comunidade de modo a voltar-se para a própria comunidade negra, contribuindo, dessa forma, para sustentar relações étnico-raciais menos violentas e mais humanizadas. A pesquisa, portanto, (i) investigou a inserção dos mitos, das lendas e dos textos africanos e negro-brasileiros em obras para a infância e juventude como um “artifício” operado pela linguagem literária para a valorização tanto da cultura africana, da negro-brasileira, quanto dos afrodescendentes; (ii) evidenciou a construção de uma poética de identidade e de ancestralidade negro-brasileira nas obras escolhidas, e (iii) revelou de que modo a literatura e a sua linguagem corroboram para desconstruir narrativas preconceituosas e racistas acerca da cultura negro-brasileira, colaborando para as relações étnico-raciais mais respeitosas e afetivas. Para cumprir com os nossos objetivos, utilizamos as considerações de Lélia Gonzales (1983), Ana Mafalda Leite (1988, 2020), Nilma Lino Gomes (2002), Maria Aparecida Bento (2002), Sueli Carneiro (2005), Heloisa Pires Lima (2005), Mãe Stella de Oxóssi (2006), Azoilda Trindade (2006), Kiusam de Oliveira (2008), Nei Lopes (2008) Kabengele Munanga (2009), José Henrique de Freitas Santos (2009), Cuti/Luiz Silva (2010), Conceição Evaristo (2011), Sandre Haydée Petit (2015), Antônio Bispo dos Santos/Nego Bispo (2015), Renato Noguera (2018) Tiganá Santana Neves Santos (2019), Luiz Rufino (2019), Muniz Sodré (2020), Eduardo Oliveira (2021), Katiuscia Ribeiro (2022), Sidnei Nogueira (2022), Luiz Valério Trindade (2022), Adinelson Farias de Souza Filho (2022).