Entre o corte da espada e o perfume da rosa: uma revisão integrativa sobre a relação entre racismo e saúde mental da população negra brasileira.
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Data
2024-12-09
Orientador
Abrahão, Anaísa Leal Barbosa
Coorientador
Brito, Kelly Paula do Amaral
Pós-graduação
Curso de graduação
Franca - FCHS - Serviço Social
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Tipo
Trabalho de conclusão de curso
Direito de acesso
Acesso restrito
Resumo
Resumo (português)
O Brasil, com a maior população negra fora do continente africano, enfrenta os impactos do racismo estrutural, que mantém a população negra em condições de subalternidade e violência. A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, criada em 2006 e implementada em 2009, reconhece o racismo como um fator determinante para a saúde mental dessa população, incentivando novos estudos sobre o tema. Apesar disso, o debate étnico-racial neste campo ainda é incipiente. O objetivo geral deste estudo é identificar como os estudos nacionais publicados entre 2013 e 2023 abordaram a relação entre racismo e saúde mental. Especificamente, busca-se analisar esses estudos quanto às seguintes variáveis: periódico de publicação, ano de publicação, região por estado do periódico, região por estado da instituição de vinculação da primeira autoria, região por estado de vinculação da coautoria, profissões da primeira autoria, profissões da coautoria, delineamentos e financiamento. Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, realizada nas bases de dados LILACS, SCIELO e Periódicos CAPES. O levantamento dos estudos ocorreu por meio dos termos estabelecidos pelos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Racismo”, “Saúde Mental” e “População Negra”. A amostra foi constituída por 12 artigos que foram analisados através da técnica da Análise Temática, levando a quatro categorias temáticas. Este material foi interpretado a partir de um referencial teórico afrocentrado. Dentre os estudos analisados, a Psicologia foi a profissão que mais publicou artigos sobre o tema. Embora a produção científica nesse campo tenha se intensificado nos últimos anos, ela ainda apresenta lacunas importantes que exigem atenção, tanto em termos de financiamento quanto de abrangência nas áreas de estudo e nas instituições envolvidas. Destaca-se que apenas um dos estudos analisados recebeu financiamento, evidenciando um desinteresse na construção de conhecimento científico sobre o tema. Na primeira categoria temática, destaca-se uma crítica ao modelo manicomial e à psiquiatria, revelando seus alicerces racistas e o papel na construção de um imaginário que perpetua estigmas sobre corpos negros. A segunda categoria aborda a ligação entre racismo, identidade e sofrimento, enfatizando como o racismo gera uma negação do próprio corpo, expressa em tentativas de embranquecimento e modificações corporais. Na terceira categoria, é evidenciada a falta de inclusão do debate racial nos currículos de formação de profissionais de saúde, resultando em falhas graves no atendimento à população negra e na perpetuação do racismo institucional. Por fim, na quarta categoria, o fortalecimento da identidade negra, o aumento da representatividade e uma reorientação epistemológica na saúde mental são apontados como estratégias essenciais para mitigar os impactos do racismo na saúde mental. Em conclusão, a revisão demonstrou que, embora o racismo provoque severas repercussões na saúde mental da população negra, há caminhos para combater essa realidade. Estes caminhos exigem a adoção de uma postura ético-política comprometida com o fortalecimento da luta antirracista no interior da Reforma Psiquiátrica e da Rede de Atenção Psicossocial, fazendo valer o lema de que “O SUS está de braços abertos para a população negra”. A valorização da identidade negra e cultura afro-brasileira, sobretudo a partir dos movimentos sociais negros mostrou-se uma alternativa eficaz para afirmação da saúde mental da população negra ante as repercussões do racismo.
Resumo (inglês)
Brazil, with the largest Black population outside of Africa, faces the impacts of structural racism, which keeps the Black population in conditions of subordination and violence. The National Policy for Comprehensive Health of the Black Population, created in 2006 and implemented in 2009, recognizes racism as a determining factor for the mental health of this population, encouraging new studies on the topic. Despite this, the ethnic-racial debate in this field is still incipient. The overall goal of this study is to identify how national studies published between 2013 and 2023 have addressed the relationship between racism and mental health. Specifically, this study seeks to analyze these studies according to the following variables: publication journal, publication year, region by state of the journal, region by state of the first author's institution, region by state of the coauthor’s institution, professions of the first author, professions of the coauthor, study designs, and funding. This is an integrative literature review conducted in the LILACS, SCIELO, and CAPES Periodicals databases. The studies were identified using the terms established by the Health Sciences Descriptors (DeCS): "Racism," "Mental Health," and "Black Population." The sample consisted of 12 articles, which were analyzed using the technique of Thematic Analysis, resulting in four thematic categories. This material was interpreted using an Afrocentric theoretical framework. Among the studies analyzed, Psychology was the profession that most published articles on the topic. Although scientific production in this field has intensified in recent years, there are still significant gaps that require attention, both in terms of funding and the scope of the study areas and institutions involved. It is noteworthy that only one of the studies analyzed received funding, highlighting a lack of interest in the development of scientific knowledge on the subject. In the first thematic category, there is a critique of the asylum model and psychiatry, revealing their racist foundations and their role in constructing an imaginary that perpetuates stigmas about Black bodies. The second category addresses the connection between racism, identity, and suffering, emphasizing how racism generates a denial of one's own body, expressed in attempts to whiten and bodily modifications. The third category highlights the lack of inclusion of racial debate in the curricula for training health professionals, resulting in serious failures in the care of the Black population and the perpetuation of institutional racism. Finally, in the fourth category, strengthening Black identity, increasing representativeness, and an epistemological reorientation in mental health are identified as essential strategies to mitigate the impacts of racism on mental health. In conclusion, the review demonstrated that, although racism causes severe repercussions on the mental health of the Black population, there are ways to combat this reality. These paths require the adoption of an ethical-political stance committed to strengthening the anti-racist struggle within the Psychiatric Reform and the Psychosocial Care Network, upholding the motto that "SUS is open-armed to the Black population." The valorization of Black identity and Afro-Brazilian culture, especially through Black social movements, proved to be an effective alternative for affirming the mental health of the Black population in the face of the repercussions of racism.
Descrição
Palavras-chave
Idioma
Português
Como citar
NASCIMENTO, Marcus Vinícius Santos. Entre o corte da espada e o perfume da rosa: uma revisão integrativa de literatura sobre a relação entre racismo e saúde mental da população negra brasileira. 2024. 143 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço Social ) – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista, Franca, 2024.