Os candomblés e os intelectuais no Brasil da primeira metade do século XX
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Data
2024-08-30
Autores
Orientador
Cunha, Fabiana Lopes da
Coorientador
Pós-graduação
História - FCHS
Curso de graduação
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Tipo
Tese de doutorado
Direito de acesso
Acesso restrito
Resumo
Resumo (português)
Os candomblés e outras religiões de matriz africana foram retratados por diversos intelectuais ao longo dos anos do início do século XX. Essas expressões religiosas herdaram o preconceito e o racismo direcionados às populações negras brasileiras, encarada como problema, atraso e algo que devia ser superado. Os quatro autores apresentados nesse trabalho: Nina Rodrigues, Arthur Ramos, Édison Carneiro e Ruth Landes retratam, através de suas obras um continuum de quase meio século de visão sobre as religiões de matriz africana e principalmente os candomblés. Através dos relatos e das análises desses autores é possível acompanhar as dinâmicas que sofreram a mitologia, os ritos, costumes, sociabilidade, repressão social e policial sofridos por essas expressões religiosas. Nina Rodrigues, um médico legista, é o primeiro a publicar um livro sobre o candomblé. Lançado no exterior (França), em 1900, L’Animisme fétichiste des négres de Bahia, obteria sua versão em português apenas em 1935. A obra descreve e apresenta diversos aspectos do candomblé, mas é carregada de preconceito e discriminação contra a população negra. Em 1934, o psiquiatra Arthur Ramos publica O negro brasileiro, funda o que ele chama de Escola Nina Rodrigues e procura publicar e reeditar as obras de seu mestre, Nina Rodrigues. O livro de Ramos traz, novamente a população negra aos holofotes, lidos, dessa vez, pelos conceitos da psicologia da época. A população negra e sua religião é taxada de atrasada e pouco evoluída. Nesse mesmo ano acontece o Primeiro Congresso Afro-Brasileiro, organizado por Gilberto Freyre e outros integrantes da chamada Escola Recifense, onde as religiões africanas são apenas coadjuvantes. Em 1936, Édison Carneiro, um jornalista, publica as Religiões Negras, com o apoio de Arthur Ramos. O livro inova pouco com relação as informações e opiniões de seus antecessores. Em 1937 ocorre o Segundo Congresso Afro-Brasileiro, agora organizado pela chamada Escola Baiana. Em 1938 têm início as pesquisas de Ruth Landes, uma norte-americana, sobre o candomblé. Seu livro seria publicado apenas em 1947 em inglês e em 1967 em português. Sua obra propunha uma leitura do candomblé por um viés de gênero e causou diversos atritos no campo intelectual brasileiro e estrangeiro sobre o tema. Ao longo de quase 50 anos essas expressões religiosas africanas têm sido alvo de curiosidades, especulações, perseguição policial e difamações enquanto procuram se estabelecer como religião. Este trabalho tem como objetivo traçar um panorama dessa sequência de obras em quase meio século, analisar e questionar as motivações de seus intelectuais, sua rede de contatos e relações e estimular futuras pesquisas sobre o tema.
Resumo (inglês)
Candomblés and other religions of African origin were portrayed by various intellectuals throughout the early 20th century. These religious expressions inherited the prejudice and racism directed at black Brazilian populations, seen as a problem, backwardness and something that needed to be overcome. The four authors presented in this work: Nina Rodrigues, Arthur Ramos, Édison Carneiro and Ruth Landes portray, through their works, a continuum of almost half a century of vision on religions of African origin and especially Candomblés. Through the accounts and analyses of these authors it is possible to follow the dynamics that the mythology, rites, customs, sociability, social and police repression suffered by these religious expressions. Nina Rodrigues, a forensic doctor, is the first to publish a book on Candomblé. Published abroad (France) in 1900, L’Animisme fétichiste des négres de Bahia would only be published in Portuguese in 1935. The work describes and presents various aspects of Candomblé, but is full of prejudice and discrimination against the black population. In 1934, psychiatrist Arthur Ramos published O negro brasileiro, founded what he called the Nina Rodrigues School, and sought to publish and reissue the works of his teacher, Nina Rodrigues. Ramos’ book once again brought the black population into the spotlight, this time through the psychological concepts of the time. The black population and its religion were labeled as backward and undeveloped. That same year, the First Afro-Brazilian Congress took place, organized by Gilberto Freyre and other members of the so-called Recife School, where African religions played only supporting roles. In 1936, Édison Carneiro, a journalist, published Religiões Negras, with the support of Arthur Ramos. The book was little new in relation to the information and opinions of its predecessors. In 1937, the Second Afro-Brazilian Congress took place, now organized by the so-called Escola Baiana. In 1938, Ruth Landes, an American, began research on Candomblé. Her book would only be published in 1947 in English and in 1967 in Portuguese. Her work proposed a reading of Candomblé from a gender perspective and caused several conflicts in the Brazilian and foreign intellectual fields on the subject. For almost 50 years, these African religious expressions have been the target of curiosity, speculation, police persecution and defamation as they seek to establish themselves as a religion. This work aims to outline an overview of this sequence of works over almost half a century, analyze and question the motivations of its intellectuals, their network of contacts and relationships, and encourage future research on the subject.
Descrição
Idioma
Português
Como citar
AZORLI, Diego Fernando Rodrigues. Os candomblés e os intelectuais no Brasil da primeira metade do século XX. 2024. 182 p. Tese (Doutorado em História). – Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras, Assis, 2024.