Saúde mental materna e saúde da criança nos primeiros 1000 dias de vida em tempos de pandemia

Abstract

Introdução: A pandemia de COVID-19 trouxe impactos na saúde física e na saúde mental, econômica e social, afetando especialmente as mulheres. Para mulheres grávidas, esses riscos podem levar a complicações como parto prematuro e baixo peso fetal, além de afetar o desenvolvimento cognitivo dos filhos. Objetivo: Verificar o efeito da pandemia causada pelo SARS-COV-2 sobre a saúde mental materna e seu reflexo nos cuidados à criança nos primeiros 1000 dias de vida. Métodos: Trata-se de estudo de coorte retrospectiva cuja coleta de dados foi realizada em 3 momentos, sendo eles: triagem da amostra na população na Clínica do Bebê; entrevista telefônica com a mãe e levantamento de dados do prontuário do bebê. Para a análise de dados realizou-se análise bivariada entre sintomas de transtorno mental comum (TMC) no período gravídico-puerperal e os desfechos e as covariáveis. As covariáveis que apresentaram associação com nível de significância estatística menor que 0,20 foram inseridas nos modelos de regressão múltipla. Relações foram consideradas significativas se p<0,05, sendo as análises realizadas com o software SPSS versão 29.0.2.0 Resultados: Foram coletados dados de 357 binômios mãe-bebê e analisados 317. Na análise bivariada, associação estatisticamente significativa foi identificada entre relato de sintomas de TMC materno e idade materna menor de 19 anos e ausência de parceria fixa. Com relação ao desfecho rotina de atendimento prejudicada, houve associação estatisticamente significativa com mulheres que relataram sintomas de TMC, sendo que seus filhos têm maior risco de apresentarem falhas na continuidade da rotina de puericultura nos primeiros 2 anos de vida quando comparados àqueles cujas mães não relataram sintomas de TMC. Não foi identificada associação estatisticamente significativa entre sintomas de TMC relatados pelas mães e exposição precoce às telas Conclusão: Esses resultados sugerem que a pandemia de COVID-19 exacerbou os desafios já enfrentados no âmbito da saúde materno infantil, no que se refere à saúde mental materna e as repercussões nos cuidados com as crianças.

Introduction: The COVID-19 pandemic has had an impact on physical, mental, economic, and social health, especially affecting women. For pregnant women, these risks can lead to complications such as premature birth and low fetal weight, in addition to affecting the cognitive development of their children. Objective: To verify the effect of the pandemic caused by SARS-COV-2 on maternal mental health and its impact on child care in the first 1,000 days of life. Methods: This is a retrospective cohort study whose data collection was carried out in 3 moments, namely: screening of the sample in the population at the Baby Clinic; telephone interview with the mother; and collection of data from the baby's medical records. For data analysis, a bivariate analysis was performed between symptoms of common mental disorders (CMD) in the pregnancy-puerperal period and the outcomes and covariates. The covariates that showed an association with a level of statistical significance less than 0.20 were inserted into the multiple regression models. Relationships were considered significant if p<0.05, and analyses were performed using SPSS software version 29.0.2.0. Results: Data were collected from 357 mother-infant pairs and 317 were analyzed. In the bivariate analysis, a statistically significant association was identified between maternal reports of common mental disorders symptoms and maternal age under 19 years, absence of a steady partner, and use of tobacco, alcohol, or other drugs during pregnancy and childbirth. Regarding the outcome impaired routine care, there was a statistically significant association with women who reported common mental disorders symptoms, and their children have a higher risk of failing to continue the childcare routine in the first 2 years of life when compared to those whose mothers did not report common mental disorders symptoms. No statistically significant association was identified between common mental disorders symptoms reported by mothers and early exposure to screens. Conclusion: These results suggest that the COVID-19 pandemic exacerbated the challenges already faced in maternal and child health, with regard to maternal mental health and the repercussions on child care.