Triagem de retinopatia da prematuridade com câmera retiniana portátil acoplada à um smartphone

Abstract

Introdução: A retinopatia da prematuridade (ROP) é uma doença vaso proliferativa multifatorial e uma das principais causas de cegueira infantil no mundo. O exame fundoscópico seriado identifica a doença, porém, exige profissionais treinados e pode causar estresse nos neonatos. As câmeras de retina são equipamentos de alta tecnologia que auxiliam na triagem da ROP. No entanto, têm alto custo, o que dificulta a sua inserção no Sistema Único de Saúde (SUS). As câmeras retinianas portáteis acopladas em smartphones são dispositivos acessíveis e de baixo custo, com grande potencial de uso na prevenção da cegueira por ROP, especialmente em países em desenvolvimento. Objetivos: avaliar a utilidade da câmera retiniana portátil acoplada a smartphone (Phelcom Eyer®), na triagem e detecção da ROP em olhos de neonatos pré-termos. Casuística e Métodos: estudo transversal, realizado no período de junho de 2022 a dezembro de 2023, com neonatos pré-termos nascidos com idade gestacional (IG) ≤ a 32 semanas e peso ao nascimento (PN) ≤ que 1500 gramas, na Unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (HCFMB). Todos os neonatos foram submetidos à triagem fundoscópica, feita com oftalmoscópio binocular indireto (OBI), entre a 4a e a 6a semanas de vida, segundo as diretrizes brasileiras de triagem da ROP. Após o exame, foram feitas fotos da retina de ambos os olhos com a câmera portátil, com indentação escleral quando necessário. Todas as fotos foram obtidas pelo mesmo examinador. As imagens foram armazenadas na plataforma Eyer Cloud e depois avaliadas por um especialista em retina mascarado, quanto à qualidade da imagem e classificadas quanto à presença da doença e estadiamento. Resultados: Foram incluídos 71 neonatos pré-termo (142 olhos), sendo que 52% eram do gênero feminino. A IG média foi de 30 ± 2,8 semanas e o PN médio foi de 1258 ± 386 gramas. Foram obtidas de cada neonato, em média, 80 imagens de cinco campos: polo posterior, retina temporal, nasal, superior e inferior. O exame foi bem tolerado e demorou em média 24,76 ± 13,8 minutos. Quatorze dos 71 neonatos (19,7%) desenvolveram ROP, oito a ROP não limiar (11,3%) e seis (8,4%) a ROP grave. Três neonatos (seis olhos) foram submetidos à terapia com injeção intravítrea de 0,02 mL (0,25 mg) de ranibizumabe e três (cinco olhos) receberam terapia combinada (laser + ranibizumabe). Foram avaliadas 337 imagens digitais. A qualidade das imagens foi considerada boa em 69,1% e média, em 30,9%. A comparação entre os resultados da classificação feita pelo exame com OBI versus a análise das imagens da câmera portátil, quando não foi utilizada a indentação escleral, evidenciou sensibilidade de 82%, com intervalo de confiança (IC) de 76,2 a 82,7, especificidade de 100% (IC 100), valor preditivo positivo (VPP) de 100% e valor preditivo negativo (VPN) de 96,7%. O teste Kappa foi de 0,94%. A indentação escleral melhorou os valores de sensibilidade (91,3%, IC 86,7 a 91,4), e do VPN (98,3%). Conclusão: A câmera portátil acoplada a smartphone (Phelcom Eyer®) é uma boa ferramenta de triagem de ROP, podendo ser utilizada em teleoftalmologia, especialmente na rede pública de saúde e em locais onde não existem especialistas treinados.

Introduction: Retinopathy of prematurity (ROP) is a multifactorial vasoproliferative disease and one of the main causes of childhood blindness in the world. Serial funduscopic examination identifies the disease; however, it requires trained professionals and can cause stress in newborns. Retinal cameras are high-tech equipment that help screen for ROP. However, they have a high cost, which makes their inclusion in the Unified Health System (SUS) difficult. Portable retinal cameras attached to smartphones are accessible and low-cost devices, with great potential for use in preventing blindness due to ROP, especially in developing countries. Objectives: to evaluate the utility of a portable retinal camera attached to a smartphone (Phelcom Eyer®) in screening and detecting ROP in the eyes of preterm neonates. Sample and Methods: a cross-sectional study, carried out from June 2022 to December 2023, with preterm neonates born with gestational age (GA) ≤ 32 weeks and birth weight (BW) ≤ 1500 grams, in the Unit of neonatal intensive care unit (ICU) at the Clinical Hospital of the Botucatu Medical School (HCFMB). All newborns underwent funduscopic screening, performed with an indirect binocular ophthalmoscope (OBI), between the 4th and 6th weeks of life, according to Brazilian ROP screening guidelines. After the examination, photographs of the retina of both eyes were taken with the portable camera, with scleral indentation when necessary. All photos were taken by the same examiner. Images were stored on the Eyer Cloud platform and then evaluated by a masked retina specialist for image quality and classified for disease presence and staging. Results: 71 preterm neonates (142 eyes) were included, 52% of whom were female. The average GA was 30 ± 2.8 weeks, and the average BW was 1258 ± 386 grams. An average of 80 images were obtained from each neonate in five fields: posterior pole, temporal, nasal, superior, and inferior retina. The exam was well tolerated and took an average of 24.76 ± 13.8 minutes. Fourteen of the 71 neonates (19.7%) developed ROP, eight non-threshold ROP (11.3%), and six (8.4%) severe ROP. Three neonates (six eyes) underwent therapy with an intravitreal injection of 0.02 mL (0.25 mg) of ranibizumab and three (five eyes) received combined therapy (laser + ranibizumab). 337 digital images were evaluated. The quality of the images was considered good in 69.1% and average in 30.9%. The comparison between the results of the classification carried out by the OBI exam versus the analysis of images from the portable camera, when scleral indentation was not used, showed a sensitivity of 82%, with a confidence interval (CI) of 76.2 to 82.7, specificity of 100% (CI 100), positive predictive value (PPV) of 100% and negative predictive value (NPV) of 96.7%. The Kappa test was 0.94%. Scleral indentation improved sensitivity (91.3%, CI 86.7 to 91.4) and NPV (98.3%) values. Conclusions: The portable camera attached to a smartphone (Phelcom Eyer®) is a good ROP screening tool and can be used in teleophthalmology, especially in the public health network and in places where there are no trained specialists.