Para além do território: a categoria Ró do povo A’uwẽ Xavante no centro da disputa territorial na Terra Indígena Sangradouro/Volta Grande

Carregando...
Imagem de Miniatura

Data

2023-03-28

Orientador

Sobreiro Filho, José

Coorientador

Pós-graduação

Desenvolvimento territorial na América Latina e Caribe - IPPRI

Curso de graduação

Título da Revista

ISSN da Revista

Título de Volume

Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Tipo

Dissertação de mestrado

Direito de acesso

Acesso abertoAcesso Aberto

Resumo

Resumo (português)

Ao analisar as estratégias de avanços do agronegócio e de resistências do povo A’uwẽ, conhecido como Xavante, na Terra Indígena (TI) Sangradouro/Volta Grande, em Mato Grosso, buscamos subsidiar a compreensão dos desafios territoriais dos povos indígenas na atualidade e, a partir das categorias endógenas, contribuir para as discussões teóricas na Geografia. Na primeira seção, são apresentados os objetivos e metodologia. No segundo capítulo, discutimos a territorialidade do povo A’uwẽ, buscando identificar categorias espaço-temporais próprias a’uwẽ, particularmente Ró, uma categoria complexa e polissêmica que pode ser compreendida como o próprio mundo a’uwẽ. A partir do processo histórico que levou à configuração territorial atual, destacamos que a luta pelo território, enquanto demarcação de Terras Indígenas, passa a ser uma estratégia de resistência. No capítulo seguinte, mais do que descrever um histórico de ocupação não indígena no Ró, buscamos demonstrar como a força motriz desta dinâmica de destruição do mundo a’uwẽ foi a acumulação por espoliação. Recorremos a dois momentos históricos significativos: nos anos 1940, com a Marcha para o Oeste, e nos anos 1960 até 1980, através das políticas de integração nacional da ditadura militar. Em seguida, é apresentado o modo atual de operação do agronegócio, o mapeamento da sua territorialização sobre o antigo domínio a’uwẽ e as suas consequências socioambientais. A partir de duas experiências de produção de commodities em larga escala dentro das TI a’uwẽ, com ênfase na TI Sangradouro/Volta Grande, evidenciamos sua relação com as disputas territoriais, retomando os desafios e estratégias de resistências do povo A’uwẽ. Nesta disputa, Ró, enquanto espaço de liberdade e sem limites, se opõe à prisão que representa a noção de território dos não indígenas. Assim, a categoria território encerra uma profunda contradição, pois se o território une a luta pela terra com a luta pela autodeterminação, por outro lado, a concepção ocidental de território perpassa pela aceitação da lógica do espaço limitado, privado, mercantilizado e cercado. Nesta contradição, a luta pelo território a’uwẽ é, em última instância, a luta pelo Ró, ainda que estas sejam dialeticamente categorias opostas.

Resumo (inglês)

This study seeks to support the understanding of territorial confrontation of indigenous peoples in Brazil by analyzing the strategies of agribusiness advances and indigenous resistance of the A'uwẽ people, known as Xavante, at Terra Indígena (TI) Sangradouro/Volta Grande, state of Mato Grosso. In the first section, we present the objectives and methodology. In the second chapter, we discuss a'uwẽ territoriality, seeking to identify their own space-time categories, particularly Ró, a complex and polysemic category that can be understood as the a'uwẽ world itself. From the historical process that led to the current territorial configuration, we highlight that the struggle for territory, as demarcation of indigenous lands, becomes a strategy of resistance. In the next chapter, we seek to demonstrate how the driving force of the dynamic of destruction of Ró was anchored by accumulation by dispossession. We resort to two significant historical moments: in the 1940s, with the official program Marcha para o Oeste, of advance to the Western regions of Brazil, and from the 1960s to the 1980s, through the policies of national integration of the military dictatorship. Next, we describe the current operation mode of agribusiness, based on financial capital, as well as present the mapping of its territorialization on the former domain of A'uwẽ people and its socio-environmental consequences. From two experiences of large-scale commodity production within the A'uwẽ indigenous lands, with emphasis on TI Sangradouro/Volta Grande, we highlight its relationship with territorial disputes, resuming the challenges and strategies of resistance of A'uwẽ people. In this dispute, Ró, as a space of freedom and without limits, opposes the prison that represents the notion of territory of non-indigenous people. Thus, the territory category contains a profound contradiction, because if the territory, for the indigenous movements, unites the struggle for land with the struggle for self-determination, on the other hand, the western conception of territory permeates the acceptance of the logic of a limited, private, commoditized, and enclosed space. In this contradiction, the struggle for A'uwẽ territory is ultimately the struggle for Ró, even though, these are dialectically opposite categories.

Resumo (espanhol)

Analizando las estrategias de avances del agribusiness y de resistencia del pueblo A'uwẽ, conocido como Xavante, en la Tierra Indígena (TI) Sangradouro/Volta Grande, en Mato Grosso, buscamos subsidiar la comprensión de los desafíos territoriales de los pueblos indígenas de hoy y, desde sus categorías endógenas, contribuir a las discusiones teóricas en Geografía. En la primera sección, se presentan los objetivos y la metodología. En el segundo capítulo, discutimos la territorialidad de los A'uwẽ, buscando identificar categorías espacio- temporales a'uwẽ propias, particularmente Ró, una categoría compleja y polisémica que puede entenderse como el mundo a'uwẽ. Basado en el proceso histórico que condujo a la configuración territorial actual, destacamos que la lucha por el territorio, que se expressa en la demarcación de las Tierras Indígenas, se convierte en una estrategia de resistencia. En el siguiente capítulo, más que describir una historia de ocupación no indígena en el Ró, buscamos demostrar cómo la fuerza motriz de la dinámica de destrucción del mundo a'uwẽ fue la acumulación por desposesión. Utilizamos dos momentos históricos significativos: en la década de 1940, con la Marcha hacia el Oeste, y en la década de 1960 hasta 1980, a través de las políticas de integración nacional de la dictadura militar. A continuación, se presenta el modo actual de operación del agronegocio, el mapeo de su territorialización en el antiguo dominio a'uwẽ y sus consecuencias socioambientales. A partir de dos experiencias de producción de mercancías a gran escala dentro de las TI a'uwẽ, con énfasis en la TI Sangradouro/Volta Grande, evidenciamos su relación con las disputas territoriales, retomando los desafíos y estrategias de resistencia del pueblo A'uwẽ. En esta disputa, Ró, como espacio de libertad y sin límites, se opone a la prisión que representa la noción de territorio de los no indígenas. Así, la categoría territorio contiene una profunda contradicción, porque si el territorio une la lucha por la tierra con la lucha por la autodeterminación, por otro lado, la concepción occidental del territorio pasa por la aceptación de la lógica del espacio limitado, privado, mercantilizado y rodeado. En esta contradicción, la lucha por el territorio a'uwẽ es en última instancia la lucha por el Ró, aunque estas sean categorías dialécticamente opuestas.

Descrição

Idioma

Português

Como citar

Itens relacionados

Financiadores