Espacializar e temporalizar: a vivência de uma pessoa cega
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Data
2024-08-26
Autores
Orientador
Paulo, Rosa Monteiro
Coorientador
Pós-graduação
Educação Matemática - IGCE
Curso de graduação
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
Tipo
Tese de doutorado
Direito de acesso
Acesso aberto
Resumo
Resumo (português)
Neste texto apresenta-se uma pesquisa de doutorado cujo objetivo é compreender os modos pelos quais uma pessoa cega vivencia a sua espacialidade e sua temporalidade. É uma pesquisa qualitativa de postura fenomenológica, o que significa dizer que o foco é a compreensão do tema que será investigado. Ou seja, não se busca justificar ou dar explicações causais para o que se interroga, mas entender e descrever a vivência junto ao sujeito de pesquisa – uma pessoa cega. A descrição, na pesquisa fenomenológica, é muito importante, pois é através dela que o pesquisador poderá relatar o vivido. Nessa vivência, os dados da pesquisa são constituídos e registrados. No caso desta pesquisa, optamos por gravar os cinco encontros em que se pôde acompanhar a pessoa cega realizando suas atividades em um Centro Educacional que atende pessoas com deficiência visual no horário contrário ao que ela frequenta a escola e, depois, transcrevemo-los para análise. A análise dos dados segue dois momentos: o da análise ideográfica, em que se transcrevem, de forma detalhada, as gravações dos encontros e, após várias leituras para familiarização com o texto, destacam-se trechos que trazem momentos importantes para a compreensão da pergunta da pesquisa. Desses trechos, chamados unidades de significado, explicitam-se ideias nucleares, isto é, o que se interpreta como central em cada um desses trechos. No segundo momento, o da análise nomotética, interroga-se como as ideias nucleares podem ser articuladas segundo convergências e divergências que permitam expor as regiões de generalidade ou categorias abertas. Essas, as categorias abertas, dão ao pesquisador fenomenólogo a possibilidade de expor o que foi compreendido em sua pesquisa. No movimento interpretativo desta pesquisa as convergências levaram-nos a três categorias: o corpo próprio e a experiência do sentir; modos de habitar o espaço e modos de ser. Essas categorias, ao serem discutidas junto com os autores lidos, possibilitam apresentar os modos pelos quais a pessoa cega vivencia sua espacialidade e sua temporalidade, destacando-se a familiaridade com que Alicia movimenta-se pelo Centro, a disponibilidade em fazer atividades que incluem trabalho manual, como expressa desgosto, agrado, dificuldade ou que entendeu a ideia da tarefa. Por fim, concluímos que a espacialidade e a temporalidade são experiências constitutivas que fazem parte essencial do ser e que são constituintes, isto é, que a compreensão do mundo e a dos modos de ser da pre-sença estão profundamente condicionadas por elas, são próprias de todas as pessoas. Compreendendo que a existência é espacial e temporal, pode-se entender que não existem experiências incompletas, que o fato de ser uma pessoa com deficiência visual não restringe sua experiência temporal e espacial, que essa pessoa não está perdendo “muitas coisas” por não enxergar. Focar na pessoa com deficiência possibilita a quebra de paradigmas capacitistas porque a deficiência não define a pessoa. Propusemos a inserção dos resultados na disciplina matemática em salas de aula, já que devemos estar abertos a conhecer quais são as especificidades do aluno com deficiência, ou não.
Resumo (inglês)
This doctoral research delves into the ways a blind individual experiences their spatiality and temporality. Employing a qualitative, phenomenological methodology, the study shifts its focus from explaining causal relationships to understanding and describing the lived experiences of the research subject – a blind individual. In phenomenological research, detailed descriptions are crucial as they form the basis for the researcher's understanding and reporting of the lived experience. Data collection involved recording five encounters where the blind individual was observed engaging in activities at an educational center for visually impaired individuals during their non-school hours. These recordings were then transcribed for analysis. Data analysis followed a two-step process: Ideographic Analysis: Detailed transcriptions of the recordings were created, followed by multiple readings to familiarize the researcher with the text. Significant passages that shed light on the research question were identified. These passages, termed 'meaning units,' were further analyzed to extract core ideas, representing the central themes within each passage. Nomothetic Analysis: This stage involved exploring how the core ideas could be interconnected based on convergences and divergences, leading to the identification of 'open categories' or regions of generality. These open categories provided the phenomenological researcher with the means to articulate their understanding of the research findings. The interpretative process of the research revealed three categories: The Embodied Self and the Experience of Sensing, Modes of Inhabiting Space, Modes of Being Alice. By discussing these categories alongside the consulted literature, the researcher unveils the modes through which the blind person experiences their spatiality and temporality. Notable findings include Alicia's familiarity with navigating the center, her willingness to engage in activities involving manual labor, her expressions of emotions such as dislike, enjoyment, or difficulty, and her understanding of task instructions. Ultimately, the research demonstrates that spatiality and temporality, as constitutive and constituent experiences, are inherent to all individuals. This implies that they form an essential part of being and profoundly shape our understanding of the world and modes of being in the present. By recognizing that existence is spatial and temporal, we can grasp that there are no incomplete experiences. Being blind does not restrict one's temporal and spatial experiences or deprive them of "many things" due to their visual impairment. Focusing on the individual with a disability, placing the person at the forefront, enables the dismantling of ableist paradigms. Disability does not define the person, and we must refrain from labeling individuals with disabilities from the moment their specificities are diagnosed. Instead, we should be open to understanding these specificities without attempting to generalize or create categories that exclude and violate.
Descrição
Idioma
Português