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Testemunho e rupturas com o desmentido social: compreensões a partir da obra "Eu, travesti"

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Data

2024-08-13

Orientador

Brancaleoni, Ana Paula Leivar

Coorientador

Pós-graduação

Educação Sexual - FCLAR

Curso de graduação

Título da Revista

ISSN da Revista

Título de Volume

Editor

Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Tipo

Dissertação de mestrado

Direito de acesso

Acesso abertoAcesso Aberto

Resumo

Resumo (português)

Os xingamentos, os apelidos, o soco, o empurrão, o chiclete no cabelo, a cabeça dentro do vaso sanitário, o olho vermelho, a boca que sangra, o pericrânio aberto pelo pedaço de lâmpada que fora projetado no centro da cabeça, a pele esfolada, o membro decepado, a faca no peito e na garganta, o olho arrancado, os chutes no órgão genital, o cabo de vassoura como ameaça, o medo constante e diário, a covardia que impera. Em uma sociedade cisheteronormativa, quem, de alguma forma, é dissidente da norma é exposto a violências que são tão mais severas quanto maior a percepção social da ruptura com a “pedagogia do armário”. Assim, homens homossexuais percebidos como “efeminados”, mulheres lésbicas percebidas como masculinas, travestis e pessoas transgêneras são ainda mais discriminados e violentados. Elementos representados socialmente como femininos, por meio de corpos que nasceram com pênis, acionam os mecanismos heteroterroristas que visam a conformação de sujeitos às normas. A violência repetida e não reconhecida é elemento de caráter traumático, tanto no âmbito individual quanto social. Ferenczi, ao discutir as dimensões do trauma, refere- se ao momento em que a violência ocorre, mas destaca outro. O autor enfatiza o momento do testemunho, em que quem sofreu a violência busca escuta, acolhimento e reconhecimento de sua dor. Contudo, quando o testemunho não pode ocorrer, ou é deslegitimado, institui-se o desmentido, momento em que, de fato, se instala o trauma. Pelo desmentido, não existe o reconhecimento da existência do ocorrido e a história do sujeito permanece camuflada ou sendo vista como mentirosa. Dizemos de desmentido social quando a violência afeta grupos e a desautorização da dor sofrida pelos mesmos, se dá em âmbito também coletivo. A narrativa sensível do vivido e a arte são elementos que comparecem com potencial reparatório tanto para quem é autor/a, quanto para quem se encontra com a produção e partilha dela. Há autobiografias que são narrativas testemunhais de pessoas que não se alinham às normas. Entre essas narrativas, elegeu-se “Eu, travesti: memórias de Luísa Marilac” como objeto de análise no presente trabalho. Tem-se por objetivo geral analisar a obra “Eu, Travesti”, de Luisa Marilac escrita com o apoio de Nana Queiróz, tomando-a como relato testemunhal, buscando compreender os processos de desmentido social imputados a Luísa e pessoas travestis, assim como o possível potencial da autobiografia para a ruptura com os silenciamentos e desautorização de pessoas que rompem com a cisheteronormatividade. Trata-se de um estudo qualitativo que assumiu como caminho de análise de dados a análise de conteúdo. A análise da obra nos aponta que a possibilidade de testemunho da violência é elemento fundamental na construção de um primado ético. Luísa, por sua narrativa, participa da ruptura com arquivamentos e pagamentos de violências sofridas por pessoas trans de modo que, no presente e futuro, possam ser promovidos o respeito às diversidades de gênero. Por seu testemunho, apresenta-nos caminhos de enfrentamento da violência e construção criativa da estética de sua existência. Trata-se de um importante material de trabalho para processos formativos, podendo colaborar com a ruptura com os processos de abjeção e desmentido social imputados a pessoas que são dissidentes da cisheteronormatividade.

Resumo (inglês)

The swearing, the nicknames, the punch, the push, the chewing gum in the hair, the head in the toilet, the red eye, the bleeding mouth, the pericranium split open by the piece of light bulb that was projected into the center of the head, the flayed skin, the severed limb, the knife in the chest and throat, the eye gouged out, the kicks to the genitals, the broomstick as a threat, the constant and daily fear, the cowardice that reigns. In a cisheteronormative society, those who in some way dissent from the norm are exposed to violence that is all the more severe the greater the social perception of the break with the “pedagogy of the closet”. Thus, homosexual men perceived as “effeminate”, lesbian women perceived as masculine, transvestites and transgender people are even more discriminated against and violated. Elements socially represented as feminine, through bodies born with a penis, trigger heteroterrorist mechanisms aimed at conforming subjects to norms. Repeated and unacknowledged violence is a traumatic element, both individually and socially. Ferenczi, when discussing the dimensions of trauma, refers to the moment when violence occurs, but highlights another. The author emphasizes the moment of witnessing, when those who have suffered violence seek to be heard, welcomed and their pain acknowledged. However, when testimony cannot take place, or is delegitimized, denial is instituted, at which point the trauma is actually installed. Through denial, there is no recognition of the existence of what happened and the subject's story remains camouflaged or seen as a lie. We call it social denial when the violence affects groups and the disavowal of the pain suffered by them takes place on a collective level. The sensitive narrative of what has been experienced and art are elements that appear with reparatory potential both for the author and for those who encounter the production and share it. There are autobiographies that are testimonial narratives of people who don't conform to the norms. Among these narratives, “Eu, travesti: memórias de Luísa Marilac” was chosen as the object of analysis in this work. The general aim is to analyse Luisa Marilac's “Eu, Travesti”, written with the support of Nana Queiróz, taking it as a testimonial account, seeking to understand the processes of social denial imputed to Luisa and transvestites, as well as the possible potential of autobiography to break with the silencing and deauthorization of people who break with cisheteronormativity. This is a qualitative study which used content analysis as its data analysis method. The analysis of the work shows us that the possibility of witnessing violence is a fundamental element in the construction of an ethical primacy. Through her narrative, Luísa participates in breaking with the archiving and payment of violence suffered by trans people so that, in the present and future, respect for gender diversity can be promoted. Through her testimony, she shows us ways of confronting violence and creatively constructing the aesthetics of her existence. This is important working material for training processes, and can help break down the processes of abjection and social denigration imposed on people who are dissenters from cisheteronormativity.

Descrição

Idioma

Português

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