As inundações da memória: o doméstico, o cotidiano e o íntimo na construção do artista

Abstract

O presente trabalho pretende discutir o doméstico, a memória e a família na arte e na formação do artista. Procuro investigar o espaço doméstico – o lar – não apenas como lugar físico, mas também a abstração de tudo que está contido nele, como lembranças e afetos, e como tudo isso é absorvido pelo artista e também o absorve. Nesse sentido, observa-se a criação de uma simbiose que se manifesta como corporização do lugar, e cria memórias imagéticas que são usadas, posteriormente, na formação e trabalho artístico. Também busco compreender como e quando se deu historicamente a passagem de imagens da vida privada para a pública, uma vez que a partir de determinado momento a vida doméstica passou a fazer parte da história da arte, levando-a ao público. Completando essa investigação, abordarei o trabalho de três artistas que trazem de modo explícito questões em torno do doméstico, do familiar e da memória: Wanda Pimentel, artista brasileira, que representa o lar em sua retratação mais objetiva, e faz parte do momento em que a arte feminina e do lar passa a ser vista; Lebohang Kganye, artista sul-africana, que se utiliza de fotografia vernacular, de família, para seus trabalhos; e Louise Bourgeois, artista franco-americana, que traz em suas instalações partes de sua memória afetiva.

The present work aims to discuss the domestic sphere, memory, and family in art and the formation of the artist. I seek to investigate the domestic space – the home – not only as a physical place but also as an abstraction of everything contained within it, such as memories and affections, and how all of this is absorbed by the artist and also absorbs them. In this sense, a symbiosis is observed, manifesting as na embodiment of the place and creating imagetic memories that are later used in artistic formation and work. I also seek to understand how and when the transition from images of private life to public life historically occurred, as, at a certain point, domestic life became part of the history of art, bringing it to the public. For this investigation, I will discuss the work of three artists who have a clear influence from the domestic, family, and memory: Wanda Pimentel, a Brazilian artist who representes the home in its most objective depiction and is part of the moment when feminine and domestic art began to be recognized; Lebohang Kganye, a South African artist who uses vernacular family photography in her art works; and Louise Bourgeois, a Franco-American artist who brings elements of her emotional memory into her installations.