Gestantes de alto risco: microbioma bucal e sua relação com condições sistêmicas e bucais

Abstract

As alterações fisiológicas que ocorrem durante a gravidez são importantes para o enfrentamento das demandas metabólicas da gestação e para suprir as necessidades de desenvolvimento do feto. Entretanto, o aumento dos níveis de alguns hormônios, fatores de coagulação e interleucinas, podem gerar mudanças na composição da microbiota materna, inclusive no microbioma bucal. Neste sentido, o objetivo da pesquisa foi verificar a ocorrência de bactérias Prevotella intermedia, Bifidobacterium animalis, Eubacterium nodatum, Fusobacterium nucleatum, Porphyromonas gingivalis, Tannerella forsythia e Treponema denticola em biofilmes dentários de gestantes de alto risco. Trata-se de um estudo transversal com 170 gestantes de alto risco. Os dados foram coletados durante a consulta da gestante no Ambulatório Médico de Especialidades para o pré-natal de risco. Durante a consulta, realizou-se uma entrevista para a coleta de dados socioeducacionais, hábitos de saúde e histórico médico. Foi realizado exame clínico por meio do índice de Dentes Cariados, Perdidos e Obturados (CPOD) e do Índice Periodontal Comunitário, além da coleta de biofilme supra e subgengival. Para análise dos dados, utilizou-se frequência absoluta, média, desvio padrão e o teste G de associação ao nível de significância de 5%. A detecção do DNA ocorreu por meio de Reação em Cadeia da Polimerase. A amostra caracterizou-se por uma maioria de gestantes brancas (62,94%), com idade média de 29 anos e no segundo trimestre gestacional; residentes de aluguel (41,18%), com a presença do cônjuge, seja de forma casada (38,24%) ou amasiada (41,76%), com trabalho formal (38,24%) e ensino médio completo (53,33%). A renda familiar média foi de até 2500 reais. Dentre as gestantes, 9,41% continuaram fumando durante a gestação. O histórico médico mostrou que 55,88% das gestantes apresentavam obesidade, 11,18% hipertensão e 8,24% diabetes mellitus. No exame clínico foi verificada a presença de gengivite em 75,88%, cálculo em 50,59% e periodontite em 17,06% das gestantes. O CPOD médio foi de 9,03 dentes afetados pela cárie, sendo o componente restaurado a maior média do índice (6,17). A cárie dentária esteve presente em 54,12% das gestantes. Os periodontopatógenos de maior ocorrência foram F.nucleatum em biofilme supragengival (52,94%) e P. gingivalis em biofilme subgengival (14,71%). A escolaridade materna esteve associada à presença de cálculo (p=0,031) e a ocorrência de alguns periodontopatógenos. A obesidade teve associação com B. animalis em biofilme supragengival (p=0,028). O tabagismo esteve relacionado à presença de periodontite e de bactérias periodontopatogênicas em biofilme supra e subgengival. Todas as bactérias avaliadas apresentaram associação com algum grau da doença periodontal. Conclui-se que a maioria das gestantes era obesa e que a doença bucal de maior prevalência foi a gengivite, seguida da cárie dentária. Poucas gestantes mantinham o hábito de fumar, mas este esteve relacionado à periodontite. As condições socioeducacionais maternas estiveram associadas a fatores de saúde, e a ocorrência de periodontopatógenos esteve relacionada à doença periodontal. A presença de bactérias periodontopatogênicas em biofilmes dentários de gestantes de alto risco foi alta, principalmente em biofilme supragengival.

The physiological changes that occur during pregnancy are important for coping with the metabolic demands of pregnancy and for meeting the developmental needs of the fetus. However, increased levels of some hormones, coagulation factors, and interleukins can generate changes in the composition of the maternal microbiota, including the oral microbiome. In this sense, the objective of the research was to verify the occurrence of Prevotella intermedia, Bifidobacterium animalis, Eubacterium nodatum, Fusobacterium nucleatum, Porphyromonas gingivalis, Tannerella forsythia, and Treponema denticola bacteria in dental biofilms of high-risk pregnant women. This is a cross-sectional study with 170 high-risk pregnant women. Data were collected during the pregnant woman's consultation at the Medical Specialties Outpatient Clinic for high-risk prenatal care. During the consultation, an interview was conducted to collect socio-educational data, health habits, and medical history. A clinical examination was performed using the Index of Decayed, Missing and Filled Teeth (DMFT) and the Community Periodontal Index, in addition to the collection of supra and subgingival biofilm. The data was analyzed using absolute frequency, mean, standard deviation and the G-test for association at a 5% significance level. DNA was detected using Polymerase Chain Reaction. The sample was characterized by a majority of white pregnant women (62.94%), with an average age of 29 years and in the second trimester of pregnancy; renting accommodation (41.18%), with the presence of a spouse, either married (38.24%) or living with a partner (41.76%), with formal employment (38.24%) and complete high school (53.33%). The average family income was up to 2500 reais. Among the pregnant women, 9.41% continued to smoke during pregnancy. The medical history showed that 55.88% of the pregnant women were obese, 11.18% had hypertension and 8.24% had diabetes mellitus. The clinical examination revealed the presence of gingivitis in 75.88%, calculus in 50.59% and periodontitis in 17.06% of the pregnant women. The mean DMFT was 9.03 teeth affected by caries, with the restored component having the highest mean index (6.17). Dental caries was present in 54.12% of the pregnant women. The most frequent periodontopathogens were F. nucleatum in supragingival biofilm (52.94%) and P. gingivalis in subgingival biofilm (14.71%). Maternal schooling was associated with the presence of calculus (p=0.031) and the occurrence of some periodontopathogens. Obesity was associated with B. animalis in supragingival biofilm (p=0.028). Smoking was related to the presence of periodontitis and periodontopathogenic bacteria in supragingival and subgingival biofilm. All the bacteria evaluated were associated with some degree of periodontal disease. It was concluded that the majority of pregnant women were obese and that the most prevalent oral disease was gingivitis, followed by dental caries. Few of the pregnant women smoked, but this was related to periodontitis. Maternal socio-educational conditions were associated with health factors, and the occurrence of periodontopathogens was related to periodontal disease. The presence of periodontopathogenic bacteria in dental biofilms of highrisk pregnant women was high, especially in supragingival biofilm.