Um amante diabolicamente melancólico: erotismo, melancolia e criação poética na epistolografia amorosa de James Joyce

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Data

2022-07-29

Orientador

Vicente, Adalberto Luis

Coorientador

Pós-graduação

Estudos Literários - FCLAR

Curso de graduação

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Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Tipo

Dissertação de mestrado

Direito de acesso

Acesso abertoAcesso Aberto

Resumo

Resumo (português)

A correspondência amorosa de James Joyce endereçada a Nora Barnacle, datada dos anos de 1904 e 1909, em razão de seu acentuado aspecto erótico, é considerada uma dimensão peculiar da produção do autor irlandês. Salvo raras exceções, essa produção tem sido abordada com um olhar de exotismo pela crítica joyceana, que a trata apenas como uma curiosidade que orbita a obra do escritor, visto oferecer detalhes sórdidos de sua vida sexual. Contra tal tendência, este trabalho visa abordar a epistolografia de Joyce a partir da articulação entre erotismo, melancolia e criação poética, elementos presentes especialmente nas cartas datadas do ano de 1909. Consideramos que a fase de juventude da vida e obra do escritor, respectiva à primeira década do século XX, é marcada por uma concepção romântica do gesto artístico, em que os atos de viver e criar se interpenetram, encontrando na carta o veículo por excelência de expressão do eros melancólico vivenciado pelo escritor. A partir dessa chave, abordamos, com base em teóricos do gênero epistolar, a carta enquanto instância por onde vida e criação se cruzam. Num segundo momento, discutimos alguns aspectos do Romantismo e do conceito de visão romântica de mundo, enquanto noção que se estende para além da localização cronológica do movimento romântico, para, a seguir, articularmos as relações entre melancolia, erotismo e criação poética, partindo de uma exposição histórica que perpassa certos momentos paradigmáticos que se estendem da Antiguidade à Era Romântica. No que se segue, delineamos a persona romântica do jovem Joyce a partir da análise do percurso formativo de Stephen Dedalus, alter ego do escritor, no romance autobiográfico Um retrato do artista quando jovem, procurando demonstrar como a máscara do melancólico romântico encobre a figuração literária de Joyce. Por fim, analisamos a correspondência amorosa do escritor irlandês, na qual se desenvolve a expressão poética do eros melancólico, desencadeado pela distância da mulher amada, bem como pela solidão e alienação do escritor em sua terra natal, para onde retorna após sua partida em 1904. Um fator contingente, isto é, uma falsa acusação de traição contra Nora ocorrida nessa época, desencadeia em Joyce o sentimento de perda do objeto amado, fazendo aflorar fantasmagorias, imagens e delírios eróticos com a finalidade de sanar, por meio da linguagem, a falta e a perda do objeto que marca a experiência melancólica. Joyce, nesta fase, assume a máscara do melancólico romântico, que se entrega à paixão, à volúpia e à perdição personificadas na figura feminina para, através dela, ter acesso à criação.

Resumo (inglês)

Exchanged throughout 1904 and 1909, James Joyce's love letters to Nora Barnacle are considered an odd side of the Irish author's work due to their heavily erotic aspect. Save for a few exceptions, this correspondence has been viewed as merely exotic by Joycean criticism, which tends to treat it as a secondary element to the author's broader body of work, since it offers sordid details of his sexual life. Going against this trend, we aim to address Joyce's epistolography departing from the articulation between eroticism, melancholy and poetic creation, elements that are particularly influential in the letters written in 1909. Thus, we consider that the earliest phase of the writer's life and work, set in the first decade of the twentieth century, is defined by a romantic view of the artistic gesture, wherein living and creating superimpose, finding in the letter the perfect medium to express the melancholic eros experienced by the writer. Based on that and the work of epistolary theorists, we approach the letter as an instance in which life and creation intersect. In a later moment, we discuss some aspects of Romanticism and the concept of the romantic worldview as an idea that transcends the chronological duration of the romantic movement. Then, we articulate the relationship between melancholy, eroticism, and poetic creation, starting from a historical analysis that covers certain paradigmatic moments from Antiquity to the Romantic Age. Hereinafter, we outline the romantic persona of the young Joyce starting from the analysis of the formative path of Stephen Dedalus, the author's alter ego in the autobiographical novel A portrait of the artist as a young man, as a means to understand how the mask of the romantic melancholy encroaches Joyce's literary work. Lastly, we analyze the Irish writer's love letters, in which the poetic expression of the melancholic eros, triggered by the distance separating him from his beloved, is developed, as well as the loneliness and alienation the writer feels in his homeland, where he returns to after his departure in 1904. A contingent event, that is, a false accusation regarding Nora's supposed extramarital affair, instills in Joyce a feeling of loss of the object of his affection, inspiring him to produce phantasmagoria, images and erotic delusions to remedy, through language, the loss that marks the melancholy experience. Joyce, at this stage, takes on the mask of the romantic plagued by melancholy who surrenders to the passion, voluptuousness and damnation personified by the female figure, so that he can, through her, be granted access to creation.

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Português

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