Interferência da saúde bucal na qualidade de vida de pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Abstract

O transtorno do espectro autista (TEA) é um transtorno de neurodesenvolvimento que pode ser manifestado em qualquer raça, sexo, idade, etnia e condição socioeconômica. As características comportamentais tornam-se evidentes na primeira infância e incluem padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades. Esses padrões podem frequentemente impactar e interferir nos hábitos de saúde bucal. O objetivo deste estudo foi avaliar o impacto da saúde bucal na qualidade de vida de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Trata-se de um estudo observacional transversal, de abordagem quantitativa, realizado na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de uma cidade de pequeno porte, no interior do estado de Minas Gerais. Para a realização da pesquisa, foram utilizados dois instrumentos: o "Early Childhood Oral Health Impact Scale" (ECOHIS), uma ferramenta validada, e um segundo instrumento desenvolvido pelos próprios autores, que abordava as práticas de higiene oral e hábitos alimentares. As variáveis independentes analisadas neste estudo incluem o grau de acometimento, idade, sexo, idade de diagnóstico, raça, grau de instrução, frequência de escovação, uso do fio dental e as consultas ao cirurgião-dentista no último ano. Foi realizada uma análise estatística descritiva e os resultados foram apresentados em formato de tabelas. O teste de Kruskal-Wallis foi utilizado para comparação dos scores obtidos e o nível de significância adotado foi de 0,05. A análise estatística e o processamento dos dados foram conduzidos utilizando os softwares Bioestat, versão 5.3, e Epi Info, na versão 7.2.5.0. Dos 46 pais entrevistados, observou-se uma predominância de filhos do sexo masculino (84%), com idades entre 5 e 8 anos (39%) e, em sua maioria, crianças brancas (55%). Do total, 64,06% apresentavam nível de gravidade leve, 48% dos casos tiveram diagnóstico precoce e apenas 39% dos casos de gravidade 2 tiveram acesso ao cirurgião-dentista no último ano. Pacientes do sexo masculino (94%) relataram consumo mais frequente de açúcares e carboidratos. Há um resultado positivo entre TEA e saúde bucal, com predominância de pacientes do sexo masculino, idade entre 5 e 8 anos e diagnóstico precoce. A qualidade de vida relacionada à saúde bucal (QVRSB) de crianças com TEA pode ser influenciada por hábitos familiares, grau de comprometimento, higiene oral inadequada, dieta desequilibrada e falta de serviços especializados. Com pequeno número de pesquisas sobre o impacto do autismo na saúde bucal e nos hábitos alimentares, destaca-se a importância da colaboração de profissionais qualificados para promover melhores práticas. O diagnóstico precoce é fundamental para implementar estratégias mais eficazes de promoção e tratamento da saúde, contribuindo para uma melhor QVRSB e bem-estar geral desses indivíduos.

Autism spectrum disorder (ASD) is a neurodevelopmental disorder that can manifest in any race, sex, age, ethnicity, and socioeconomic status. Behavioral characteristics become evident in early childhood and include restricted and repetitive patterns of behavior, interests, and activities. These patterns can often impact and interfere with oral health habits. The objective of this study was to evaluate the impact of oral health on the quality of life of children with Autism Spectrum Disorder (ASD). This is a cross-sectional observational study with a quantitative approach, carried out at the Association of Parents and Friends of the Exceptional (APAE) in a small city in the interior of the state of Minas Gerais. Two instruments were used to conduct the research: the "Early Childhood Oral Health Impact Scale" (ECOHIS), a validated tool, and a second instrument developed by the authors themselves, which addressed oral hygiene practices and eating habits. The independent variables analyzed in this study include the degree of involvement, age, sex, age at diagnosis, race, level of education, frequency of tooth brushing, use of dental floss, and visits to the dentist in the last year. A descriptive statistical analysis was performed and the results were presented in tables. The nonparametric Kruskal-Wallis test was used to compare the scores obtained (mean, median, and standard deviation), and the significance level adopted was 0.05. Statistical analysis and data processing were conducted using the Bioestat software, version 5.3, and Epi Info, version 7.2.5.0. Of the 46 parents interviewed, there was a predominance of male children (84%), aged between 5 and 8 years (39%), and the majority were white children (55%). Of the total, 64.06% had a mild severity level, 48% of cases were diagnosed early, and only 39% of cases with severity 2 had access to a dentist in the last year. Male patients (94%) reported more frequent consumption of sugars and carbohydrates. There is a positive result between ASD and oral health, with a predominance of male patients, aged between 5 and 8 years, and early diagnosis. The oral health-related quality of life (OHRQoL) of children with ASD can be influenced by family habits, degree of impairment, inadequate oral hygiene, unbalanced diet, and lack of specialized services. With a small number of studies on the impact of autism on oral health and eating habits, the importance of collaboration with qualified professionals to promote best practices is highlighted. Early diagnosis is essential to implement more effective health promotion and treatment strategies, contributing to better OHRQoL and general well-being of these individuals.