Da ação ao conceito e do agir instrumental ao comunicativo: aproximações entre Piaget e Habermas

Abstract

A Teoria do Agir Comunicativo formulada por Jürgen Habermas oferece contribuições à emancipação humana pelo resgate do potencial ainda inesgotado da razão. Para que se engajem em situações argumentativas típicas do agir comunicativo, por meio do qual buscam entender-se mutuamente sobre algo no mundo, os sujeitos precisam ter supridas determinadas condições cognitivas e linguísticas. Os estudos de Jean Piaget que explicam o desenvolvimento desde a inteligência das ações até a conceitual são elucidativos a esse respeito. Compreender esse processo confere uma potência maior às ações educativas que se alinham com um horizonte utópico emancipatório. Por isso, a questão que embasa esta pesquisa é: como o percurso da ação ao conceito descrito por Piaget pode conferir uma nova dimensão à Teoria do Agir Comunicativo, aproximando-a da educação? A partir deste questionamento, foi estipulado o objetivo, que consiste em descrever a analogia entre a explicação piagetiana sobre como se chega da ação ao pensamento conceitual e as condições para a passagem do agir instrumental até o comunicativo, como descrito por Habermas. Para atender essa tarefa, optou-se metodologicamente por uma abordagem interpretativista, viabilizada por uma pesquisa teórica de caráter exploratório, cujos procedimentos técnicos enquadram-na como um estudo de tipo bibliográfico. O primeiro capítulo se dedica a Habermas e tem por eixo a análise do seu conceito de racionalidade comunicativa. De modo auxiliar, são tratadas as potencialidades e limites de sua abordagem teórica, das relações entre mundo da vida e sistema, pretensões de validade e outras, referentes à dinâmica do agir comunicativo. O próximo capítulo volta-se para o trabalho de Piaget. Por sua leitura, a base biológica e o interesse sociológico de sua obra, mantidos na elaboração de sua definitiva teoria da descentração, são resgatados. São também apresentadas as analogias sugeridas por Piaget entre o desenvolvimento cognitivo e o desenvolvimento da sociedade e da socialização individual. O terceiro momento aproxima os dois autores. Foram identificadas as referências a Piaget na obra habermasiana, as relações entre operatoriedade e agir comunicativo, tratou-se da abstração reflexionante e, por fim, foram abordadas as analogias entre o percurso da ação ao conceito e o trajeto em direção ao agir comunicativo, atendendo o objetivo geral da pesquisa. Nas considerações finais, evidencia-se a possibilidade de uma analogia em nível funcional entre os temas que derivam da aproximação entre Piaget e Habermas. A partir dela, podem ser encontrados recursos para que iniciativas educativas fortaleçam sua potência emancipatória.

The Theory of Communicative Action formulated by Jürgen Habermas offers contributions to human emancipation by rescuing the potential of reason that has not yet been fully explored. In order for them to engage in argumentative situations typical of communicative action, through which they seek to understand each other about something in the world, subjects must have met certain cognitive and linguistic conditions. Jean Piaget's studies that explain the development from the intelligence of the actions to the intelligence of the concepts are illuminating in this respect. Understanding this process gives greater power to educational actions that are aligned with an utopian emancipatory horizon. Therefore, the question that underlies this research is: how can the path of action to the concept described by Piaget give a new dimension to the Theory of Communicative Action, bringing it closer to education? From this questioning, the objective was stipulated, which is to describe the analogy between Piaget's explanation of how to get from action to conceptual thinking and the educational conditions for the transition from instrumental to communicative action as described by Habermas. To meet this task, an interpretativist approach was chosen methodologically, made possible by an exploratory theoretical research, whose technical procedures fit it as a bibliographic study. The first chapter is dedicated to Habermas and focuses on the analysis of his concept of communicative rationality. In an auxiliary way, the potentialities and limits of its theoretical approach, of the relationships between the world of life and the system, pretensions of validity and others, related to the dynamics of communicative action are treated. The next chapter focuses on Piaget's work. Through the reading of his works, the biological basis and the sociological interest of his work, maintained in the elaboration of his definitive theory of decentralization, are recovered. The analogies suggested by Piaget between cognitive development and the development of society and individual socialization are also presented. The third moment brings the two authors together. References to Piaget were identified in the habermasian work, the relations between operative thought and communicative action, reflexive abstraction and, finally, the homologies between the path of action to the concept and the path towards communicative action were addressed, taking into account the general objective of the research. In the final remarks, after pointing out some reservations, it is concluded that an analogy at the functional level between the themes derived from this approximation between Piaget and Habermas is possible. From it, resources can be found for educational initiatives to strengthen their emancipatory power.