Poder, governo e subjetividade: uma incursão pelo trabalho genealógico de Michel Foucault da década de 1970

Abstract

Esta dissertação é o resultado de um esforço em analisar como a constituição de subjetividades foi pensada no trabalho genealógico de Foucault situado na década de 1970. Partimos de uma caracterização de alguns traços constitutivos da atividade genealógica e, em seguida, baseando-nos fundamentalmente em Vigiar e punir e A vontade de saber, apontamos como o sujeito moderno aparece enquanto efeito de tecnologias de saber e poder, especificamente da tecnologia disciplinar e do dispositivo de sexualidade. Por último, fazemos uma primeira incursão no campo da genealogia das artes de governo elaborada pelo filósofo a partir de 1978. Neste caso, acompanhamos o desenvolvimento de parte do curso Segurança, território, população, observando a introdução de novas ferramentas teóricas tais como a de dispositivos de segurança, governamentalidade, poder pastoral e contracondutas. A título de conclusão, ressaltamos que a compreensão do exercício do poder como sendo da ordem do governo, enquanto condução de condutas – valendo-se da ambiguidade do termo conduta (conduzir os outros, deixar-se conduzir, conduzir a si próprio) – consiste num primeiro ensejo do deslocamento da ênfase das pesquisas de Foucault para o campo da ética no qual tratou de mapear outras modalidades históricas de relação consigo, com os outros e com a verdade.

This dissertation is the result of an effort to analyze how the constitution of subjectivities was thought in Foucault's genealogical work in the 1970s. We start with a characterization of some constitutive aspects of genealogical activity and then, basing ourselves fundamentally on Discipline and Punish and The History of Sexuality I, we point out how the modern subject appears as an effect of technologies of knowledge and power, specifically of disciplinary technology and of the sexuality device. Finally, we make a first foray into the field of the genealogy of the arts of government elaborated by the philosopher from 1978. In this case, we follow the development of part of the Security, territory, population course, observing the introduction of new theoretical instruments such as security devices, governmentality, pastoral power and counter-conducts. As a conclusion, we point out that the understanding of the exercise of power as based on the notion of government, that is, of conducting conduct - taking advantage of the ambiguity of the term conduct (conducting others and conducting yourself) - consists of in a first step towards shifting the emphasis of Foucault's research to the field of ethics, in which he tried to map other historical modalities of relationship with himself, with others and with the truth.