Ferramenta multifatorial para predição do risco de quedas em idosos e pessoas de meia idade: um estudo prospectivo

Abstract

Introdução: A ocorrência de quedas é recorrente na população idosa, sendo um importante problema desaúde pública. Pesquisas atuais têm incluído indivíduos a partirde 50 anos no rastreio do risco da ocorrência de quedas. Como o equilíbrio postural depende de muitos sistemas e as quedas são multifatoriais, é provável que um único teste não seja capaz de avaliar corretamente o equilíbrio e nem de prever a possibilidade de ocorrência das quedas. O presente estudo teve como objetivo desenvolver uma ferramenta de triagem para o risco de quedas futuras em idosos e adultos de meia idade residentes na comunidade e comparar o desempenho das ferramentas em três grupos distintos: indivíduos que caíram e os que não caíram, homens e mulheres, e diferentes faixas etárias. Métodos: participaram do estudo 62 pessoas com 50 anos e mais, moradoras da comunidade da cidade de Marília, SP. Os participantes foram classificados como “caidores” ou “não caidores” com base em quedas ocorridas em um seguimento de 12 meses a partir da data de avaliação. Os testes aplicados foram: 30 seconds sit to stand, teste do degrau, teste de equilíbrio em 4 estágios na plataforma de força. Também foram aplicados os questionários: Questionário Ambiental de Risco de quedas, Perfil de Atividade e Participação relacionado com a Mobilidade e Self Efficacy for Exercise. Foi realizada uma análise de regressão logística binária para determinar um modelo que permita a previsão de quedas a partir dos testes funcionais e outras variáveis. As comparações entre “caidores” e “não caidores” e entre gêneros foram feitas pelo teste de Mann-Whitney e o test t não pareado. Diferenças entre as faixas etárias foram avaliadas pela ANOVA de 1 via com poshoc de Bonferroni e pelo teste de Kruskal- Wallis com poshoc de Dunn. Em todas as análises, um valor de p ≤ 0,05 foi considerado como significante. Resultados: A escala ambiental foi um previsor da ocorrência de quedas futuras (OR = 1,355, IC = 1,045-1,757, p = 0,002), mas as outras variáveis incluídas não. Na plataforma de força as variáveis Vx-tandem-olhos abertos (OR = 0,845, IC = 0,734-0,972, p = 0,019) e Vy- unipodal-olhos abertos (OR = 0,812, IC= 0,667-0,988, p = 0,03) se mostraram previsores para a ocorrência de quedas futuras. Houve resultados significativos nos questionários de escala de risco ambiental (p=0,02) e de AVD e mobilidade (p=0,03) entre caidores e não caidores. Na comparação por gênero, o teste do degrau (p=0,04), escala de risco ambiental (p=0,001) e AVD e mobilidade (p=0,001) foram significativos. As comparações por faixas etárias mostraram diferenças significativas no teste do degrau (p=0,009), Sentar e Levantar (p=0,01) MoCa (p=0,03), e AVD e mobilidade (p=0,01). Conclusão: A pesquisa identificou a escala ambiental de risco de quedas como ferramenta preditora para quedas futuras em idosos e adultos de meia idade. Na plataforma de força, as variáveis Vx-tandem-olhos abertos e Vy-unipodal-olhos abertos também se mostraram preditores. Houve diferenças nos testes entre gêneros, faixas etárias e entre caídores e não caídores.

Introduction: The occurrence of falls is recurrent in the elderly population, being an important public health problem. Current research has included individuals aged 50 and over in screening for the risk of falls. As postural balance depends on many systems and falls are multifactorial, it is likely that a single test will not be able to correctly assess balance or predict the possibility of falls occurring. The present study aimed to develop a screening tool for the risk of future falls in elderly and middle-aged adults living in the community and compare the performance of the tools in three distinct groups: individuals who fell and those who did not fall, men and women , and different age groups. Methods: 62 people aged 50 and over, living in the community of the city of Marília, SP, participated in the study. Participants were classified as “fallers” or “non-fallers” based on falls occurring within a 12-month follow-up period from the date of assessment. The tests applied were: 30 seconds sit to stand, step test, 4-stage balance test on the force platform. Questionnaires were also applied: Environmental Questionnaire on Risk of Falls, Activity and Participation Profile related to Mobility and Self Efficacy for Exercise. A binary logistic regression analysis was performed to determine a model that allows the prediction of falls based on functional tests and other variables. Comparisons between “fallers” and “non-fallers” and between genders were made using the Mann-Whitney test and the unpaired t test. Differences between age groups were assessed by 1-way ANOVA with Bonferroni poshoc and the Kruskal-Wallis test with Dunn poshoc. In all analyses, a p value ≤ 0.05 was considered significant. Results: The environmental scale was a predictor of the occurrence of future falls (OR = 1.355, CI = 1.045-1.757, p = 0.002), but the other variables included were not. On the force platform, the variables Vx-tandem-eyes open (OR = 0.845, CI = 0.734-0.972, p = 0.019) and Vy-single-leg-eyes open (OR = 0.812, CI = 0.667-0.988, p = 0.03 ) proved to be predictors of the occurrence of future falls. There were significant results in the environmental risk scale questionnaires (p=0.02) and ADL and mobility (p=0.03) between fallers and non-fallers. When comparing by gender, the step test (p=0.04), environmental risk scale (p=0.001) and ADL and mobility (p=0.001) were significant. Comparisons by age groups showed significant differences in the step test (p=0.009), Sitting and Standing (p=0.01), MoCa (p=0.03), and ADL and mobility (p=0.01). Conclusion: The research identified the environmental falls risk scale as a predictive tool for future falls in elderly and middle-aged adults. On the force platform, the variables Vx-tandem-eyes open and Vy-unipedal-eyes open also proved to be predictors. There were differences in the tests between genders, age groups and between fallers and non-fallers.