Entomoepidemiologia da doença de Chagas no Nordeste brasileiro: desenvolvimento de chaves de identificação com dados citogenéticos para os triatomíneos notificados em áreas de surto de transmissão oral

Abstract

A doença de Chagas (DC) é uma enfermidade causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi e transmitida, principalmente, pelas fezes/urina dos triatomíneos infectados pelo T. cruzi. Os casos mais recentes de DC no Brasil ocorreram por infecção oral, a partir do consumo acidental de alimentos contaminados pelo T. cruzi (alimentos in natura que foram triturados/processados junto com triatomíneos infectados), acarretando, por exemplo, na notificação de 27 contaminados em Pernambuco (PE) e 18 contaminados e dois mortos no Rio Grande do Norte (RN). Até o momento, 13 espécies de triatomíneos foram notificadas em PE e nove no RN. A correta identificação desses vetores auxilia diretamente nas atividades dos programas de controle, permitindo que as espécies de importância primária sejam priorizadas durante as vigilâncias epidemiológicas. Embora as chaves dicotômicas baseadas em dados morfológicos sejam de extrema importância para a taxonomia desses vetores, eventos de plasticidade fenotípica e especiação críptica resultaram na proposta de chaves alternativas, baseadas em dados citogenéticos. Com base no exposto, desenvolvemos chaves dicotômicas para auxiliar na identificação das espécies de triatomíneos dos estados de PE e RN, a partir de dados citogenéticos. Todas as espécies puderam ser diferenciadas pelas características citogenéticas, ressaltando a importância das chaves taxonômicas desenvolvidas para a correta identificação dos triatomíneos do PE e RN, com destaque para as espécies que apresentam semelhanças morfológicas (como Triatoma brasilensis e T. petrocchiae) e espécies que já foram identificadas de forma errada (T. pseudomaculata já foi identificada como T. maculata em ambos os estados). Essas chaves alternativas poderão auxiliar a comunidade científica e, principalmente, os sanitaristas, evitando que novos equívocos ocorram na identificação dos vetores presentes nesses estados que se destacaram pelos surtos de DC por infecção oral.

The influence of man on the integrity of species, with the possibility of hybridization events between isolated species, has been known since the 1930s. Although changes in the structure of communities influenced due to climate and environmental changes have been examined, few studies have analyzed how these changes directly affect the reproductive interactions between species. Given this scenario, physical, temporal and behavioral reproductive barriers are being changed, which may lead to an increase in the probability of hybridization, potentially resulting in introgression, speciation or even extinction events. Taking into account the epidemiological importance of triatomines and that hybridization studies can help to understand the systematics and help in the knowledge of the isolation mechanisms that limit the gene flow between the different species, the present project had as main objective to analyze the reproductive interactions of the Chagas disease vectors grouped in the Rhodniini tribe, through experimental crossings and analysis of the viability of the hybrids. Crosses were performed between Rhodnius brethesi x R. pictipes, R. colombiensis x R. ecuadoriensis, R. neivai x R. prolixus, R. robustus x R. prolixus, R. montenegrensis x R. marabaensis; R. montenegrensis x R. robustus, R. prolixus x R. nasutus and R. neglectus x R. milesi. In addition, oviposition and hatching rates were calculated. All crosses resulted in hybrids in at least one of the cross directions. In the face of anthropogenic changes, reorganizations in species distribution are taking place, which may increase the probability of encounters between allopatric species under natural conditions. Our results demonstrate that both allopatric and sympatric Rhodnius species produce hybrids, which may raise concerns for public health agencies. Thus, we demonstrate that Rhodniini species are able to produce hybrids under laboratory conditions. These results are of great epidemiological importance and raise an important discussion about the influence of climatic and environmental interactions on the dynamics of Chagas disease.